Cultura

SERRINHA NO TEMPO DOS MEUS AVÓS (1880-1960) 5 - A TERRA E O BOI

O homem se fixou no território de Serrinha graças ao boi e não é à toa que se diz: "Do boi tudo de aproveita" até o berro.
Tasso Franco , da redação em Salvador | 06/10/2025 às 18:58
O boi e o cultivo da terra no tempo dos meus avós
Foto: Seramov

  Creio que a maioria dos meus leitores sabe que existem quatro elementos básicos na composição do planeta que habitamos: a terra, a água, o fogo e o ar. 

Sem eles ninguém conseguiria sobreviver e até hoje não se sabe porque Deus ao criar o Universo privilegiou somente a Terra como habitável uma vez que já são conhecidos outros planetas, mas, até agora em nenhum deles os cientistas descobriram vida como a que temos na Terra.

 Só recentemente, identificaram moléculas orgânicas complexas, essenciais para o desenvolvimento da vida, numa das luas de Saturno, a Enceladus. Após 20 anos de análises de dados da sonda Huygens, da Agência Espacial Europeia, pesquisadores sustentam que matérias orgânicas de um oceano subterrâneo desse satélite propiciam a vida. Lembrando que Saturno tem 274 luas já identificadas. 

 Inicialmente, falaremos da terra.

 Vamos nos ater, no entanto, ao foco do nosso livro que é o tempo em que viveram meus avós em Serrinha (1880-1960) e entender o valor da terra (não o planeta) e sim o solo onde eles e outras famílias habitavam e tiravam o sustento - bem diferenciado dos dias atuais, o município tem economia urbana mais forte do que a rural - ainda que haja algumas semelhantes sobretudo no que é conhecido como áreas ou zonas rurais.

  Sempre questionei em minhas pesquisas sobre o território de Serrinha porque os descendestes de portugueses e os negros fugidios da escravidão da cultura da cana de açúcar do Recôncavo vieram habitar essas paragens tão inóspitas, sem um rio, sem floresta, sem frutas, isso a partir do final do século XVII e com mais intensidade no século XVIII quando foi fundado o povoado, depois de 1723.

  Só há uma resposta para esta justificativa: o boi. 

  O homem veio no rastro do boi na estrada real das boiadas que seguiam para o Nordeste acima a partir da criação de bovinos originários da Ilha de Cabo Verde – colônia portuguesa na África - importados pelo governador geral do Brasil, instalado em Salvador, Tomé de Souza. Algumas cabeças de vacas foram dadas a seu filho ilegítimo Garcia D’Ávila, em pagamento por seu trabalho como feitor e almoxarife da Alfândega. Garcia nunca mais retornou a Portugal. Criou o maior latifúndio do Brasil, a Casa da Torre, e ganhou uma sesmaria do pai que ia de Itapuã a Rio Real.

   Para tanger as boiadas rumo ao Norte surgiram os boiadeiros, os cavalos, as mulas, as vacas, os (as) cachorros (ras), os galos e as galinhas. Esses foram os pioneiros. E no tanger dos bois surgiram os pontos de apoio, as rancharias, os tanques, as casas e o homem foi se estabelecendo nesses sítios como aconteceu no Sitio Serrinha quando Bernardo da Silva ainda morava em Tambuatá. 
                                                                     ***
   Faço um corte para dar uma pequena explicação sobre a terra, a água, o fogo e o ar visando melhor entendimento do nosso texto. 

   Há, na atualidade, várias teorias cientificas sobre esses fenômenos. Mas, a primeira interpretação sistematizada se deu no campo religioso com a bíblia. A bíblia foi o primeiro banco de dados organizado do mundo Oriente-Ocidente, mais Ocidente, uma vez que a Índia e China tinha bancos de dados mais antigos.

  O que se difundiu no Brasil foi a bíblia - livro condensado da história de Israel desde a criação do mundo até a morte do profeta Moisés, século XVIII a.C. (1800 anos) época dos patriarcas até Esdras século V a. C.

