Cultura

IGREJA SAINT-ÉTIENNE-DU-MONT ONDE ESTÁ SEPULTADA A PADROEIRA DE PARIS

Um templo dos mais belos da cidade na parte interior com seus vitrais e obras de arte
Tasso Franco , Paris | 26/05/2022 às 06:53
Saint-Éttiene-du-Mont, Quartier Latin, Paris
Foto: BJÁ
     PARIS - Saint-Étienne-du-Mont é uma igreja católica situada no Monte de Santa Genoveva, no 5º arrondissement, Quartier Latin. Nela, está a tumba com os restos mortais de Santa Genoveva, padroeira da cidade, e também de Blaise Pascal e de Jean Racine. É belíssima no seu interior e a entrada é gratuita. No exterior tem uma fachada sem despertar tanta atenção, mas, quando se entra no templo o visitante é surpreendido pelas obras de artes e os vitrais.

   Santa Genoveva nasceu em Nanterre no ano de 422, de uma família muito simples. Quando tinha apenas 8 anos, o bispo Dom Germano estava indo da França para a Inglaterra em missão. Passou por Nanterre para uma celebração e, ao dar a bênção para o povo, teve um discernimento no Espírito Santo e chamou aquela menina de oito anos para a vida consagrada. 
 
    Não demorou muito tempo, ela fez um voto a Deus para viver a virgindade consagrada. Com o falecimento dos pais, dirigiu-se a Paris para morar na casa de uma madrinha. Ali, viveu uma vida de oração e penitência de oferta a Deus para a salvação das almas. Então, foi ficando conhecida pelo seu ardor, pelo seu amor e pelo desejo de testemunhar Jesus Cristo a todos os corações.

  Quando os hunos estavam para invadir e destruir Paris, Genoveva chamou o povo para a oração e penitência; e não aconteceu aquela invasão. A sua fama de santidade e sua humildade para comunicar Cristo Jesus aumentou. 
 
 Genoveva morreu em 512, aos 90 anos de idade. Seu corpo foi levado para a igreja dos Santos Apóstolos. Em 1129, a França, estava desolada por uma peste, chamada doenças dos ardentes. Estêvão, bispo de Paris, pediu ao povo que invocasse a intercessão de Santa Genoveva. Imediatamente, as curas começaram a aparecer, até que em poucos dias a peste desapareceu. Foi chamado de “Milagre dos Ardentes”. A partir disso, o Papa Inocêncio II, ordenou celebrar-se todos os anos a sua memória.

  A IGREJA

   O lugar onde ela foi construída, a Montagne Sainte-Geneviève, é um dos mais antigos da cidade. Em 502, Clovis, o primeiro rei francês, construiu, no então Mont Leucoticius, uma igreja dedicada a Saint-Pierre e Saint-Paul (São Pedro e São Paulo), assim como uma abadia, da qual o templo iria fazer parte.

  Ele, sua esposa, Clotilde, e Geneviève passaram a frequentar o lugar e desejavam ser enterrados ali. Em 512, Geneviève morre e, graças à sua religiosidade e aos feitos que fez para salvar Paris dos hunos, é proclamada santa e padroeira da cidade. Assim, a abadia passa a ter seu nome: Sainte-Geneviève.

Até 1220, os empregados e frequentadores da abadia assistiam à missa nesta igreja fundada por Clovis. Só que o número de pessoas aumenta e o lugar fica pequeno. Assim, o papa autoriza o bispo de Paris a construir uma nova igreja, ao lado daquela fundada por Clovis. O nome escolhido para o novo templo é Saint-Étienne, considerado o primeiro mártir cristão.

Porém, no final do século XV esta nova igreja já era também muito pequena. Graças ao desenvolvimento do Quartier Latin, provocado principalmente pelas universidades, Saint-Étienne já era uma das maiores paróquias de Paris. Então, é decidido derrubar a construção existente e construir uma nova igreja no lugar.

Os trabalhos começam em 1492 e duram nada menos do que 132 anos, até 1626. Essa demora é por causa do período turbulento pelo qual passava a França, especialmente com as Guerras de Religião. Nesta fase final de construção, a igreja foi financiada por Marguerite de Valois, a rainha Margot, primeira mulher do rei Henri IV, que coloca a primeira pedra da fachada em 1610.

Na época da Revolução Francesa, a partir de 1789, a Saint-Étienne foi saqueada e sofreu mutilações. Também deixou de ser dedicada ao culto católico e se tornou templo da Piété Filliale (Piedade Filial). Somente em 1803 ela foi devolvida aos católicos. É desta época boa parte do mobiliário que encontramos hoje.

