Cultura

HOMEM VERDE DO GINÁSIO,11: A ARCA DE NOÉ E O PAVÃO VOADOR DA SENHORA O

Conto narrado por Castor Jaboticaba Gonçalves representante do Distrito da Manga
Tasso Franco , Salvador | 02/11/2023 às 07:42
O pavão voador da Senhora O
Foto: Seramov
Prólogo: 
  
Como os nossos leitores podem perceber esses dois últimos contos narrados foram bem de nossas raízes, agradáveis, suaves, embora as línguas maldosas que existem  em toda comunidade digam que esse senhor Deinho que comprava sapos dos meninos não os levava para Salvador e sim comia-os temperados em sal e óleo e assados numa trempe de ferro que possuía no quintal de casa e eu não estou aqui para julgar ninguém, até porque sequer conheço esse senhor, nem tampouco para incriminá-lo porque gosto não se discute e se os chineses adoram comer cachorros e jegues e daí que, da nossa aldeia, já foram embarcados centenas de jumentos para saciar a fome dos ‘chinas’ que são muitos, mais de 1 bilhão de pessoas, portanto, haja jegues, e eles também se alimentam de insetos, escorpiões, minhocas, etc, e jegue é até um produto da elite, de quem pode pagar o preço de carne de boi. 

Abro, dessa maneira, com esse adendo a palavra para prosseguimento da nossa tertúlia.

Apresentou-se, o representante da comunidade de Nossa Senhora do Belém da Manga, Castor Jaboticaba Gonçalves, domador de cavalos e cavaleiro, produtor rural de poltros e éguas tipo exportação, descendente distante dos nativos biritinga, daí sua tez acobreaba, cabelo bem liso típico dos índios lá dos andes bolivianos, forte, estatura mediana de porte atlético, dentes alvos, muito simpático em sorriso largo que também disse ter instrução básica, sua família sempre morou no distrito da Manga, amava a Serrinha mas assim com o a senhora Zabelinha que defendia a emancipação política de Lamarão ele e sua familiar, que era enorme, também queriam a da Manga e que o local fosse chamado de Biritinga e isso estaria sendo trabalhado politicamente com a deputada Nanu Oliveira, que era da Pedra, junto a Assembleia da Bahia e ao governador Lomanto Jr, e iria falar sobre A Fazenda modelo Arca de Noé e do Pavão Voador da senhora O.

A FAZENDA ARCA DE NOÉ 

E assim narrou: - É provável que os senhores e as senhoras que moram aqui na sede da nossa aldeia e outros que residem nos distritos não saibam que as terras da Manga são as melhores do nosso território em solo, em água, em viço, em clima e se plantando tudo dá e cresce, se cria com beleza e nutrição, e nosso fumo, sem desmerecer o fumo Recôncavo é tão bom quanto o de Cachoeira e São Félix; nossos legumes são iguais ou melhores do que os de Cruz das Almas e Santo Antônio de Jesus; nosso algodão rivaliza com o de Guanambi; nosso milho com grãos mais robustos do que os do Irará ou de Bonfim; e o capim uma maravilha tanto que minhas éguas e poltros que exporto para a capital da Bahia e de lá para o mundo são as melhores que existem no nosso país, e digo isso para contar a vocês como surgiu a Fazenda Modelo Nacional Arca de Noé ideia e implantação que aconteceu nos anos pós II Grande Guerra  quando uma senhora que é natural do nosso distrito filha do velho Benevides Lobo da Manga e de dona Clotildes professora, pessoas de posses, a haviam mandato estudar na cidade da Bahia e por lá se formou em medicina, se estabeleceu, se casou e trabalhou por longos anos com consultório renomado na Avenida Sete e ele com clínica para ricos na Vitória, ambos ficaram riquíssimos com a graça de Deus e o trabalho, mas ela enviuvou, desgostou de tudo e de tanto folhear e ler as páginas da bíblia e a orientação de um monsenhor chamado Pólux decidiu comprar uma extensa área de terra na Manga e implantar uma fazenda modelo que se chama Arca de Noé e tal como fez o eremita trouxe para povoar sua arca, as terras que tinham esse formato, uma baixada imensa com córrego d’água habitado por duendes e ninfas, duas alças de montanhas em forma de arco, adquiriu bichos de todas as espécies para habitar o local, um casal de gansos, um jegue e uma mula, dois avestruzes – macho e fêmea; um casal de pavões; quatro vacas e um touro da Índia, um galo e uma galinha, duas emas, casal de porcos, diria de todos os bichos que existem no nosso país e só não fez como Noé importando bichos da África por seu conselheiro na implantação da fazenda um homem que era surdo ou quase isso que tinha o apelido de Olho de Boi disse que seria muito exótico criar girafas e leões na fazenda, não havia uma savana para isso, nem um rio Congo, onde, portanto, hipopótamos poderiam banhar-se e elefantes se alimentarem, mas, o que foi de bicho do sertão ela comprou e levou, galinhas, saques, perus, patos, gatos, cachorros, e ela era uma senhora distinta, elegante, quando naquela época na Serrinha mulher de óculos escuros no rosto era uma novidade, só as madames dos ricos possuíam porque chegavam da França via o trem da Leste, ela tinha uma caixa repleta de óculos franceses e italianos, mas o que ela gostava mesmo era da sua Arca de Noé, deu adeus a medicina, deu adeus a vida urbana, só queria saber da natureza, de acordar cedo, tirar leite de suas vaquinhas, colher ovos de suas poedeiras, andar pelos campos, admirar a beleza dos seus animais.

O senhor Melinho que também era da roça estava de queijo caído com a apresentação de Castor pediu um aparte e louvou o que estava sendo dito acrescentando que assim é a vida prazerosa no campo, porém, até então, o que descrevera era um lugar comum entre eles.

Castor retoma a palavra: -  Ora meu abnegado Melinho, ainda não terminei minha oração e agora é que vou falar o melhor porque se tivemos uma menina da Cobiça que fala com os bichos, essa senhora que todo mundo na Manga só conhecia como Dona O, os mais íntimos também chamavam de Ozinha, Florzinha, não tinha essa capacidade de falar com seus bichos, mas ficou tão apegada ao casal de pavões e vendo-os voar sobre suas terras e indo, às vezes, até o Morro 2 Irmãos lá pro lado da Cabeça da Vaca, e também até o Morro do Fundo, na Serrinha, certa feita ao se aproximar do pavão macho e acariciar sua penugem este se abaixou e ela sentiu vontade de subir no animal, uma coisa que só pode ter sido o dedo de Deus, e ele aceitou e se aprumou e ela se ajeitou no dorso do animal e o bicho levantou bateu asas e voou acompanhado pela pavoa e Dona O pode observar pela primeira vez na vida suas terras, sua Arca de Noé com uma visão lá do céu, uma maravilha, uma coisa fantástica, e isso se repetiu muitas vezes e chegou a tal ponto que na festa de Nossa Senhora do Belém, na nossa sede do distrito da Manga, a igreja e a praça embandeiradas, a Filarmônica 30 de Junho pressente, Dona Osinha chegou ao evento montada no seu pavão para alegria do povo e a graça de Deus e foi algo que maravilhou a todos aquela senhora apear do pavão, ajeitar seu chapéu, colocar um véu sobre o rosto e adentrar na igreja de Nossa Senhora de Belém sob aplausos.

E assim. Castor encerrou seu conto.