Confira a programação dia 3 de maio e veja como participar
Tasso Franco , Salvador |
26/04/2025 às 20:42
Mãe Stella de Oxóssi
Foto: Antonello Veneri
Em reverência ao legado espiritual, intelectual e político de Mãe Stella de Oxóssi (1925–2018), um grupo de amigos de Mãe Stella se juntou para celebrar o centenário de nascimento da ialorixá, com duas ações especiais em Salvador: Cartas para Mãe Stella, um seminário no Ilê Axé Iyá Nassô Oká – Terreiro da Casa Branca, no dia 03/05, a partir das 10h, reunindo reflexões sobre sua produção literária e o concerto Odé Nfè em parceria com a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBa), no Cine Solar Boa Vista, no dia 04/05, às 11h, com participação da cantora Irma Ferreira e de alabês de importantes terreiros de candomblé da Bahia, como Adriano Azevedo - Obá Abiodun do Asé Opô Afonjá, Baloiá do Axé Asiwaju e Ojé Abibaewê do Babá Adebolá, Antonio Marques dos Santos - Ogã de Oxum do Ilê Axé Iyá Nassô Oká, Valmir Christiano de Mattos Filho, o Walmizinho - Ogâ de Omolu do Ilê Axé Iyá Nassô Oká e Ueslei dos Santos Cruz, o Totó, Ogã Otun Alagbê do Terreiro Pilão de Prata.
O grupo de amigos - que se juntou a partir da iniciativa da escritora Cléo Agbeni Martins e da produtora cultural Iasnaia Lima - se soma às demais ações organizadas em torno da figura da ialorixá, mas partindo de um espaço de intimidade. “O que a gente queria com essa celebração é fugir da institucionalização e lembrar de Mãe Stella, a partir desse lugar de afeto, alegria e amizade. Uma vida tão atuante, em tantas frentes, atraiu a mesma variedade de pessoas e é um pouco desse recorte que a gente conseguiu juntar, dando destaque, logicamente, às pessoas que além de amizade, tinham com ela uma afinidade de valores e comungavam de sua tradição espiritual”, afirma Iasnaia.
Para elaboração dos dois eventos, Iasnaia procurou Cléo Agbeni Martins, que é filha de santo de Mãe Stella e com ela produziu ações relevantes no campo artístico, político e cultural. A Agbeni Xango do Ilê Axé Opô Afonjá e ialorixá do Ilê Axé Asiwaju, fez a curadoria das canções litúrgicas que serão apresentadas pela Orquestra, como também convidou cada um dos participantes das mesas do seminário Cartas para Mãe Stella, que será realizado no dia 03 de maio, no Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho.
“Quando convidada, ingressei de cabeça, depois de Iasnaia me dizer que é de Oxóssi, meu pai. Como filha espiritual e amiga de Mãe Stella, me senti vocacionada a arregaçar as mangas e convidar pessoas também afetivamente importantes para minha Mãe Stella.”, revela a Ialorixá e escritora, autora de 18 livros, sendo dois em parceria com Mãe Stella e do livro "O tempo de Xangô é agora e para Sempre ", lançado pela Metanoia, como homenagem póstuma à Mãe Stella.
A programação se estende por dois dias, 03 e 04 de maio e convida o público a vivenciar experiências marcadas pela alegria, memória, amizade e conhecimento partilhado, a partir do encontro entre música, literatura e tradição religiosa, reafirmando o lugar de Mãe Stella como referência da cultura brasileira.
Cartas para Mãe Stella, seminário no Terreiro da Casa Branca, dia 03/05, à partir das 10h
O seminário, realizado no Terreiro da Casa Branca, traz para o centro da roda temas como o papel de Mãe Stella como escritora, líder religiosa, intelectual e figura pública. A programação contempla mesas de diálogo, partilhas de saberes e uma apresentação lítero musical do duo Letra e Canção, formadas pelo poeta Zé Maurício e o violonista Betho Wilson, promovendo o encontro entre gerações, casas de axé, estudiosos e a comunidade em geral.
