Cultura

LISBOA, CAP 12: MIRADOURO DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA A MAIS BELA VISTA

Um dos mirantes da capital portuguesa mais visitados pelos turistas e portugueses
Tasso Franco , Salvador | 11/05/2022 às 04:24
Do local tem-se uma bela vista da cidade
Foto: BJÁ

Deixamos a casa de Fernando Pessoa maravilhados com a vida e obra do poeta e fotografei e filmei de tudo, da replica da cama do escritor e sua famosa arcada onde guardava os poemas. Voltamos aonde o taxista surdo deixou-nos, andamos um pouco até as proximidades do Mercado do Ourique e pegamos um outro táxi dirigido por um taxista extremamente educado e menos surdo do que o outro.

  Nos acomodamos - eu à frente e as Jesus no banco traseiro. Disse ao senhor que gostaria de visitar o templo de Dom Pedro de Alcântara, achando que era uma igreja. O taxista era discreto - senhor de alta idade - e foi mostrando alguns sítios da cidade, explicando que passara próximo da entrada da Av Liberdade, recomendando que deveríamos visitá-la, e chegamos a uma colina. Ele disse: - É aqui, um belo lugar. - Pensei que fosse uma igreja, respondi. - É um mirante dos mais belos de Lisboa. - Minha neta arreliou: - Conversa de doidos.

   Saltamos e andamos para a grande praça. O Miradouro de São Pedro de Alcântara integra uma das sete colinas de Lisboa. Fica situado no bairro da Misericórdia a pouca distância da Santa Casa e museu de São Roque e também próximo do Chiado. Circuito que pode ser feito andando a partir do Largo do Chiado. Do mirante - em dois planos - tem-se uma visão de parte da cidade, do Tejo, Alfama, Mouraria e do Castelo de São Jorge olhando-se de frente.

    É um local de lazer, de descanso, de contemplação, de ouvir música ao ar livre e existe um quiosque com cadeiras espreguiçadeiras e muitos bancos na parte alta do mirante para as pessoas sentarem e contemplarem a paisagem. O jardim propriamente dito fica na parte baixa e usa-se escadas para se chegar ao local. Há lunetas no local (1 euro) para se ter uma visão mais de perto da cidade. Com a pandemia da Covid essas lunetas entraram em desuso. As pessoas temem colocar os olhos nas lentes e pegar o vírus.

   O projeto original remonta ao século XVIII, de autoria do 2º arquiteto do palácio Convento de Mafra João Pedro Ludovice, filho de João Frederico Ludovice, arquiteto de Mafra, onde El-Rei D. João V manda construir uma muralha com 20 metros de altura nos terrenos de São Pedro de Alcântara com vista a criar uma Mãe de Água – um depósito monumental que prolongaria o Aqueduto das Águas Livres até à Graça. 

   Existe um mapa em azulejos junto à balaustrada que ajuda a identificar alguns locais de Lisboa. O panorama estende-se desde as muralhas do Castelo de São Jorge rodeado pelas árvores e da Sé de Lisboa (séc. XII), nas colinas a sudoeste, até à Igreja da Penha de França do século XVIII, a noroeste. Também é visível o grande complexo da Igreja da Graça, enquanto que São Vicente de Fora é reconhecível pelas torres simétricas em volta da fachada branca.

   Os bancos e as sombras das árvores fazem do miradouro um lugar muito agradável. Para chegar até ao miradouro pode-se optar por subir a Calçada da Glória ou então subir pelo Elevador da Glória (28) que o deixa bem perto do miradouro.

   Deixei as meninas nas espreguiçadeiras do quiosque lanchando e fui ver uma banda de country que tocava num dos pontos da praça. Maravilha. Muitos aplausos. Gratifiquei-os com 1 euros. É o que podia pagar.

  É impossível andar pela Cidade das 7 Colinas e não se deparar com um miradouro. Lisboa é uma lapinha dessas que a gente constrói na época do Natal, simétrica, elegante, barroca, sei lá mais o que. Inspira os poetas e os escritores de crônicas como eu. Tivesse mais saber em minha pena poderia descrevê-la a rir e a chorar. 

  Segundo o livro das Grandezas de Lisboa, 1621, por frei Nicolau de Oliveira, mitógrafo da cidade, teria sido ele que descreveu pela primeira vez as sete colinas sagradas (septimontium), quais sejam: Castelo, São Vicente de Fora, São Roque, Santana, Chagas, Santa Catarina e Santo André.

  Em sendo assim, o Miradouro São Pedro de Alcântara não integra, em si, as sete colinas. Teria sido um arranjo urbano edificando-se uma praça e um jardim.