  Então, estudiosos (profetas, patriarcas, anciães, etc) compilaram um grupo de rolos com escritas que vão compor os 5 livros da bíblia (Pentateuco) com normas que registram o Velho Testamento. São eles: Genesis, Exodus, Levítico, Números e Deuteronômio.

  O nome hebraico desses 5 livros é Torá – que narra a história da criação do mundo e do povo judeu em Israel, além dos 613 mandamentos que são as leis com procedimentos éticos e morais. 

  A primeira bíblia foi escrita em hebraico que era a língua mais falada na Palestina. Depois, ocorreram edições em aramaico (a língua que Jesus falava) e grego.

  Demorou séculos para se ter um consenso em torno da bíblia diante das fontes primárias oriundas das tribos israelitas javista, eloísta, deuteronomista e sacerdotal. Ainda que perdurassem discordâncias publicou-se uma redação final (a bíblia, Velho Testamento) no século V a. C (ou seja: 500 anos antes do nascimento de Cristo).

  Vocês vejam como isso é complexo que até hoje os judeus, palestinos, árabes de diferentes origens brigam e se matam por lá. 

  Quando o Império Romano dominou a Palestina antes de Cristo e durante a vida de Jesus após a sua morte os apóstolos Pedro, Paulo e demais inspirados nos ensinamentos e sermões de JC implantaram a igreja católica e de uma nova era.

  Os judeus ortodoxos e outros árabes seguem e estudam mais a Torá do que a bíblia cristã. Como advento e crescimento do cristianismo, a bíblia se desdobrou com um banco de dados diferenciado que é o Novo Testamento, escrito 70 a 100 anos após a morte de Jesus e formatado, em definitivo, pelo bispo de Alexandria, Atanásio, 367 d.C. com cânone definido pelo Concilio de Ipona, 393 d.C.

  Yuval Noah Harari, em “Nexus” – uma breve história das redes de informação, da Idade da Pedra a inteligência artificial – cont que ao surgir o cristianismo no século I depois de Cristo, não era uma religião unificada “e sim uma variedade de movimentos judaicos que não tinham muito concordância entre si, a não ser que todos eles viam Jesus Cristo, como autoridade última sobre a palavra de Jeová”.

   Ou seja, JC não era visto como uma autoridade rabínica e os cristãos aceitavam os textos de Gênesis, Samuel e Isaias (Pentateuco) mas afirmavam que os rabinos entendiam mal esses textos.

  Surgiram com o decorrer dos anos escritos dos quatro evangélicos – Mateus, Marcos, Lucas e João – descrevendo os ensinamentos de Jesus e uma visão da criação do mundo até apocalipse. Daí surgiram outros textos – Evangelho de Maria, da Verdade, de Pedro, etc – e após encontros de padres, bispos e teólogos e edita-se o Novo Testamento.

  Segundo Harari, “assim como a maioria dos judeus esqueceu que o Antigo Testamento teve a curadoria de rabinos, da mesma forma e maneira a maioria dos cristãos teve a curadoria de concílios da igreja e passou a vê-los como a palavra infalível de Deus”.

   É provável que você já tenha ouvido falar que a bíblia (as duas) é um livro sagrado ditado por Deus, quando em verdade, foi escrito pelos homens.
                                                                  ***
   Então voltando ao que nos interessa no tempo dos meus avós no interior da Bahia (1880-1960) esses dados eram (e ainda são) importantes de entender porque, a crença da população de Serrinha, naquela época, estava ligada aos conceitos bíblicos praticamente sem contestações. 

   Ou seja: ”No princípio, Deus criou o céu e a terra” (Gênesis 1.1) e meus avós e os demais acreditam nisso piamente.

  Os detalhes da narrativa bíblica eram simples e as pessoas aceitavam numa boa, sem contestações, mas, ao mesmo tempo desconfiadas e alguns, eram descrentes.

  A maioria, no entanto, não se interessava em saber que durante a criação do Universo, a “terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam o Oceano” (Gênesis 1.3) e Deus determinou “Faça-se luz e a luz se fez” (Gênesis 1.4) isso no primeiro dia da criação surgindo o dia e a noite.

