Cultura

O ANDARILHO DA CIDADE DA BAHIA, 29: A GLOBALIZAÇÃO E A POBREZA EM SSA

O Programa de Combate a Fome na Bahia vai mitigar a fome de milhares de pessoas , mão tem transversalidade para inserir essas pessoas no mercado golbalizado
Tasso Franco , Salvador | 12/11/2023 às 09:50
Um produto da terra (coco), a água industrial, a máquina amarela e o fone globais
Foto: BJÁ
   A Cidade da Bahia capital do nosso estado possui uma população que se aproxima em 3 milhões de almas sendo que uma parcela significativa, estimada em 50% - 1.500.000 pessoas - sobrevive com baixa renda e deste percentual, há uma quantidade imensa de pessoas na pobreza endêmica que, sai ano entra ano, não consegue melhorar seu padrão de vida; e aproximadamente 13% em situação de fome, algo como 300 mil almas

Essa é uma questão crucial pouco abordada no parlamento, nas instituições, nos meios de comunicação, em órgãos mais ativos da sociedade como UFBA, OAB, APLB, IAB, MP, AMAB, IGHB, etc se a globalização, tão comentada em vários campos quase sempre da boca pra fora como maléfica, impactou na pobreza; ou se a globalização que tem raiz supostamente ocidental – a origem do termo aldeia global surgiu no final dos anos 1960 com Marshall McLuhan e Zbigniew Brzezinski – e o processo de intensificação da integração econômica foi iniciada nos 1980 - trouxeram alguns benefícios à pobreza, se ajudou em alguma coisa, e qual é o resultado disso ao longo do tempo, uma vez que já são 40 anos de sua existência na contemporaneidade

  Eu não conheço nenhum estudo na Bahia sobre este tema e muito menos vejo (falando como o andarilho da cidade) ser debatido nas casas legislativas e pelo governo e o que presenciamos em andamento no Estado é a iniciativa de um programa de combate à fome que, segundo dados do próprio governo, existem 1.800.000 pessoas da população de 15.000.000 (isto é, 13%) passando fome e, em sendo assim, esse contingente populacional se situa na pobreza extrema uma vez que se não têm recursos para alimentação, muito menos há para vestuário, educação e/ou alguma forma de lazer salvo o gratuito informal como jogar bola, ir à praia, brincar de bonecas para as crianças

Os dados do DIEESE com base no censo IBGE 2021 apontam que na Bahia 51.6% da população estão na pobreza, algo em torno de 7.650.000 pessoas; o que se remetermos igual percentual à população de Salvador são 1.500.00 (como já citamos acima) o que significa, pelo exposto numérico que a globalização não trouxe benefícios significativos à população de Salvador (e da Bahia) os executivos do Estado – prefeitos e governadores - perderam o bonde da história ou não acompanharam, ao mesmo, o andar desse bonde como nos países do G8 e até mesmo dos BRICS, da qual o Brasil faz parte

  O prêmio Nobel de Economia de 1998, Amartya Sen, diz que a globalização não deve ser enxovalhada como alguns antiglobalização fazem, porque ela não é uma “maldição” e trouxe benefícios, amplos, a todos. Destaca que existem duas maneiras básicas de verificar as prováveis injustiças relacionadas à globalização, uma delas, é de que muitas pessoas acham difícil fazer parte da economia global e não sabem como se inserir ou conseguir os benefícios dela advindos; e o segundo problema é que “mesmo que os pobres estejam ficando um pouquinho mais ricos, isso não implica necessariamente, que os pobres estejam obtendo uma parcela justa dos benefícios das inter-relações econômicas e do seu imenso potencial” 

  Como agir então? Observando o que acontece na nossa aldeia, o programa Bahia Sem Fome, por exemplo, na essência de mitigar a fome é providencial, mas não terá transversalidade no sentido de inserir o pobre, o necessitado de comida, no mundo globalizado, pois, este tem uma exigência maior na qualificação profissional e quem controla isso é o mercado global (incluindo governos democráticos e ditatoriais) e goste-se ou não do mercado - há muitas críticas aleatórias a ele no Brasil - trata-se de um ser impessoal, incontrolável, e que dita as regras e põe os alimentos nas gôndolas dos supermercados, os veículos nas lojas, as ferramentas nas oficinas, os objetos hospitalares nas clínicas, as armas nas guerras. as vacinas nos postos de saúde e assim por diante

Pelo exposto, não existe governo global ou estado global com regras para todo o planeta; mas, há um mercado global e envolve pobres, ricos e milionários sem distinções de nacionalidades, mas, é claro, afeta ou prejudica os mais pobres, ainda que, como vimos recentemente no combate a Covid, iguala a todos num mesmo barco, na utilização da vacina. A globalização, portanto, não tem uma cara específica, uma religião, uma raça, uma identidade única, e cada governo vai se adaptando e se movendo de acordo com as exigências e motivações da sociedade global, como estamos vendo, agora, na guerra entre Israel x Hamas, uma mobilização impressionante de palestinos e simpatizantes em várias partes do mundo e que representam um peso significativo no conflito e sobretudo no pós-guerra

