Cultura

SERRINHA:COMUNICAÇÃO DA SOCIEDADE COM O PODER NOS ÚLTIMOS 80 ANOS (TF)

A novidade é o uso das novas tecnologias usadas a partir de 2021, agora com a criação do movimento social Movimento Parque Infantil
Tasso Franco , Paris | 14/05/2022 às 13:23
O Serrinhense foi meio valioso entre 1940 até meados da década de 1950
Foto: Arquivo do autor
      PARIS - Este artigo tem por objetivo analisar a comunicação entre a população de Serrinha e a atividade política nos últimos 80 anos e como se processou a evolução dos meios de comunicação e dos atores envolvidos nesses processo ao longo dessas oito décadas. Isto é, como a comunicação deixou de ser boca-a-boca e/ou através de meio impresso e passou a ser eletrônica com a internet.

  Na década de 1940, a política em Serrinha era dominada majoritariamente pelo grupo do PSD comandado pelo médico André Negreiros Falcão, o qual chegara a cidade em 1925 para trabalhar na Leste, se casou com a filha do farmacêutico Leobino Ribeiro e se tornou um político influente alavancado pelo getulismo - a ditadura de Getúlio Vargas, a parrir de 1930. Estavam alinhados com André seu cunhado José Vilalva Ribeiro, o coronel Nenenzinho, o fazendeiro João Barbosa - todos ex-prefeitos -, Manoel Geraldo de Oliveira e outros.

 Na eleição de 1954, surge uma frente ampla de partidos da oposição e um movimento social emanado da população, independente dos partidos ou agregados a estes, chamado "Bandeira da Esperança" e elege prefeito Horiosvaldo Bispo dos Santos (Lourinho), levando o candidato de André a derrota. 

  Até então, a comunicação entre a sociedade e a política se dava através do boca-a-boca, da realização de obras, dos vereadores, da imprensa escrita (O Serrinhense, fundado por Reginaldo Ribeiro), de panfletos, dos serviços de auto-falantes e dos comícios. Meu pai (Bráulio Franco) era um dos atores contra André, pois, comandava o jornal semanal "O Serrinhense", publicava folhetos lançados embaixo das portas das casas com artigos assinados por um seu pseudônimo Zeferino Catingueiro, impressos em sua tipografia com a ajuda de Gilberto Nery e escrevia editoriais que eram lidos por Dodô de Zé de Maninha no serviço de Alto Falante "A Voz do Sertão".

  Mas, essa ação, era limitada porque Serrinha, nessa época, tinha a dimensão de um pequeno país europeu. Sua divisa ao Norte atingia a distância de 90 km até Tucano; a Noroeste até Nova Soure; a Leste com Irará. Portanto, era um mundo em que, os vereadores distritais do Raso (Araci), Manga (Biritinga), Pedra (Teofilândia), Lamarão e Barrocas tinham força e poder. Eram eles, muitas vezes que decidiam as eleições. 

  Além disso, a população do município era mais rural do que urbana, boa parte analfabeta, portanto, o meio impresso - jornal e folhetos - causava apenas algum rebuliço entre os letrados da cidade, tendo, uma força limitada. Mas, incomodava muito a cúpula adversária ampliando essa ação com os serviços dos alto-falantes.

  O tempo foi passando, André foi ficando velho e cuidando mais da Escola Bahiana de Medicina - seu fundador - do que da política e uma nova mudança na política e nos meios de comunicação vieram acontecer na década de 1970, primeiro com a volta do PSD e uma remodelada cara, comandado por Plínio Carneiro, um advogado que se aliançou com o governador Luis Viana Filho e seu filhio Luis Viana Neto elegendo-se deputado estadual e a seu irmão Aluisio Carneiro (prefeito) contra Didi Queiroz. 

  Nesta eleição ainda prevaleceram as velhas tecnologias da comunicação e um meio novo, a rádio. O "O Serrinhense" não mais existia, continuaram os panfletos, o boca a boca, comícios e a ação dos vereadores, porém, o município havia encolhido com as emancipações no governo Lomanto Jr, de Araci, Teofilândia, Lamarão e Biritinga, trabalho relevante de Ana Oliveira, deputada serrinhense da Pedra e do seu irmão Teófilo, que era secretário de Lomanto, e acabou dando nome a Teofilândia.

  Ao entrar em cena um novo meio de comunicação - uma emissora de rádio  - isso ajudou muito a consolidar a liderança de Plínio no município. Assim como a TV, em Salvador, fez creser o grupo de ACM ao conseguir com Roberro Marinho a concessão da Globo (TV Bahia) retirando a força do vianismo na TV Aratu, em Serrinha, a rádio fez uma enorme diferença, pois, com município menor, o alcance à população rural foi imensa sobretudo com o advento do rádio de pilha.

  Na campanha de 1974, Antonio Ramalho contra o candidato plinista Mariano Santana, que parecia ganha para Ramalho, um politico com experiência contra Mariano, um neófilo e sem carisma, a rádio fez toda a diferença difundindo que Ramalho, por ser evangélico (na época usava-se a palavra crente) iria fechar as capelas e a igreja matriz, acabar com as festas, remetendo que se tratava do candidato do demo; enquanto Santana era o candidato de Deus. Venceu Mariano.

