Cultura

A ALMA DA SENHORA AVENIDA SETE,CAP 4:PRAÇA DA ACLAMAÇÃO E CAMPO GRANDE

O bispo Pero (Pedro) Sardinha - hoje, esquecido - foi responsável por dar nome ao Campo de São Pedro e ao Forte de São Pedro, no Campo Grande
Tasso Franco , Salvador | 23/05/2024 às 08:22
Palácio da Aclamação fechado e com promessa de ser Centro Cultural BB
Foto: BJÁ

    O bispo Pero (Pedro) Fernandes Sardinha chegou em Salvador para assumir a Diocese da Bahia em 22 de junho de 1522. Era um português de Setúbal formado em teologia e filosofia na Universidade de Paris e veio com a missão definida pelo papa Júlio III (criador da Diocese em 28 de janeiro de 1551) de ser o representante oficial da Igreja Católica no Novo Mundo Português.

    Aqui já estavam Manoel da Nóbrega, chefe da missão jesuítica (Ordem religiosa Companhia de Jesus) , 3 padres - João de Azpicuelta Navarro, Antônio Pires e Leonardo Nunes - abarabêbê (padre voador), pois, andava rápido; e dois irmãos Vicente Rodrigues e Diogo Jácome - integrantes da missão que chegaram com o fundador da cidade, Thomé de Souza, em 29 de março de 1549. Souza o recebeu com regozijo e instalou-o numa edificação nas proximidades da Sé de Palha, onde moravam os jesuítas. Posteriormente, já no início do século XVIII, foi construído o Palácio Arquiepiscopal ao lado da Sé Primacial (Arcebispado foi criado em 1676), hoje, um museu da Arquidiocese.

    Nóbrega levou Sardinha para conhecer alguns locais onde os irmãos jesuítas atuavam como evangelizadores nas aldeias tupinambás de São Sebastião (São Bento), Santiago (Piedade) e (Simão) Gamboa, no caminho para a Vila Velha. Numa dessas andanças, Pero Sardinha gostou muito da área próximo ao Outeiro Grande, uma sesmaria do sargento-mor Francisco Fernandes Lima, e solicitou ao governador Geral, Thomé de Souza, que construísse uma capela em louvor a São Pedro, de quem era devoto. Afinal, de batismo seu nome era Pero, o que significa Pedro. O governador assim o fez.

    Nessa época havia uma instituição chamada "Padroado" inspirada no Direito Divino dos Reis - originária na França - em que o rei de Portugal é quem indicava os bispos e arcebispos cabendo ao papa a nomeação. E, em contrapartida, a igreja católica exigia do estado português a construção dos templos e manutenções. Sardinha (bispo do clero secular, o representante do Vaticano, do papa, veio nesta condição e Thomé de acordo com a lei do Padroado atendeu seu pedido. Os jesuítas eram representantes do clero regular, das ordens religiosos, portanto, subordinados hierarquicamente ao bispo. 

   Thomé de Souza insistiu com Dom João III em retornar a Portugal e para seu lugar a Corte nomeou Duarte da Costa (em 1º de maio de 1553) personalidade bem diferenciada, cujo filho, Álvaro da Costa, conhecido como "cabo de guerra" seduzia as tupinambás e fazia arruaças. O bispo não gostou. Informou ao rei, por carta, que Duarte era incapaz e "não há homem que não seja afrontado e ameaçado, nem mulher que seja desonrada". Nóbrega também comunicou aos seus superiores que "o pae obedece ao filho e o filho não tem acatamento com o pae", revela Teodoro Sampaio em “História da Fundação da Cidade do Salvador”. E mais denunciou que Álvaro, donatário da Capitania do Paraguassu, manda e desmanda, e João Rodrigues e João de Góes o que desejam conseguem. Aos olhos do bispo era uma espécie de "trio do terror": roubava, confiscava e estuprava.