  Foram 7 dias de ação de Deus quando ELE deu por concluída a obra e descansou. Nesse tempo criou o homem à sua imagem (a imagem de Deus o criou macho e fêmea () e disse sede fecundos multiplicai-vos (Gênesis 1.27.28). E implantou um jardim em Éden e quatro braços (rios) Fison, Geon, Tigre e Eufrates. Daí colocou o homem formado do pó da terra, “soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem se tornou ser vivo” (Genesis 2.7) surgiram Adão, Eva (da costela de Adão), Caim, Abel, Noé, etc,. etc, até os dias atuais e já somos 8 bilhões de humanos na terra.

  Quando digo que meus avós não queriam saber desses detalhes nem os outros habitantes de Serrinha – salvo os estudiosos da bíblia, os crentes – porque eram dados muitos complexos e não havia quem fornecesse explicações científicas sobre esse tema. Os religiosos locais tinham uma visão pragmática de que, tudo foi Deus quem fez e pronto. Todos (em tese) tinham que aceitar. 

  Uma das questões que os moradores ficavam sem entender, por exemplo, foi por que Deus não colocou um rio em Serrinha? Uma outra era porque não existiam no território os bichos citados na narrativa do dilúvio e da arca de Noé. Isto é, por que não tínhamos camelôs, elefantes, leões, jacarés e outros?
                                                                 ***
  Mesmo assim, os desbravadores dos sertões do tempo anterior aos meus avós e na época deles, a terra era vista (não se discutia o conceito de planeta) como um local de sobrevivência e precisava ser cuidada, arada, domada, plantada, molhada, para garantir a vida dos humanos, dos bois, vacas e outros animais.

  Nisso, estavam antenados com o propósito de Deus desde o tempo do profeta Abrahão, de que a terra era o local de morada, o mundo carnal, em consonância com a interpretação dada no Pentateuco.

   Algumas pessoas não descuidavam do mundo espiritual ficando o domingo reservado para isso (orar, ir as igrejas, ler a bíblia, recitar salmos, se batizar, comungar, etc), e os outros 6 dias da semana – tal como Deus – eram de trabalho. 

  Muito trabalho porque domar a terra no semiárido, num local que chove pouco, durante longos anos na base da pá, picareta e enxada, arados puxados por parelhas de burros ou bois, não era fácil; até que chegaram os tratores, as máquinas agrícolas e a situação foi se modificando.

  O homem, no entanto, é indomável. Resistiu. E foram chegando e nascendo mais bois, surgiram os cavalos, mulas, bodes, carneiros e outros animais.

   É bom lembrar que todos esses bichos foram trazidos para o Brasil de fora: o boi da ilha de Cabo Verde; o cavalo Martin Afonso de Souza importou da ilha da Madeira (Portugal) para Capitania de São Vicente (e Tomé de Souza trouxe para a Bahia, assim como importou burros e mulas do sul do país e galinhas/galo da Ásia, caprinos, etc).

  Ou seja, a Bahia não tinha nada. Os nativos tupinambás eram paupérrimos, viviam da caça artesanal e da pesca, e esses animais se adaptaram ao clima tropical do Brasil e se espalharam pelos sertões no rastro do boi e o povoado da Serrinha se tornou uma vila agropecuária, paralelamente, prosperando o comércio, os serviços, implantando-se ruas e praças, e no momento em que ganhou status de cidade (1891) havia uma gama de lojas: tecidos, ferragens, armarinhos, calçados, etc; e serviços – barbeiros, ferreiros, artesão, funileiros, vendedores, etc.

  O básico, no entanto, vinha da terra. O forte na economia também vinha da terra: sisal, fumo, cereais, carne de charque, e houve um tempo em que na gare do trem descia para Salvador para exportação fardos de sisal, de carne de charque, de fumo e sacas de feijão.
                                                               ****
   E foi acontecendo uma simbiose e dou como exemplo meus avós que eram da terra, puros-sangues da terra, produtores em nível médio de leite, carne de boi e criação de ovelhas, para ingressarem no comércio e isso aconteceu com muitos produtores rurais.    