Em 1802, a abadia e a sua igreja (aquela construída por Clovis, ao lado da Saint-Étienne) são demolidas e a pedra do túmulo de Sainte-Geneviève é transferida para a igreja Saint-Étienne. O túmulo da santa havia sido destruído durante a Revolução Francesa: seus ossos foram queimados na Place de Grève (onde hoje fica a praça do Hôtel de Ville) e as cinzas jogadas no Sena. Assim, só sobrava a pedra tumular sobre a qual o corpo da santa havia repousado.

 DOIS ESTILOS

 A igreja Saint-Étienne-du-Mont reúne dois estilos: a delicadeza do Gótico e a majestade do Renascimento. Além disso, ela guarda em seu interior verdadeiras jóias artísticas, com um mobiliário que vai do começo até meados do século XIX e vitrais dos séculos XVI a XIX.

 Mede 68 metros de comprimento, 29 metros de largura e 25 metros de altura. Ela tem 21 capelas, dentre as quais verdadeiras obras-primas, como, por exemplo, a Chapelle Sainte-Geneviève, a Chapelle de la Vierge e outras. 

A fachada principal é de estilo renascentista. Ela tem o formato piramidal e é imponente, baseada em um desenho de Claude Guérin (século XVI). Ela tem três níveis.

 O primeiro, quatro colunas compositas cercam o portal. No tímpano há uma lapidação de Saint Étienne, esculpida por Gabriel-Jules Thomas. Em nichos, vemos uma estátua do santo, obra de Joseph-Marius Ramus , e outra de Sainte-Geneviève, de autoria de Pierre Hébert. No frontão, um alto relevo de Auguste-Hyacinthe de Bay representando a Ressurreição de Cristo.

O segundo nível tem a Rosácea, medieval, e um frontão curvilíneo que leva as armas da França e da abadia Sainte-Geneviève. Nos nichos, estátuas do Anjo Gabriel e da Virgem Maria, obra do escultor Joseph Félon.

No último nível, o gablete, com uma rosácea elíptica. O campanário, do qual a base data do século XV, é flanqueado por uma pequena torre que abriga uma escada.

Apesar dos diferentes estilos em sua construção e em seu mobiliário, o interior da Saint-Étienne apresenta unidade e harmonia. A igreja possui um dos mais valiosos conjuntos de vitrais originais, a maior parte deles realizada nos séculos XVI e XVII.

Logo na entrada, duas pias de água benta, em forma de mexilhões gigantes. Elas foram dadas pelo rei François I, no século XVI. Em cima da porta de entrada, o quadro Sainte Geneviève gardant les moutons (Santa Genoveva guiando ovelhas), obra de Léon Fleury, 1852. Em cima da outra porta, do outro lado, Saint Benoît dans les solitudes de Subiaco (São Bento na solidão de Subiaco), pintado em 1853, por Hippolyte Lanoüe.

A nave data de 1586 e compreende dois níveis de arcadas, separadas por um parapeito com balaústres. As abóbadas de ogivas são decoradas por flores-de-lis, símbolos da França, e pelos brasões dos abades de Sainte-Geneviève. Os vitrais são do final do século XVI e são atribuídos a Nicolas Pinaigrier.

O púlpito, onde se pregava, é monumental e foi realizado em 1651 por Germain Pillon. Ele é suportado por um Sansão ajoelhado sobre um leão e segurando a mandíbula de uma mula. Acima, estátuas de mulheres representam as virtudes. Baixos relevos, em forma de medalhões, representam os evangelistas, os doutores da Igreja e cenas da vida de Saint-Étienne. O conjunto foi esculpido por Claude l’Estocart e é uma das obras-primas do mobiliário religioso de Paris.

PRIMEIRO MÁRTIR

Saint Etienne, primeiro mártir e padroeiro da diocese - Igreja Católica de Seine et Marne - diocese de Meaux : Etienne é o primeiro mártir. Também o seu testemunho sempre manteve um valor exemplar na Igreja. Escolhido como líder dos Sete que deveriam aliviar os Apóstolos das tarefas materiais, ele também participou do anúncio da Boa Nova. Foi como testemunha de Cristo ressuscitado e como imitador da sua paixão que morreu apedrejado em Jerusalém.

O relicário de Santa Geneviève , vazio de suas relíquias desde a Revolução Francesa, é mantido lá. A igreja também abriga um órgão cujas origens e buffet remontam à década de 1630. É a última igreja parisiense onde ainda é possível ver uma tela de madeira .