    Sardinha também se desentendeu com Nóbrega e os métodos de aldeamento da catequese praticados pelos jesuítas e fazia críticas abertas ao governador e seu filho nas homilias da Sé. A briga ficou incontrolável e caiu na boca do povo. Duarte da Costa, então, sentindo-se moralmente atingido solicitou ao rei um novo bispo e embarcou Sardinha e outros desafetos para Lisboa, na nau Nossa Senhora da Ajuda (integrava a frota de Thomé de Souza). No litoral de Alagoas, na altura de Coruripe, a nau foi a pique e os caetés comeram sardinha frito. Com ele morreram outros padres e o deão do cabido Pedro Gomes Ribeiro. Quando a notícia chegou a Lisboa foi um escândalo e a ordem da Corte foi exterminar os caetés. Ordem cumprida, posteriormente.

    Para o lugar de Sardinha veio o bispo Pedro Leitão, português de Beja, que só chegou em Salvador dia 4 de dezembro de 1559 (a essa altura o governador já era Mem de Sá), o qual governou entre 1558 até sua morte em 1573.

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    Contei essa narrativa porque está relacionada com o 4º capítulo deste livro que é o meio da Avenida Sete - coração da via - aberta pelo governador JJ Seabra e pelo engenheiro Arlindo Coelho Fragoso, em 1915, locais que, hoje, são chamados de "Praça da Aclamação" e "Largo 2 de Julho" (Campo Grande) porque toda essa área na época de Thomé de Souza se situava próxima do "Outeiro Grande" sesmaria de Francisco Azevedo. 

   Essa grande área vai mudar o nome exatamente quando o bispo Sardinha pediu ao governador para erguer a capela de São Pedro e passou a ser chamada de "Campo de São Pedro" (pasto do sargento mor Francisco Fernandes Lima), o qual morreu em 6 de julho de 1756, e 30 anos antes de sua morte requereu a dom João V uma indenização pelos “estragados causados pela construção do forte em suas terras e nas do capitão Manoel Borges Ferreira”.

    Duarte da Costa embora inimigo de Sardinha manteve a construção da capela (teria sido concluída em 1554) e Thomé já morava em Portugal. Quando o segundo bispo (Pedro Leitão) chegou a Bahia, em 1559 (morreu em Salvador após 14 anos de bispado, em 1573) o governador já era Mem de Sá (1558 até 1572), personalidade também com características diferenciadas de Thomé (diplomático) e Duarte (bonachão e violento) que organizou a gestão no Brasil expulsou os franceses e fundou o Rio de Janeiro e São Paulo. Governou o Brasil 14 anos anos a partir de Salvador e juntamente com Nóbrega (que também se mandou para São Vicente diante a briga com Duarte, sendo substituído pelo padre Luís de Grã) os dois grandes da administração do início do Brasil.

    Toda essa área onde estão hoje a Praça da Aclamação e o Campo Grande era, portanto, um campo enorme com duas depressões, uma no Campo Grande onde, hoje, há um viaduto para o Vale do Canela; e outra na Camboa de Cima onde há outro viaduto. Então, quem vinha da Vila Velha subia a Mata Atlântica no trecho da atual Avenida Princesa Isabel, em seguida pela área da atual Avenida Princesa Leopoldina (no final com uma enorme depressão que dava no vale e onde Catarina Paraguaçu se banhava numa fonte (ainda existe a fonte, local abandonado), pegava o Corredor da Vitória e quando chegava na área do Campo Grande contornava pela atual Direita do Forte (no outro lado ficava a aldeia Tupinambá de Simão) havendo, em seguida, uma bifurcação o Caminho de Cima (atual Av. Sete) e o Caminho de Baixo (Carlos Gomes atual) até o centro da fortaleza (praça Thomé de Souza onde estão a sede da Prefeitura e da Câmara.

    Só a partir da invasão holandesa de 1624 é que esse local vai sofrer uma alteração profunda com a instalação de uma trincheira pelos holandeses e após a expulsão dos batavos, em 1625, inicia-se a construção do Forte de São Pedro a partir de 1627. Vale lembrar que, entre 1580 e 1640, o Brasil foi governado pela Espanha, reis Felipes (ordenações filipinas).

