Cultura

TELECINE EXIBIU "O GRANDE DITADOR" POR CHARLES CHAPLIN SÁTIRA A HITLER

Filme sonoro e considerado a obra prima de Charles Chaplin
Seap Ocnarf ,  Salvador | 26/12/2024 às 17:54
Uma das cenas mais brilhantes do cinema mundial: o ditador dominando o mundo
Foto: rep
    O Telecine Cult exibiu ontem, à noite, a sátira a Adolf Hitler intitulada "O Grande Ditador", obra de Charles Chaplin, produtor, roteirista e ator principal. Lançado em 1940, a sátira termina com o discurso contra a opressão e a ditadura que entusiasmou o Mundo livre. Da obra de Chaplin é o primeiro filme falado, com interpretações em textos e falas dos atores.

   O riteiro: Em Novembro de 1918, I Guerra Mundial, no meio de um exército derrotado um soldado, que em tempo de paz era proprietário de uma barbearia, perde a memória e vai parar a um asilo. 

   O Mundo evolui de convulsão em convulsão até que surge um ditador, Adenoid Hynkel, que podia ser irmão gémeo do barbeiro. Este sai do asilo e regressa à sua barbearia, envolvendo-se, desde logo, num confronto com os arruaceiros de Hynkel. 

  O ditador prepara a invasão de Osterlich, um país vizinho, e tenta arranjar um empréstimo junto de banqueiros judeus. Perante a recusa destes Hynkel reprime violentamente a comunidade judaica e o barbeiro vai parar a um campo de concentração. Hynkel invade Osterlich, depois de resolver as divergências com outro ditador interessado na mesma invasão, enquanto o barbeiro foge do campo de concentração. 

  Devido às suas semelhanças com o ditador o barbeiro acaba por ser tomado por Hynkel e faz um discurso memorável denunciando a tirania.

   "O Grande Ditador" é considerada a obra mais relevante de Charlie Chaplin. Rodado em segredo, Chaplin (então no auge da sua fama), resistiu a todas as pressões e ameaças, e levou a sua avante. Em Outubro de 1940, pouco mais de um ano após a invasão da Polónia e o início da 2ª Guerra Mundial, estreava-se na América "O Grande Ditador", a mais delirante, comovente e corajosa sátira a Hitler, ao seu regime tirânico e às suas sinistras ideias políticas. 

   Tudo isto combinado com a história do insignificante barbeiro judeu que, devido às suas semelhanças com o ditador, acaba por tomar o seu lugar e por o denunciar publicamente no discurso final que comoveu o Mundo livre. 

     Chaplin, visionário e consciente do que poderia vir, lançou esse filme com um conteúdo extremamente crítico, ainda que haja também uma boa dose de humor. A obra é uma clara crítica ao regime nazista e seu principal elemento, Adolf Hitler. Entretanto, também há uma participação de um satírico Mussolini, no filme retratado como Benzino Napaloni. 

   A trama inicia-se em 1918, por ocasião da Primeira Grande Guerra quando um soldado alemão, de ascendência judaica, salva um aviador e, durante o resgaste, sofre um acidente que o mantém em amnésia por 20 anos. 

   Quando sai do hospital, o ex-soldado não tem sua memória ainda recuperada e na loja dele (ele é um barbeiro de profissão) encontra uma realidade dominada por um regime ditatorial que prega a segregação dos judeus. O barbeiro conhece uma mulher que o acompanha durante toda a trama, a bela Hannah (esposa de Chaplin à época). Hannah é a força que não se curva diante dos perseguidores, uma mulher com coragem e dignidade suficientes para afrontar um poder contra o qual ela não tem chances. 

  Na condição de judeus, o barbeiro, Hannah e todos os moradores do Ghetto são perseguidos pelos soldados da Dupla Cruz.

   A tentativa de retomar sua rotina não dá certo, pois o barbeiro é sempre perseguido pelos soldados que ganham fúria quando o judeu reage às suas agressões. Finalmente, a violência culmina com a tentativa de assassinato (enforcamento em praça pública) do barbeiro, que é salvo por aquele a quem ele ajudou muitos anos atrás. Agora na condição de Comandante, Schultz, o aviador, declara que não deverão mais ocorrer agressões aos moradores do Ghetto.

A paz dura pouco e a trama acaba recaindo não só na perseguição ainda mais violenta aos judeus como também na decisão de invadir um país. De forma caricata, porém coerente, Chaplin mostra um homem atormentado pelo poder e pelas pessoas que o influenciam. Tal como Hitler, Heynkel é um indivíduo que faz do poder uma arma com a qual suas aspirações e loucuras são impostas. 

   O filme de Chaplin tem um ponto bastante positivo: a não-caracterização dos judeus como pessoas que valorizam mais o dinheiro que a própria individualidade. Sem esses estereótipos, ficou  simples sentir uma pequena parcela do sofrimento desse povo, dessas pessoas. Mais do que um povo perseguido, eles são retratados como pessoas que tem sua individualidade, seus defeitos e predicados, humanos como quaisquer outros. A mensagem final é de tolerância e respeito pelas diferenças culturais e raciais.

A presença de judeus fugitivos em porões lembram a opressão sofrida pela jovem Anne Frank, porém é bom ater-se ao fato de que o filme é anterior à descoberta do diário.
Os ministros Garbitsch (Henry Daniell) e Herring (Billy Gilbert) são as versões, respectivamente, de Joseph Goebells e Hermann Goering. Schultz representa os alemães que não concordam com a doutrina excludente, opressiva e mortal de Hitler.

A cena onde Hynkel brinca com um globo terrestre ilustra brilhantemente a sede de poder de um ditador no nível do nazista.