Feijoada deliciosa com produtos de primeira qualidade e que tem a cara da Avenida 7 chique
Tasso Franco , Salvador |
15/01/2025 às 19:47
Feijoada deliciosa
Foto: BJÁ
Quando falei das baianas do acarajé no capítulo 30 comentei que a Avenida Sete tem mais de 30 restaurantes de todos os tipos e preços e não há nenhum exagero nessa afirmativa. Se apurar mais anotando os “abaixadinhos” e “escondidinhos” são até mais.
Outro dia, salvo engano numa segunda de São Leão Magno deparei-me com um local no “Beco das Frutas e Verduras” - extensão da Sete - diante de um local que vende moqueca de miolo, o que é raro, e eventualmente comia no Porto Moreira, Mocambinho - outra extensão dessa via - restaurante de filhos de portugueses que já fechou suas portas.
Ora, pois, meus adoráveis leitores e leitoras, o remediado também tem seu dia de Luís XIV, da França, rei Sol, e com sua permissão para que o astro magno brilhe para todos, yo, que adotei o heterônimo de Dom Franquito para escrever crônicas relacionadas à “Boa Mesa” para o BahiaJá, estive com a madame Bião de Jesus no Sette, restaurante chique da Ladeira da Barra, para apreciar a feijoada da casa.
Feijoada baiana com feijão mulatinho, típica, diferente da carioca e da mineira, com os temperos da herança d’África, a laranja do Cabula e o torresmo crocante do baé.
Pena que não esteja mais nos meus tempos de Seleta a mineira do Tonho Eustáquio, conhecido como “o rei da cachaça” ou da Tequila de José Cuervo porque o que mereceria, de vero, para degustar o torresminho era a bendita branquinha ou a marronzinha, cor mel.
Mas, paciência, a vida como ela é. Raul Seixas, lá atrás, já dizia que, quem não tem colírio usa óculos escuros e como ainda estou querendo passar mais uns dias no planeta Terra, saboreei o torresminho com uma corona sem álcool, o que, convenhamos, trata-se de um pecado capita. Melhor, talvez fosse alcançar Alfa Xis 6 o Metaverso que irei habitar em breve, antecipando-me e degustando uma Saliboa.
A madame Bião, no entanto, é vigilante e reprime meus desejos, controla, mede minha pressão e temperatura, portanto, contentei-me com a Corona insossa enquanto ela se distraia com uma caipirosca de maracujá, uma delícia, segundo sua avaliação.
Desculpei-me dizendo que maracujá me dá sono e não queria dormir no balcão do Sette onde nos sentamos na inicial à espera de uma mesa e depois fomos alojados, bem, numa área com visibilidade.
Aliás, era o que eu queria, pois, vestindo uma camisa florida que ganhei da professora no Natal, belíssima, a moça que controlava a reserva dos clientes do Sette aproximou-se de mim e falou:
- Moço, moço, a etiqueta da loja ainda está presa na camisa do lado de fora.
- Como! como! fiquei um tanto admirado sendo socorrido pela madame Bião que a retirou, rapidamente, agradecendo a jovem recepcionista pelo aviso.
- Oh! Que pena – disse eu – estava me deixando ainda mais charmoso.
Então, já acomodados e usando as pulseirinhas que permitiam o acesso a feijoada perguntei a jovem garçonete se já poderia avançar em toque de infantaria e ela assentiu adoçando um pouco mais a caipirosca de maracujá a pedido da madame enquanto yo bebia um gole da Corona chuchu.
Também perguntei a atenciosa garçonete se, em gostando do feijão, poderia levar um pouco para casa e ela, educadamente, respondeu:
- Pode comer à vontade e levar as panelas para sua casa se assim quiser, sorriu.
- Deixe de conversa fiada e vá fazer uma tira-gosto para nós com os torresminhos, advertiu-me a madame Bião.
Ora, pois, assim ouvi dessa maneira o avançar infantaria e dirige-me ao buffet providenciando os torresmos, um pouco da farofa e vinagrete, rodelas de laranjas e fiapos de carne e retornei à mesa, me queixando que não achei um pé de porco que tanto gosto.
- Você não está no Mercado Modelo nem nas tendas de comidas de São Joaquim, se contente com o que há – acautelo-me a señora em tela, dando tratos aos torresmos e sorvendo a ‘maracujárosca’ – nem sei se o nome é esse mesmo – e até fazendo umas fotos.
Inquiri: - Que fazes?
- Vou mandar fotos para minha irmã que ela adora torresmos e você sabe disso.
- Ah! A professora – a mesma que me deu a camisa – é fã de torresmo e puro malte.
O Sette estava lotado e com fila de espera para saborear o feijão nosso de cada dia. Uma parte do salão - justamente aquele que dá a vista na Baía de Todos os Santos em frente a área do Yatch Club onde não há prédios - estava reservada e ocupada para convidados de um casamento, com tim-tins de taças e petiscos, decoração primorosa e tudo mais de um matrimônio.
Como não ando com pressa nem correndo da Polícia também saboreei os torresmos com calma, a cada um deles dando o meu pitaco: “este tá crocante”, “este tá com muita gordura”, “este tá parecendo um tatuzinho” e fiz até uma experiência apimentando um deles, chuvisquei com farofa e zás, abençoei e depois chupei a rodela de laranja.
A vida é assim: quem não pode tomar uma José Cuervo Blue Agave e depois a ajustar um limão na goela se contenta com Corona sem álcool. Creio que la señora Bião se deu melhor tanto que, mais adiante, substituiu a “maracujárosca” por uma “limãoroska”, esta sim, a brasileiríssima caipirinha.
O Sette – como qualquer outro restaurante que se preze – tem horário para manter o buffet em funcionamento e como estávamos nos aproximando das 15hs e o momento do “chef” recolher as panelas não para minha casa e sim para a cozinha, se aproximava, pois, o sino de encerramento era às 16h, decidimos fazer nossos pratos principais.
Nessa hora, como sabemos, as barrigas já avisaram que estão famintas e caprichei na escolha das carnes, feijão, farofa, pouco arroz, bastante couve, laranja e molhos a vinagrete e de pimenta.
A madame foi mais discreta e voltamos à mesa como se estivemos no campo de batalha de Pirajá ou no campo de Tereza, em Munique.
Diria, meu distinto leitor; minha sapeca leitora que ainda tivemos tempo de sobra para um repeteco, até que o “chef” recolheu as panelas e nós nos recolhemos ao glorioso Morro do Gato. Portanto, sem precisar dizer dizendo, a feijoada do Sette é saborosa. Diferente das populares dos mercados da cidade da Bahia. Aliás, a melhor feijoada de Salvador é como o acarajé. Cada qual tem a sua (e o seu) preferido, e não vou meter meu bedelho nessa casa de maribundos.
Assim, repito, é a Avenida Sete, onde em frente ao Sette está o Veleiro, dois chiques da via; e mais adiante, na Sete comercial estão os populares Abaixadinho e Savoy este último neste 2025 completando 50 anos de existência, o que se alinha com a história dos galegos espanhóis que chegaram a Salvador na época do fascismo franquista (década de 1930), outros que vieram pós II Guerra Mundial que empobreceu a Europa (décadas de 1940/1950) e daqui nunca mais saíram e estão, até hoje, nas terceiras e quartas gerações.