   Esse Forte tem muita história. As lutas pela Independência da Bahia começaram nele quando o brigadeiro Manoel Pedro de Freitas Guimarães, governador das armas da Bahia e comandante interino da Provincia se rebelou e se aquartela ai, em 1821, se insurgindo contra a indicação do brigadeiro português Ignácio Madeira de Mello para seu posto e este manda atacar o forte. Teve tiroteio em vários pontos da hoje Av Sete, as ursulinas do Convento das Mercês foram para a Soledade, mataram Joana Angelica na rua dos Remédios, no Convento da Lapa, história longa que não cabe contar aqui e só terminou em 2 de julho de 1823.

    Quando o forte recebeu o nome de São Pedro já tinha se passado 75 de construção da capela e esta foi demolida. É erguida uma igreja - Paróquia de São Pedro Velho - (onde hoje é a praça Rio Branco - Relógio de São Pedro), na época, início do século XVII, considerada a mais nobre da cidade. Nas proximidades desta igreja havia um emaranhado de becos e casarões que dava na rua de Baixo, na área conhecida por "Cabeça" - pequeno tanque com brejo de cabeceira da grota que se bifurcava.

    Toda essa área, hoje, muito habitada – Aclamação, Campo Grande, Corredor da Vitória, etc - era pouco habitada, 350 anos depois de fundada a cidade. A maior parte da população de Salvador residia na área Norte - Centro (Sé, Vassouras, Bispo, Capiães, Direita do Palácio, etc) Pelourinho, Carmo, Santo Antônio, Perdões, etc, e no bairro da Praia (hoje, Conceição, Comércio) tanto que o 8º Conde dos Arcos (último vice-rei do Brasil), governador Marcos de Noronha Brito, em 1810, desapropriou uma área próxima ao Forte de São Pedro para instalar um Jardim Botânico e implantou um passeio público e obelisco, construído em 1815, para comemorar a chegada de Dom João VI ao Brasil. Posteriormente, essa área se transformou num zoológico. A Zoo mudou-se para Ondina, em 1958, maior e com nova estrutura, onde está até hoje.

  É também nessa área que vai surgir um palacete que ficou conhecido como Palacete dos Moraes, comprado pelo comerciante português Miguel Francisco Rodrigues de Moraes, em 1894, a viúva Ana Carolina Lima Miranda, em 1894. Esse palacete, portanto, é de meados do século XIX. 

    O português Miguel de Mores, natural de Ponte de Lima, morre em 1896 e a viúva Clara César de Moraes (filha de Horácio César, influente político baiano) negocia com o governador João Ferreira de Araújo Pinho a venda do palacete, o que aconteceu em 1911, por 30 contos de réis. O argumento que a viúva usou (certamente) era de que seu palacete seria mais amplo e melhor do que o `Palacete das Mercês, onde morava Araújo Pinho, desde 1908.

    Houve, no entanto, uma grande surpresa antes que se efetivasse a mudança de um palacete para o outro: o governador Araújo Pinho diante das brigas políticas entre “seabristas” (adeptos de JJ Seabra), “ruystas” (de Ruy Barbosa), “severinistas” (de Severino Vieira) e “marcelinistas” (de José Marcelino) renunciou ao cargo em 22/12/1911. Para seu lugar o indicado foi o médico e político e presidente da Câmara dos Deputados, Aurélio Viana, mas a Câmara dos Deputados (com maioria de “seabristas”) rejeitou seu nome. Aurélio e queria Leandro Galrão, presidente do extinto Senado. Viana era valente e mandou a PM cercar a praça do Palácio do Governo, no centro da cidade, e determinou que os poderes legislativo e judiciário fossem transferidos para Jequié.

    Os “seabristas” impetraram um "Habeas Corpus" contra a medida do governador e o juiz federal Paulo Martins Fontes concedeu. Aurélio desobedeceu a ordem judicial e o general comandante da VI Região Militar (Exército) Sotero de Menezes foi acionado para cumprir a ordem do juiz. 