  Meu avô materno passou a comercializar café em grãos e torrado (Café Cruzeiro), um produto que não existia em Serrinha e vinda do Porto de Santos (SP) para o Porto de Salvador e depois para o sertão pelo trem (veja que esse trem tem uma importância fantástica); e meu avô paterno com um fabrico de produtores derivados da jurubeba.
 
                                                             ****
  Nessa empreitada o cavalo e seus parentes – égua, mula, burro jumento (a) – tiveram papéis relevantes.   
  O cavalo é um dos animais mais antigos do mundo e já era utilizado a 4.500 a.C. puxando carroças. Em Portugal, desde o século III a.C. os lusos já utilizam os cavalos como utilitário e como “máquina” de guerra.
  Quando os árabes invadiram a Península Ibérica sob o comando de Tariq Ibne Ziyad os guerreiros árabes se valeram da cavalaria para dominar Espanha e Portugal. 

   Ficaram 522 anos (período Al Andaluz de 711 a 1263) e houve uma miscigenação geral de homens e animais. E o cavalo árabe (berbere) misturou com o puro sangue lusitano e foi esse mestiço (lusitano + árabe) que chegou ao Brasil.

   Quando houve a libertação de Portugal e instalação do reino com Afonso Henrique o Brasil não existia como colônia portuguesa o que só vai acontecer 400 anos depois (1500) e 34 depois, o cavalo já estava presente em São Vicente, SP, e 50 anos depois da descoberta, na Bahia, de Tomé de Souza. 

  Só chegou em Serrinha, 190 anos depois de Cabral, provavelmente entre os governos provinciais de Conde dos Óbidos e João de Lancastre.

  No tempo dos meus avós, se o boi era o animal de sustentação, de negócios, do boi de tirava tudo em renda, e os cereais eram a outra fonte de renda no campo - feijão, milho, mandioca, batata, etc – o cavalo (burros e mulas) eram os utilitários. 

  Sabem qual o utilitário mais vendido no Brasil, hoje?

  O Fiat Strada e o Honda HR-V Suv. 

  Pois bem, no tempo dos meus avós, os utilitários mais vendidos eram os cavalos, as éguas, os jumentos, os burros e as mulas. Tinha até estacionamento de cavalos. Ninguém montava em boi. Os rurais vinham para a feira livre aos sábados na praça principal para venderem produtos que produziam nas fazendas, roças e sítios e comprar mantimentos – sal, fubá, café, etc – e estacionavam seus utilitários (cavalos, burros, jegues, etc) em estacionamento para animais. 

  Deixavam os animais amarrados nesses estacionamentos e os proprietários lhes estregavam um papel com um número e um outro papel com número idêntico era afixado na capa da sela. Quanto a pessoa retornava das compras com alforjes cheios entregavam o papel com o número e recolhiam o animal voltando para sua roça.
                                                            ***
  Tudo o que se produzia e comia vinha da terra. A alimentação básica de todos era feijão, carne (de boi ou carneiro), farinha, verduras e eventualmente salada e arroz; e no café da manhã, leite, café com leite e batata doce e/ou aipim, com frequência na zona urbana pão de sal ou de milho; e a noite sopa e uma xícara de café com leite. 

   Não havia o hábito de merendar nem havia merenda escolar. Criança que quisesse levasse alguma fruta na merendeira. 

   O uso do peixe e/ou bacalhau só acontecia na semana santa e frios e enlatados eram pouquíssimos. Tudo era produzido no dia a dia em frituras com toucinho de porco ou cozidos. Os cozidos de verdura e carne eram servidos sempre aos sábados pelas famílias. As massas também passaram a ser frequentes nas décadas depois anos 1940 e os chourições caseiros eram bem apreciados e vendidos no mercado municipal.

  A feira livre no período do inverno era de uma fartura enorme e no verão vendia-se muitos produtos nativos como umbu, cajá, manga e caju. Ninguém morria de fome, mesmo as pessoas mais pobres que se abasteciam de produtos mais baratos do boi como os miúdos e os fatos.
 
