Cultura

SÃO JOÃO DO CARNEIRINHO, O MAIS QUERIDO DO NORDESTE p ZÉDEJESUSBARRÊTO

São João segundo a IC era filho de Zacarias e Isabel, primo de Jesus Cristo
ZedeJesusBarrêto ,  Salvador | 23/06/2022 às 13:52
A cabeça de João foi entregue a Salomé
Foto: REP
   Viva SanJoão !!! 

Dos santos católicos de junho João é o mais festejado, sobretudo no Nordeste. O São João é uma mistura de tradições, crenças, ritos, folguedos... 

Só alegria. 

Fogueira, fogos, balões, bandeirolas, forró, quadrilhas (no bom sentido), rezas, mesa farta, encontros, família, superstições, promessas, juras, estórias, meninada ciscando ... Muitas histórias. 

João, segundo a Bíblia, era primo de Jesus; João o precursor de Cristo, a quem batizou nas águas do rio Jordão. 

Mas quando o culto católico a São João chegou ao norte da Europa já existiam os cultos dos celtas e outros povos aos deuses, ou deusa Terra-Mãe, da fertilidade. A festança tinha seu ápice na longa noite do solstício de verão no hemisfério norte, 21 de junho. Então, acendiam-se fogueiras e em torno delas dançavam, comiam, bebiam, louvavam, pediam, agradeciam, se amavam livremente, faziam muito sexo noite a dentro. Viva a fertilidade, os prazeres. Festa pagã, pecaminosa do ponto de vista católico. 

Como se sabe pela História, a Igreja Católica chegou dominando, reprimindo, se apropriando, colonizando, catequizando, modificando ritos e costumes, pregando e exigindo obediências ao papado romano.

Essa devoção a São João, louvando-o com fogueiras, comilanças, danças, cantigas e chamegos foi trazida para o Brasil pelos europeus colonizadores, católicos. Aqui nos trópicos, São João acolheu também a fé, a religiosidade de nossa gente misturada – as manifestações das comunidades indígenas e os cultos ancestrais dos africanos que por aqui aportaram, escravizados.

Assim, o São João das fogueiras, passa a ter aquela relação sincrética com os inkisse, orixá, vodum, caboclos e encantados que guardam e emanam a energia do fogo, o sagrado fogo da fertilidade e da abundância, dos prazeres e da alegria de viver. Chama é vida.
Viva o Xangô menino! Viva o São João festeiro ! 


Seguindo as escrituras adotadas pela Igreja de Roma, João nasceu num dia 24 de junho, alguns anos antes de vir ao mundo seu primo Jesus. E teria morrido no fim de agosto do ano 31 d.C., na Palestina, decapitado por ordem do malvado rei Herodes Antipas, a pedido de sua enteada, uma jovem e bela dançarina chamada Salomé. Motivo? Vinganças de alcova, sacanagem da mãe de Salomé, que transava no lusco-fusco com o poderoso. João, um contestador contumaz, esculhambava os entronados da Galiléia e por isso estava preso. 
Sua cabeça terminou entregue numa bandeja dourada a Salomé, sabe-se lá com qual serventia. Mas está lá escrito. 

  Bem, João era filho de Zacarias e Isabel; essa, prima carnal de Maria, a futura mãe de Jesus, a que é venerada como Nossa Senhora, a virgem imaculada. Diz que Isabel, quando engravidou, prometeu a Maria que avisaria quando a criança nascesse acendendo uma fogueira bem lá no alto onde morava para que a prima visse. A fogueira como luz da vida e da vinda de João. João viria anunciar a vinda de Jesus, o Cristo, o Salvador, o Filho de Deus. João, o profeta, o pregador mal vestido, um líder libertário de língua solta, doidão, comedor de gafanhotos...

 Na imagem difundida de São João pela Igreja ele aparece bem jovem e carrega um carneirinho no colo, um simbolismo, porque ele foi o predecessor e anunciador do Cordeiro de Deus, Jesus, a quem batizou nas águas do Jordão, o Cristo.

 Daí o nome São João Batista; ‘batista’, o batizador. 

*
Então, não deixemos morrer essas demonstrações de uma fé que é cultura, tradição popular. Já não se deve mais soltar balões, os fogos de artifício andam muito caros, mas nos esforcemos para acender a fogueira na porta da casa, uma velinha no oratório, aquela roupa colorida... 

E vamos dançar um forró gostoso, quadrilhas juninas, rastapé daqueles de sanfona e zabumba e triângulo, e brincar, passear, olhar pro céu, namorar, louvar, tomar licor, comer canjica, pamonha, milho verde cozido, assado, cuscuz, bolo, doces, batatas, amendoins... Assim festejemos. Agradeçamos pelo fogo, a chama da vida.

E Viva São João!