  Meu pai manteve a produção de folhetos e produziu também um ABC tipo cordel e inúmeras caixas de fósforo com a cara de Ramalho, mas, não deu. O meio radiofônio era muito mais poderoso. O efeito dessa campanha foi tão grande que dessestabilizou o padre Demócrito Mendes de Barros.

   Entre 1970 e 1990, Plínio dominou a política serrinhense até que, no inicio dos anos 1990, um novo movimento social praticamente repetindo a "Bandeira da Esperança" elegeu Claudionor Ferreira da Silva (Ferreirinha) pondo fim - aparente - a hegemonia plinista.

   Nesta campanha, já com outras rádios em Serrinha, o meio radiofônico continou como elemento mais importante da comunicação aliado aos comícios e ao papel dos veredores, mas, obviamente, havia a vontade de mudança no campo politico. 

   Também pela primeira vez, em Serrinha, foram utilizadas peças do marketing moderno que nasceram a partir de 1986 com o fim da lei Falcão levados à Serrinha e à campanha de Ferreirinha por Eduardo Saphira, seu cunhado. Peças criativas foram lançadas e todo um trabalho de marketing - jingles, videos, etc - foi realizado nesta campanha o que ajudou em sua eleição.

   Depois, durante 24 anos, houve uma aliança Ferreirinha-Popó-ZéValdo tudo junto e misturado com o plinismo revezando-se no poder por duas décadas e meia até que, surgiu a candidatura de Osni Cardoso, PT, que iria acabar com essa tri-dobradinha. Osni, que seria o novo, patinou no primeiro mandato (2008/2012) e para reelegar-se esqueceu o petismo original e aliou-se com o triunvirato conseguindo um segundo mandato. Ou seja, Osni virou velho antes de ser o novo.

   A comunicação mudou de tom somente na primeira campanha de Osni com a ideologia do PT sendo disseminada na sociedade ancorada no governador Jaques Wagner e no carisma de Lula. Isso foi fatal para a oposição. Os meios de comunicação continuaram os mesmos -rádio e panfletos - e uma mudança na concepção de comícios passando a ser mais carreatas e bandeiradas do que comícios tradicionais.

   Assim sesguiu até a eleição do atual prefeito, Adriano Lima, já em segundo mandato, ele que é uma cria do triunvirato, pois, é filho de José Valdo. E, eleito foi, graças as alianças no primeiro mandato; e no segundo também, eis que, com Ferreirinha, seu adversário no primeiro, que emplacou o vice-prefeito, seu filho.

  A partir da campanha do segundo mandato de Adriano, em 2020, regista-se que somente neste momento a internet entrou como meio valioso de comunicação, porém, nada decisivo. O prefeito, hoje, é o politico de Serrinha que melhor usa a internet, tanto no plano institucional quanto no político; mas, já tem seguidores nesse campo, Edylene Ferreira, usando-a muito bem; Osni um pouco menos; e os vereadores ainda com pouco destaque. Lembrando que a internet, sozinha, não elege candidato. Ailton Pimentel entendeu que seria vereador graças ao uso desse meio e não consegui. 

  É nesse ambiente que, pela primeira vez, no município, um novo movimento social e político intitulado - Movimento Parque Infantil (MPI) - usa as novas tecnologias da inteligência artificial e da robótica através do Watts'App para defender uma causa da comunidade diante da omissão da Câmara de Vereadores, qual seja, a reforma da Praças Luis Nogueira e o fim do jardizinho e do paque Infantil Tonho Neto que é emblemático para várias gerações de serrinhenses. O MPI nasceu a partir dessas insatisfações e de pessoas que nada têm a ver com a politica partidária.

 Estamos tratando de comunicação e não de política. Se o MPI terá sucesso no campo político são outros quinhentos. O que analisamos agora é que a internet entrou de vez nas relações entre os cidadãos e o poder público de Serrinha, o que, aliás, já vinha sendo bem utilizado por Adriano. 

  Desta feita, no entanto, fazendo um contrapondo que é dar voz a sociedade em não aceitar projetos do poder público que não sejam avaliados por ela, uma vez que a Câmara, que tem um papel relevante no município e os vereadore atuam em várias frentes, tem sido desleixada quando se trata do patrimônio histórico da cidade e aceita a demolição do Mercado Municipal, a ruina do Paço, uma reforma mambembe da Praça Luis Nogueira, o sucateamento da Estação Ferroviária, o desabamento parcial das torres do Colégio Rubem Nogueira  e outros.

  Essa, é, pois, a novidade da comunicação nas relações sociedade-poder e quem não prestar atenção a internet e seus múltiplos aplicativos e as rede sociais - Facebook, Tswitter, Instagram, etc, ficará deslocado fora do tempo. A propósito, até agora, o prefeito não respondeu ao requerimento do MPI solicitando uma audiência para tratar da reforma do jardinzinho.
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  Recapitulando: Entre 1940/1970, as relações da sociedade serrinhense com o poder institucional (politico) se dava com o meio impresso prioritário - jornal e folhetos -, o boca-a-boca, vereadores, obras, comícios; entre 1970/1990 esses mesmos meios mais uma emissora de rádio; 1990/2020 mais rádios, novas formas visuais de comunicação - videos, jingles, etc - vereadores e carreatas; a partir de 2020 o uso da internet entra em cena. Uma melhor avalição do uso da internet só poderá ser feita em 2025, aproximadamente. (TF)