   Não houve acordo com o governador tampão. Tropas do Exército vão às ruas e há combates e mortes. O caos tomou conta do centro da cidade. O marechal Hermes, que havia vencido Ruy Barbosa na eleição presidencial de 1910 (diz-se que, por indicação do seu ministro de Viação e Obras Públicas, JJ Seabra) autoriza bombardear a cidade. O ministro da Marinha, Marques de Leão, não concordou e pede demissão justificando que seus navios não fariam isso. Na tarde de 10 de janeiro de 1912, os canhões do Forte de São Marcelo abriram fogo e o Palácio destruído. A artilharia do Forte do Barbalho também disparou em direção a Câmara. Fogo pra todo lado e em prédios da Chile.

    JJ Seabra foi eleito governador contra Domingos Guimarães em 28 de novembro de 1911 numa eleição tumultuada presidida por Bráulio Xavier, presidente do Tribunal de Justiça que substituíra Aurélio Viana e em 29 de março de 1912 é empossado governador. Foi governar morando no Palacete das Mercês donde comandou o projeto de implantação da Avenida Sete e a reforma do Palacete dos Moraes transformando-o no Palácio da Aclamação, ampliando espaços, ocupando áreas do Passeio Público, e convidando Presciliano Silva (pintor) para decorar com painéis emoldurados, guirlandas e medalhões. Em estilo neoclássico francês e italiano o palácio foi mobiliado nos estilos dom José e Luís XV, com cristais, porcelanas e bronzes por todas dependências.

   Quando da inauguração da Avenida Sete é também inaugurada Praça da Aclamação (em tese, louvor a Proclamação da República cuja aclamação se deu no Campo de Santana, Rio de Janeiro, em 15 de novembro de 1889, fazendo também uma homenagem a Dom João VI e transferindo o obelisco do Passeio Público para este local, onde se encontra nos dias atuais. Neste 2024, a Prefeitura de Salvador realiza uma reforma da praça, que era valhacouto.

    Tudo o que restou ao Palacio do Governo (reformado depois do incêndio e recebendo o nome de Rio Branco, em 1919) foi levado para o Aclamação. Estima-se que o bombardeio destruiu 30 mil volumes de obras raras da Bahia, em biblioteca pública que funcionava na ala esquerda do Palácio. Seabara mandou construir uma nova biblioteca fora do Palácio, mas, nesta praça, que funcionou ao lado do prédio da Imprensa Oficial até a década de 1970 (hoje, nos Barris) obra de Luís Viana Filho. Vai ser no governo de Antônio Moniz Sodré de Aragão a inauguração do Aclamação quando a “corte” baiana se mudou para lá. JJ Seabra, eleito novamente governador entre 1920 e 1924 finalmente vai morar nele.

    Durante 55 anos foi a sede de despachos dos governadores e moradia até que, e, 1967, o governador Antônio Lomanto Jr ocupou a casa do alto de Ondina que servia ao administrador do Zoo, mandou dar uma guariba e se mudou para lá. Até hoje é a casa de morada dos governadores. E, também, onde, eventualmente há encontros políticos mais reservados, despachos, recepções e outros.

    Os palácios da Aclamação (a também o Rio Branco) iniciaram suas decadências a partir da criação do Centro Administrativo da Bahia (CAB), em 1972, pelo governador ACM, em área próxima da Avenida Luís Vianna (Paralela). O Rio Branco foi vendido pelo governo, recentemente, para ser um hotel; e o Aclamação definhou desde que o PT assumiu o governo do estado, em 2007. Foi fechado de vez, em 2019, governo Rui Costa, que seria um museu residência e cerimonial de eventos particulares. Segue fechado, hoje, anuncia-se por lá que será um Centro de Cultura do Banco do Brasil.