  As galinhas também eram consumidas mais no modelo em que se comprava a galinha com penas, matava-se, escaldava-se, despenava-se, tratava-se e fazia-se cozidos. As empregadas domésticas e as donas de casa detestavam matar galinhas, pelo trabalho que dava. Senhoras colocavam bancas de venda de pedaços de galinha assada na balaustrada da gare do trem para à venda. 

  Matar um peru (ou perua) na época do Natal e do Ano Novo era uma novela. É quando apareciam à venda nas feiras. Se escaldar uma galinha e retirar as penas na mão já dava trabalho com peru (a) era ainda mais chato. Depois de todo limpo e recheado com farofa e grãos o peru era assado na trempe. Assava-se também porcos de tamanho médio inteiros nas trempes de ferro, mas só em momentos de festa.
                                                                  ***
  O certo é que tudo vinha da terra e a combinação vaca/leite + galinha/ovos era uma benção porque daí eram produzidos uma infinidade de produtos de comer gostosos - bolos, lelês, pamonhas, canjicas, fritadas, doces de leite e outros, numa fartura incrível. Minha avó paterna e minha mãe faziam um doce de lei de dar água na boca. 

  Ninguém fazia regime de nada e nunca ouvi meus pais e meus avós falando em dieta e comia-se de tudo, evidente, com alguma moderação, mas, nas épocas dos festejos da Semana Santa, São João, São Pedro, festa de Sant’Anna, Primavera e Natal era liberado. No Natal, na feira do jogo de dados da Luís Nogueira vendia-se cestinhas de castanha de caju assada com recheios que era uma coisa dos deuses.

  Meus avós atravessaram duas guerras mundiais a Iª (1914/118) e a IIª (19139/1945), ambas na Europa, mas com repercussões mundiais. Eles e as demais famílias, não tiveram problemas: não houve alterações no comércio dos bois, cereais, e produtos das feiras livres. E a gripe espanhola (1918) que matou milhões não chegou a Serrinha.
                                                             ***
  Uma movimentação importante na terra aconteceu no governo Getúlio Vargas quando se abriu uma estrada (Transnordestina) cortando o Brasil e Norte a Sul, do Ceará ao Rio Grande do Sul e passou por Serrinha. 

  Na primeira grande movimentação da terra com implantação da Estrada de Ferro meus avós ainda não tinham nascido quando começou o trajeto Alagoinhas a Serrinha (1860) e quando inaugurou (1880) eram pequenos e jovens. Ademais, a estrada de ferro bordejava a vila pela zona Sul fora do perímetro urbano. 

  A Transnordestina, a partir de 1932, mudou não só a vida deles como a da cidade, e de muitas pessoas, uma vez que cortou a zona urbana habitada no eixo Leste-Oeste passando pelo centro e vindo de Feira por Santa Bárbara, Matão, entorno do campo de aviação, atual Avenida ACM, praça Luís Nogueira e subia pela Manoel Novaes em direção ao Norte, por pouco não derrubando a casa dos meus avós maternos (onde está hoje a DEP Vip e o Banco do Brasil), cortando a área do Largo da Federação (onde meu avô tinha o armazém de café) e bordejando o sitio de meu avô paterno (onde hoje é o ponto do Araci).

  Quando digo que mudou a vida deles e dos demais é porque essas áreas ficaram mais valorizadas e a estrada trouxe para Serrinha o incremento do uso do transporte rodoviário. Se a cidade já tinha alguns carros Ford de bigode, dos coronéis, a partir da abertura da Transnordestina caminhões cortavam o país e deu-se uma revolução com a chegada das jeeps, caminhonetes e caminhões.

  Meus avós, no entanto, ao falecerem na década de 1950 e início dos 1960 não usufruíram dessa tecnologia e não tiveram veículos, a Serrinha, a essa altura – anos 1950 – já tinha os jeeps Willys de praça e, aos poucos, ano após ano, os cavalos (em parte) foram sendo substituídos pelas caminhonetes e motos. 

  Ainda nos dias atuais, a terra segue como soberana, onde tudo se planta e se cria; e o boi o rei do pedaço.