Com informações da ABL
Tasso Franco , da redação em Salvador |
10/07/2025 às 18:09
Ana Maria Gonçalves é mineira
Foto: DIV ABL
A escritora Ana Maria Gonçalves foi eleita nesta quinta-feira (10) para a cadeira 33 da ABL, na sucessão do gramático e filólogo Evanildo Bechara, morto em maio deste ano. A escritora é a 13ª mulher a ser eleita, a quinta do quadro atual de Acadêmicos. Ela foi escolhida por 30 dos 31 votos possíveis. A professora, ativista e escritora indígena Eliane Potiguara recebeu 1 voto.
Na disputa da vaga, estavam também inscritos: Ruy da Penha Lobo, Wander Lourenço de Oliveira, José Antônio Spencer Hartmann Júnior, Remilson Soares Candeia, João Calazans Filho, Célia Prado, Denilson Marques da Silva, Gilmar Cardoso, Roberto Numeriano, Aurea Domenech e Martinho Ramalho de Melo.
Para o presidente da ABL, Merval Pereira, é uma das maiores escritoras brasileira dos últimos anos. O livro Um defeito de cor foi considerado o mais importante da literatura brasileira dos últimos 25 anos. Só por isso, merece entrar para a ABL. Além disso, é uma mulher negra e a ABL está empenhada em aumentar sua representatividade entre seus pares. Ana Maria terá a função de demonstrar que a ABL está sempre querendo aumentar sua representatividade de sexo, cor, e qualquer tipo que represente a cultura brasileira. Queremos ser reconhecidos como uma instituição cultural que represente o Brasil, a diversidade brasileira. Ela aumenta nossa vontade de estar sempre presente nos movimentos sociais relevantes.
Rosiska Darcy disse que a eleição de Ana Maria Gonçalves é um aperfeiçoamento da democracia. É uma eleição histórica, não só porque ela é uma excelente escritora, mas também é uma mulher, e uma mulher negra. Esta é a primeira vez que a ABL elege uma mulher negra. “Entramos numa fase de maior completude, e vamos cada vez mais nos aproximando do que é de fato a cultura brasileira.
Lilia Schwarcz enfatizou estar muito feliz e espera que abra uma linhagem de mulheres negras, que é muito importante para a Academia, para que ela seja diversa, plural e Ana Maria é uma pessoa de muito diálogo e de grande abertura, que chega com muita vontade. Fez um livro que desfilou na Sapucaí e foi considerado pela Folha de S.Paulo o livro mais importante do século XXI. É muito fundamental este lugar que ela vem ocupar e todo o mérito que é dela, e toda a luta que é dela. Vem representando as mulheres negras e um feminismo muito importante.”
Para Gilberto Gil, Ana Maria Gonçalves tem uma literatura de muito folego e potência, a casa se sente agradecida pela vida ter nos mandado a Ana Maria para cá . Isso representa que estamos vivos e permanecemos ativos neste contexto variado, de diversidades muitas e de todos os tipos; as étnicas, as culturais, as religiosas. Acho que a eleição desta extraordinária literata representa uma ampliação muito grande da presença da Academia na vida brasileira; junto aos leitores e os apreciadores da literatura e de uma integração de todos na vida nacional.
Ana Maria Gonçalves nasceu em Ibiá, em Minas Gerais, em 1970. Começou a escrever contos e poemas desde a adolescência, sem chegar a publicar. A paixão pela leitura nasceu durante a infância, e desde criança lia jornais, revistas e livros.
Após 15 anos de atuação na área da Publicidade, ela optou por sair para escrever "Ao lado e à margem do que sentes por mim" e "Um defeito de cor", um sucesso literário. A obra venceu o prêmio Casa de Las Américas (Cuba, 2007) e foi eleita por críticos convidados pelo jornal Folha de São Paulo como o livro mais importante do século XXI.
O romance, de 952 páginas, foi publicado em 2006 e levou cinco anos para ser concluído (dois anos de pesquisa, um de escrita e dois de reescrita). Ele narra a trajetória de Kehinde, uma mulher negra sequestrada no Reino do Daomé e escravizada na Bahia.
A bibliografia de Ana Maria é marcada por um caráter intimista e autobiográfico, resultado de pesquisas profundas sobre as heranças africanas no Brasil.
Já publicou contos em Portugal, Itália e nos EUA, onde também morou por oito anos e ministrou cursos e palestras sobre questões raciais. Foi escritora residente em universidades como Tulane (New Orleans, LO), Stanford (Palo Alto, CA) e Middlebury (Middlebury, Vermont).
Ana Maria também é dramaturga e roteirista de peças como Tchau, Querida! (2016), Chão de Pequenos (2017) e Pretoperitamar – O caminho que vai dar aqui (2019), esta última em parceria com a atriz Grace Passô, que aborda a trajetória do artista negro Itamar Assumpção.
Atualmente residente do Rio de Janeiro, é roteirista (Rio Vermelho) e professora de escrita criativa. É co-curadora da exposição "Um defeito de cor" (MAR - Museu de Arte do Rio de Janeiro; MUNCAB - Salvador e SESC Pinheiros - SP), eleita como a melhor exposição de 2022.