Cultura

GÉRSON SOUZA, UM LÍDER CONSAGRADO DE ITABUNA, por WALMIR ROSÁRIO

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado
Walmir Rosário , Salvador | 04/02/2024 às 11:49
Gerson Souza - centro - com placa de presidente
Foto: DIV
   Tabelião do Cartório do 1º Ofício de Itabuna (registro de pessoas e casamentos), Gérson Souza era uma das pessoas mais influentes nas instituições da cidade, pela dedicação com que tratava as obrigações assumidas. E no futebol não era diferente. Na seleção de Itabuna era considerado um dirigente insubstituível e que conduziu o selecionado ao hexacampeonato baiano de amadores.

Gérson Souza era homem de aceitar desafios, inclusive no futebol. Em 1947, época de poucas estradas e veículos, chefiou a delegação da Seleção de Itabuna na partida contra a Seleção de Valença. E não era fácil, pois as estradas eram péssimas e o transporte disponível era a carroceria de caminhão. Após 12 horas de viagem venceram, e a partida seguinte seria contra Santo Amaro, em Salvador, porém o campeonato foi cancelado.

Daí pra frente Gérson Souza não deixou mais a Seleção de Itabuna e foi um partícipe importante na criação do Itabuna Esporte Clube, o primeiro time profissional da cidade, em 1967. Mas até chegar lá, o “Marechal do Hexa” esteve presente em todos os momentos, simplesmente apoiando ou coordenando a seleção amadora, bem como a equipe de profissionais, sempre com bastante sucesso e determinação.

Com a bondade que fazia o afago quando necessário, era capaz de tomar decisões mais duras que o momento exigisse. E não precisava alteração, bastava uma conversa de pé de ouvido que tudo se acertava. Sua argumentação convencia, mesmo nos momentos mais cruciais. Sabia como ninguém motivar diretores, jogadores e comissão técnica, com palavras simples, porém bem colocadas.

Na última partida para a conquista do hexacampeonato, Gérson Souza não titubeou ao suspender uma das maiores estrelas da seleção, o ponteiro-esquerdo Fernando Riela, por não ter permanecido concentrado com os demais jogadores. Numa conversa franca entre ele, o técnico Gil Nery e Fernando, expôs os prejuízos do comportamento e os riscos de sua atitude. Resolveu arriscar e os itabunenses comemoraram o título.

Provavelmente, o sucesso da Seleção de Itabuna tenha sido a convocação de uma base permanente, com substitutos à altura. Craques não faltavam em Itabuna e muitos ainda ficavam de fora desta super equipe. Porém Gérson Souza não conseguia ver um craque de outra cidade jogar, que não o convencesse a vir fazer carreira no brilhante futebol de Itabuna. Na maioria das vezes dava certo.

Um desses “convocados” por Gérson Souza foi Albertino Pereira da Silva, o goleiro Betinho, que trouxe – junto com Zelito Fontes – de São Félix para Itabuna, primeiro para o Janízaros, e depois para o Itabuna Esporte Clube. Betinho se notabilizou ao participar de uma partida jogando pela Seleção de Ilhéus contra o Santos. Pela sua atuação, foi levado por Pelé para o time da Vila Belmiro, mas devido ao seu comportamento não fechou um vantajoso contrato.

Em 1970, com a renúncia do presidente do Itabuna Esporte Clube, o time entrou em decadência, e mais uma vez Gérson Souza se dispõe a colaborar com o amigo Gabriel Nunes, que condicionou presidir o Itabuna com a sua participação. Das cinzas, o Itabuna ressurge com um plantel sem grandes estrelas, mas conscientes do que poderiam fazer para dar a volta por cima. 

Apesar do descrédito de muitos, o Itabuna ganhou o segundo turno e se sagrou vice-campeão baiano. Não fossem as forças poderosas do extracampo, por certo teriam alcançado o primeiro lugar. Graças à união e credibilidade dos dirigentes junto aos torcedores, o time conseguiu os recursos necessários para participar dos jogos, com o apoio pessoal da torcida, mesmo nas partidas mais distantes.

Gérson Souza é daquelas personalidades que nascem de 100 em 100 anos e que vêm à terra com a finalidade de servir, tornar o mundo melhor com sua colaboração e dos amigos que o cercam. Encarar os desafios era uma de suas especialidades. Desprendido, coordenava e secretariava instituições com a maior naturalidade, debatendo e assumindo responsabilidades para si e o seu grupo.

E a responsabilidade com que traçava planos e projetos transmitia segurança em todos os segmentos da sociedade civil, que abraçavam suas ideias, tornando uma causa em comum de Itabuna. Era impossível a ausência de Gérson Souza nos projetos sociais. Sempre procurado pelo Executivo, Legislativo – do qual foi presidente –, Judiciário e líderes da sociedade, solicitando seus experientes conselhos para novos empreendimentos.

Sabia encarar os compromissos com muita seriedade sem ser sisudo. Ao contrário, a alegria de Gérson Souza era inebriante e contagiava os que conviviam com ele. Daí, trabalhavam com afinco até atingir os objetivos em plenitude e comemoravam as vitórias com a mesma intensidade. Gérson Souza é daquelas figuras ímpares, sempre lembradas com carinho pelo que fez em vida, deixando saudosos os que ainda choram seu desaparecimento.