 Ainda sobre nossa aldeia, para não perdermos o foco do tema em si, se a globalização impactou na nossa pobreza da cidade da Bahia e qual essa dimensão, se não produzimos quase nada em bens industrializados e temos uma população a maioria sem qualificação profissional adequada à contemporaneidade, e, ademais, falta-nos empreendedores, quando entramos num supermercado, numa padaria, no mercadinho de bairro e/ou percorremos as tendas das feiras livres, adquirimos produtos mesmo os básicos do básico - uma pasta de dentes, um sabonete, uma coca cola, etc – marcas globalizadas e que têm capitais (dinheiro) de investidores de vários países (real, dólar, yen, etc), inclusive dos baianos que tenham recursos para comprar ações de algumas dessas empresas. Tem-se como escapar disso? Não. Exceto para alguns naturebas que ainda mascam fumo e comem macaxeira plantadas em roças da agricultura familiar e ativistas do Largo da Dinha

    Coloquei a Coca Cola como citação de propósito, pois, alguém poderia pensar ou arguir que sendo um produto de preço considerado elevado para um refrigerante mais barato, digamos, mais caseiro, só venderia em supermercados da classe média alta, mas, o que se observa é que a Coca Cola está em exposição à venda da birosca ao ponto chique, do balcão pé sujo ao envidraçado e o pobre também a consome assim como pasta Colgate, sabonete Palmolive, pão francês (cacetinho) de trigo que vem da Ucrânia e assim por diante

   Fora disso é querer voltar para a caverna e ninguém quer salvo alguns ambientalistas de araque que fazem discursos condenando o agronegócio, o uso da tecnologia de ponta na agricultura e outras baboseiras. No momento em que o pobre tem acesso a um modelo iphone, a um laptop, usa o WhatsApp e outras ferramentas das novas tecnologias ele está se inserindo no mundo globalizado e dele não saíra mais, pois, independente de quaisquer outras coisas até na diversão e no lazer, são objetos que vão agregar valores a sua existência, manter e propiciar negócios, obter conhecimentos e assim por diante  

  Observando mais uma vez a nossa aldeia, o que há em Salvador (e na Bahia) de mais relevante são as escolas em tempo integral do município e do estado, um projeto da maior importância e que precisa ser aprimorado com as escolas de inglês e os cursos profissionalizantes esses, sim, transversais, porque ensinam e educam para a vida profissional, valorizar e agregar cada vez mais quaisquer projetos vinculados a CIMATEC/FIEB, realinhar a UFBA que infelizmente está politizada e implantar programas que visem o conhecimento, o trabalho e a renda

  Voltemos ao indiano Amartya Sen: “Pode haver ganhos consideráveis na criação de novas indústrias, mas ainda permanece o problema da divisão dos benefícios entre trabalhadores, capitalistas, vendedores de insumos, compradores (e consumidores) de produtos, e aqueles que se beneficiam indiretamente da receita aumentada nas localidades envolvidas”. Sen cita John Forbes Nash, o matemático teórico dos jogos, prêmio Nobel de Economia 1994 e os arranjos distribucionais. Isto é, se os pobres também se beneficiam da ordem econômica estabelecida; E se é possível se estabelecer um arranjo global mais justo sem perturbar o sistema globalizado. Isso é possível?

  Tomemos o exemplo da instalação da BYD na Região Metropolitana de Salvador (Camaçari). Essa empresa, que é uma multinacional chinesa vai fazer um arranjo distribucional diferenciado e que beneficiará os pobres? Impossível. Não que ela talvez não queira, mas sua planta é de alta tecnologia (carro elétrico) e exige trabalhadores especializado e, evidente, o recrutamento desse pessoal se dará a quem tem conhecimento. E, mais ainda, não se limitará a Bahia e sim ao mercado global com técnicos de vários estados e países. Como então inserir os pobres que vivem nas glebas de Camaçari nesse contexto? Bem, pode-se dizer que vão haver programas sociais, o que pode representar alívios circunstanciais, mas não haverá a inserção no mercado de trabalho especializado, salvo exceções

  Vê-se, pois, que o tema é extremamente complexo e merecem ações mais profundas, pois, a economia do mercado global não funciona sozinha e, obviamente, a BYD vai instalar sua fábrica na Bahia, mas está de olho no mundo, pois, é o mundo que puxa a linha na ponta e não a Bahia

  Para fechar nossa prosa lembro-vos que a cidade da Bahia (Salvador) é fruto de uma ação globalizada na sua fundação graças a Escola de Sagres, que queiramos ou não, e se não fosse desta seria de Deepe e/ou de Saint-Malo, ambas na França; ou de Navarra e Aragão, na Espanha, porque naquela época (alvorecer do século XVI)  havia uma corrida na ocupação do Novo Mundo, assim como hoje são a conquista do espaço e da lua e enquanto a Índia, que tem bolsões de pobreza tão amplos como o Brasil e há teve tragédias da fome históricas como em Bengala com 3,5 milhões de mortos (1943), conquista o espaço sideral, enquanto no Brasil se discute a volta do imposto sindical