    Nesse período intermezzo - entre 1966 e 2020 - hospedou a Rainha Elizabeth II e o príncipe Phillip de Edinburgo (governo Luís Viana Filho) e serviu de local de recepções, alguns encontros políticos e velórios. Sua recepção mais glamurosa aconteceu em 2019, quando a então primeira dama Aline Peixoto (esposa do governador Rui Costa) promoveu um baile de máscaras (Bal Masqué), beneficente, no estilo Madri-Gras.

    A primeira vez que entrei no Aclamação foi em 1969. Era repórter de cidade da Tribuna da Bahia e fui escalado pelo editor Quintino de Carvalho para cobrir um almoço à imprensa dado pelo governador Luís Viana Filho aos repórteres políticos e outros, na época natalina quando o governador fazia para a imprensa um balanço das realizações do ano. O repórter político da Tribuna era Ivan Carvalho e lá fomos nós com Bonfim fotógrafo. Eu morava num prédio apelidado de "Balança mas não cai" na rua do Paraiso com mais 3 amigos e quando entrei naquele salão imenso (ala direita do palácio) com mesa posta, com vinhos, queijos, brioches, empadinhas, vatapás, carurus, vermelhos e dourados fritos, uvas, maçãs, etc fiquei admirado com aquela grandeza e beleza. Na saída, alguns coleguinhas ainda levavam maçãs e cachos de uvas.

    E a última vez que por lá entrei foi no velório do ex-governador ACM, na ala a esquerda de quem entra, em 2007. Daí o corpo seguiu opara o Campo Grande, onde foi sepultado.

    Recentemente, também, teve um crime no passeio do Palácio quase ao lado da porta principal quando foi assassinada a estudante Cristal Rodrigues Pacheco, do Ccolégio das Mercês, crime de grande repercussão. A jovem ia para o colégio com a mãe e um irmão de 12 anos, em agosto de 2022, e foi assassinada por uma vadia.

    Na atualidade, o abandono é total tanto do prédio como do Passeio Público com matos, ratos e baratas. Dá medo circular por lá. Só de dia. De noite impossível. 

    Quando tudo funcionava por aí os veículos entravam pelos Aflitos - ao lado do QG da PM - e saiam pelo portão ao lado do Quintal Raso da Catarina, pela Avenida Sete. Hoje, há veículos por lá, do pessoal da PM e outros.

    O Teatro Vila Velha – localizado no Passeio Público - também está fechado e em reforma bancada pela Prefeitura de Salvador. Já foi um local fantástico e com grandes musicais e espetáculos teatrais. Teatro dos Novos. Uma longa história. Por lá estive algumas vezes e fui a alguns Bailes dos Artistas sensacionais neste local.

    Convido vocês para acompanhar nossa trajetória a partir daí. A esquerda, no inicio da praça está a Casa da Itália, que será objeto de crônica em separado. Do Aclamação em direção ao Campo Grande há um misto de decadência e vida: Palácio fechado, Quintal Raso da Catarina (ainda funciona com outra proposta) e casarão azul fechado. Este foi outro local que marcou época da ‘new’ boemia baiana entre os anos 1970/1990 e nossa turma era imensa a frequentar o Raso do mitológico Franco, com Rêmulo Pastore, Arinha, Tuna Espinheira, Rui, Lucia Cerqueira, Ligia Aguiar, Gidásio Xavier (prefeitinho), Bonfim, Rosa, Nadya Argolo, Tadeu, Marighela Filho, Tonicão (do violão) e tantos outros.

    Bem andando um pouco mais atravessa-se o viaduto de ferro construído na época da Sete - obra dos ingleses - e adiante uma barreira de prédios enormes, o primeiro deles o edifício Porto Fino (Av Sete 1421) embaixo com várias lojas - a "Braz Coco", a "Autoescola Veja", "Comunicação e Impressos", "Mestre Lurdes" (lanches), "Algas Marinhas" (moda feminina), "Depósito de Bebidas", "Rede Nova Drogaria", "Life Green - odontologia humanizada) e o "Brechó Segunda Chance".