  Seriam, digamos assim, cinco miradouros e sete colinas, tudo junto e misturado. Miradouro da Senhora do Monte - é possível localizar o centro histórico, o Castelo de São Jorge, a Ponte 25 de Abril e a margem sul do Tejo. Já estive por lá, em 2019, de tuk-tuk e um brasileiro tocava bossa nova num dos bancos amealhando euros e aplausos; Miradouro de São Pedro de Alcântara - que estou descrevendo acima - fica entre o Chiado e o Príncipe Real; Mirante Amoreiras - topo do Amoreiras Shopping Center é o único que oferece uma vista 360° de Lisboa - dá até para ver o Padrão dos Descobrimentos e o Mosteiro dos Jerónimos, no bairro de Belém; Miradouro do Parque Eduardo VII, no bairro das Avenidas Novas onde vê-se a estátua do Marquês de Pombal e a Avenida da Liberdade; Miradouro de Santa Catarina (do Adamastor) bom para curtir o pôr-do-sol, tendo o rio Tejo bem perto das vistas. Também já  visitei juntamente com dona Antônia - minha sogra - e minha esposa Ohara Jesus. Para conseguir uma mesa no único quiosque do local, penamos. Mas, valeu a pena. Tem um bando de grunges por perto. A estátua do monstro Adamastor, figura imaginada por Luís de Camões, em “Os Lusíadas”, é  fantástica. Não amedronta com reza Camões.

Bem, chegamos ao Mirante do São Pedro de Alcântara de táxi, mas, o melhor é usar o Ascensor da Glória bondinho plano inclinado que passa rente às casas. Quando fui ao Adamastor usei o Ascensor da Bica, bairro de muitas ladeiras e ruas estreitas. Parece o Plano Inclinado Gonçalves, em Salvador. 

 No Miradouro de São Pedro de Alcântara há um mapa de azulejos que ajuda o turista a identificar alguns pontos. O monumento que está no centro da Praça representa Eduardo Coelho - fundador do jornal Diário de Notícias, em 1864, e que até hoje é um dos principais do país. No Bairro Alto, que fica próximo, tem uma rua chamada Diário de Noticiais. Uma boa ideia. Salvador poderia ter ruas chamadas de Diário da Bahia, Diário de Noticias, Jornal da Bahia e Momento, jornais que existiram na cidade e fecharam, mas de grande importância.

Em algumas épocas do ano, como no Natal, o Miradouro de São Pedro de Alcântara acolhe um pequeno mercado, onde o turista pode encontrar comida e artesanato local. Próximo, fica o Solar do Vinho do Porto, um local onde você encontra diversas opções para degustar o Taylor.

São Pedro de Alcântara era o santo de devoção da Família Real portuguesa e Imperial do Brasil. O seu nome - Pedro de Alcântara - foi escolhido como de batismo de dois imperadores do Brasil, D. Pedro I e D. Pedro II.

Na real, Pedro de Alcântara é o nome de batismo de Juan de Garabito y Vilela de Sanabria (Alcântara, 1499 — Arenas de San Pedro, 18 de outubro de 1562) frade franciscano espanhol que fez grandes reformas na sua ordem religiosa, a Ordem dos Capuchinhos, no Reino de Portugal.

Nasceu no seio de uma família nobre. Estudou direito na Universidade de Salamanca, mas abandonou os estudos e adotou vida religiosa em 1515 no Convento de San Francisco de los Majarretes, perto de Valência de Alcântara, onde tomou o nome de frade Pedro de Alcântara. Foi ordenado em 1524, com 25 anos.

Viajou até Portugal em 1539 para ajudar o seu parente Martín de Santa Maria Benavides a reformar uma das províncias franciscanas. De 1542 a 1544, foi guardião e mestre de noviços em Palhais. Com a morte de Martín, em 1546, foi Pedro de Alcântara quem deu seguimento a seu trabalho, sendo, por isso, muito apreciado pelo rei Dom João III.

Logo estabeleceu-se na Serra da Arrábida e, aí, ajudou a fundar uma série de mosteiros para os chamados Arrábidos (ou Capuchos, noutras zonas do país), nomeadamente o chamado Convento de Nossa Senhora da Arrábida. Escreveu toda a regra da comunidade lá perto, em Azeitão.

Era notável pregador e místico, amigo e confessor de Santa Teresa de Jesus a quem terá ajudado, em 1559, na tarefa de reforma da Ordem dos Carmelitas, a par de São João da Cruz. Escreveu o "Tratado da Oração e Meditação" que terá sido lido por São Francisco de Sales. 

Foi por onde passamos até chegar ao Chiado. Em Lisboa, por onde se anda na cidade velha tem que se cercar de história.