Para o evento foram convidados figuras importantes do candomblé e vida cultural baiana como Babalorişa Air José Bangbose (Terreiro Pilão de Prata), Vera Felicidade Campos (autora do livro "Mãe Stella de Oxossi, perfil de uma liderança religiosa" e Onikowe do Ilê Axé Opô Afonjá), Luis Carlos Austregésilo Barbosa (Iperilodé do Ilê Axé Opô Afonjá, Osibaloyá do Ilê Axé Asiwaju, Ojé Iroju do Babá Adebola, Psiquiatra e Mestre em Saúde Comunitária), Roberto Olugbenirá Rodrigues (Ogã de Oyá do Ilê Axé Opô Afonjá e Otum Baloyá do Ilê Axè Asywaju), a escritora Aninha Franco, dentre outros nomes ligados à Casa Branca como Antonio Luís Figueiredo, Obassanhá do terreiro.
O evento é gratuito e aberto à comunidade.
Odé Nfè: Concerto para Mãe Stella de Oxóssi
Ainda como parte das celebrações, a Orquestra Sinfônica da Bahia se junta a esse coletivo de amigos de Mãe Stella e oferece um concerto para Mãe Stella, o Odé Nfè (O Caçador desejou!), a ser realizado no dia 04/05, às 11h, no teatro Solar Boa Vista. “Mãe Stella foi um símbolo de sabedoria, resistência e diálogo. Homenageá-la com música é uma forma de reconhecer a força cultural e espiritual que ela representa pra Bahia e pro Brasil. É também um passo importante da orquestra no sentido de afirmar seu compromisso com as raízes e com a pluralidade da nossa identidade.”, afirma Carlos Prazeres, maestro e responsável pela direção artística da Orquestra.
Nessa apresentação, a OSBA acolhe os atabaques dos terreiros e conta com a participação especial de Irma Ferreira - soprano e pesquisadora das musicalidades afro-brasileiras - que, segundo Carlos, funciona como uma ponte viva entre o terreiro, o palco e a universidade: “Ter ela conosco neste concerto é ter um elo legítimo, sensível e profundo entre mundos tão diferentes e complementares.”, sentencia. Além de Irma, o toque dos candomblés será ecoado através dos alabês Adriano Azevedo (Obá Abiodun do Asé Opô Afonjá, Baloiá do Axé Asiwaju e Ojé Abibaewê do Babá Adebolá), Antonio Marques dos Santos (Ogã de Oxum do Ilê Axé Iyá Nassô Oká) e Valmir Christiano de Mattos Filho, o Walmizinho (Ogâ de Omolu do Ilê Axé Iyá Nassô Oká) e Ueslei dos Santos Cruz, o Totó, Ogã Otun Alagbê do Terreiro Pilão de Prata.
O repertório traz cantigas litúrgicas do candomblé, sob a assessoria delicada de Cléo Agbeni Martins, já para a seleção do repertório orquestral, Carlos Prazeres revela: “Escolhemos a via do respeito. Pensamos em peças que criassem espaços de escuta, de reverência, de contemplação. Obras que dialogassem com o sagrado traçando um paralelo entre dois mundos tão distintos e complementares.”. E assim, foram selecionadas obras de autores baianos negros como “Abertura Nº 6”, de Damião Barbosa de Araújo (1778–1856); e “As Belas Bahianas: Quadrilha de Contradanças”, de Domingos da Rocha Mussurunga (1807– 1856), além de “Ritual, Op.103” e “Alá (O manto branco de Oxalá na Festa do Bonfim)”, dos também baianos Lindembergue Cardoso e Paulos Costa Lima, respectivamente.
A canção-poesia de Ederaldo Gentil, “O Ouro e a Madeira”, chamada de “minha música” por Mãe Stella, encerrará a apresentação que, ainda segundo o maestro, pode significar o ponto de partida de um caminho de aproximação entre a tradição religiosa do candomblé e a música de concerto: “A música de concerto precisa sair do pedestal e aprender a ouvir outras formas de expressão. Esse evento é só o início de uma caminhada que pode — e deve — ser mais constante, mais próxima e mais respeitosa com os saberes afro-brasileiros.”.
Odè Nfé, concerto em homenagem à Mãe Stella, será realizado no Teatro Solar Boa Vista e terá ingressos vendidos à R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia), a partir da terça-feira, dia 29 de abril.