   Adiante tem um prédio verde de dois andares (1424) com loja fechada embaixo; segue o Edifício Sândalo com loja da "Yolito Sorvete" no térreo; segue com o "Edifício Sequóia" onde estão no térreo o restaurante "Point" e o "França Supermercados"; o prédio da Estácio Polo Salvador fechado com o anúncio de aluga-se; Prédio Mansão da Avenida e na esquina com a rua Banco dos Ingleses a sede (futura) Casa de Cultura Eduardo Cabus.

   Do outro lado, no sentido Campo Grande a Praça da Aclamação, na esquina está o Hotel Wish da Bahia (antigo Hotel da Bahia). Em seguida o Edifício Aclamação (1451) com loja no térreo sede do Bloco Carnavalesco “As Muquiranas” e Escola do Mecânica – automóveis e motocicleta; uma casa creme (1427) e uma outra desbotada (já sediou uma clínica médica) com sinais de abandono, esta última ao lado de uma lateral do forte;

   Na área do Campo Grande há dois trechos na Sete – em direção ao Corredor da Vitória, à esquerda há o passeio do jardim onde é armado o palanque para o desfile do 7 de setembro e se postam as autoridades civis e militares; e do outro lado, a partir da esquina com a rua Banco dos Ingleses, o edifício Batista , uma casinha verde a seguir (1578), depois o edifício Bermudas, e o edifício Campo Grande (há um painel de Carybé no hall de entrada) situado ao lado da antiga casa dos cardeais (arcebispos católicos) construída por um inglês chamado Edward Parker, no final do século XIX, onde está no fundo o prédio Mansão dos Cardeais.

   Uma fala sobre o Hotel da Bahia. Brincamos muitos carnavais neste hotel, em vários bailes, e quando fui secretário de Comunicação da Prefeitura de Salvador, entre 1997/2004, instalamos a sala de imprensa nele para atendimento aos jornalistas. 

   Nesse trecho, somente nos passeios à direita há ambulantes: um pipoqueiro e um senhor que vende doces. No trecho do Campo Grande está a banca de revistas e jornais "A Gente Banca Cultura" diversificada a venda de água, refrigerantes, doces e outros.  

   Explico aos meus leitores porque essa área ‘nobre’ da cidade ficou quase 300 anos intocada com poucas residências e apenas alguns casarões (a maioria) de ingleses no Corredor da Vitória e praticamente nada na Ladeira da Barra. Acontece que o poder da capital da colônia – palácio do governador, Câmara dos Deputados, Senado, Vereadores, judiciário, comércio, exportação, serviços, laser, etc – se concentrava entre o Bairro da Praia (onde ficava a Alfândega e o Cais do Porto) e o centro histórico entre Carmo e Ladeira de São Bento e Direita de São Bento (hoje, Carlos Gomes) e as pessoas uniam o útil ao agradável (comodidade) e trabalham e moravam por aí.

   Depois, essas áreas eram distantes do centro e a população mais pobre que morava nesse caminho ia andando e os endinheirados usavam cavalos, burros e charretes. Com a implantação dos bondes puxados a burro, em 1870, do centro para o bairro da Graça a situação foi se modificando. E, quando aconteceu a epidemia de cólera mórbus, em 1855-56, que matou milhares de pessoas no centro a recomendação do serviço epidemiológico e médico era da necessidade (para sobreviver) procurar habitar áreas com boa ventilação, espaçosas, arejadas. Houve, então, uma corrida na direção Sul (e áreas de Brotas, Cabula, etc) e o governo incentivou o uso do ferro em obras. Quem observar a casa dos cardeais no Campo Grande esse é um bom exemplo do uso do ferro em toda arcada da entrada. 

A partir da importação dos automóveis, o primeiro, do engenheiro Lanat - todos carros elétricos - e da implantação dos bondes elétricos a corrida aumentou. Mas, de fato, o grande diferencial, a grande inovação foi a abertura da Avenida Sete, inclusive implodindo uma pedreira que havia na altura do Cemitério dos Ingleses com o acesso, afinal, ao Porto da Barra e ao Farol da Barra, pelas proximidades da antiga Casa do Conselho, hoje, forte de São Diogo.