Cultura

A CADEIRA E O ALGORITMO,CAP 30: A DEMOCRATIZAÇÃO DAS NOVAS TECNOLOGIAS

O "sapiens" está se beneficiando disso de maneira universal para todos
Tasso Franco ,  Salvador | 09/05/2022 às 04:43
Confronto entre as bikes e as patinetes elétricas e/ou a convivência entre os dois meios
Foto: BJÁ

 Nos dias atuais, as novas tecnologias são usadas de forma universal pelas pessoas muito mais rápido do que no século XX. Essa especialidade se deve, em grande parte, graças a internet meio de comunicação que revolucionou de maneira global a humanidade. Mas, também, a outras invenções nas áreas de transporte, educação, saúde e infra-estrutura. Um conjunto de conhecimentos e práticas.

Ninguém poderia imaginar que uma invenção que surgiu nos EUA, em 1969, com o nome de Arpanet e cuja função era interligar laboratórios de pesquisa quando um professor da Universidade da Califórnia passou para um amigo em Stanford o primeiro e-mail da história. Essa rede pertencia ao Departamento de Defesa norte-americano. De lá para hoje, 53 anos apenas, houve modificações intensas na rede e o surgimento do iPhone.

  Lançado em 2007 pela Apple i iPhone mexeu com o mundo. Onde se vai, na Amazônia ou no Tasaquistão; em lugares remotos como nos confins do Alasca ou nas areias do deserto do Saara ele está presente em mãos de alguém.

  Quando digo que as novas tecnologias chegam mais rápido ao 'sapiens' para uso prático, efetivo, doméstico, lembro que nasci numa cidade do interior da Bahia, em 1945, e esperei 16 anos para fazer uso de uma rede de energia elétrica. Imaginem! Thomas Edison inventou a lâmpada elétrica em 1879 e D. Pedro II lhe concedeu, no mesmo ano, a permissão de implementar seus equipamentos no país para fins de iluminação pública.  Em 1880, a energia elétrica já era comercializada no país.

   Mas, como eu só fui desfrutar dessa nova tecnologia, em 1961, quase um século depois, se o trem chegou a minha cidade como grande inovação tecnológica, em 1880? 

   A questão é que para levar a energia ao interior do país era preciso uma rede de transmissão física com torres e fios e esse sistema interligado a uma hidrelétrica para mover as turbinas com a força de águas e gerar energia. E minha cidade só conseguiu isso em 1961.  

  Observe, então, o exemplo das três gerações de minha família: eu nasci em 1945 e a energia elétrica chegou na minha cidade em 1961. Esperei, portanto, 16 anos para ter esse benefício; meu pai (Bráulio Franco) nasceu em 1910, esperou 51 anos; e meu avô (Jovino Franco) nascido em 1880, um total de 81 anos de espera. 

   E o que aconteceu com o iPhone lançado por Steeve Jobs em 2007? 

   Meu pai e meu avô ja haviam falecidos. Eu comprei meu primeiro Iphone, em 2009, numa viagem que fiz aos EUA. Minha filha Nara, residente no Rio, também adquiriu o seu pouco tempo depois. E, meu segundo filho, nascido em 1994, em 2012 já tinha o seu. Observem o encurtamento da distância. Eu e minha filha esperamos 2 a 5 anos apenas e meu filho ganhou o seu na maioridade. 

  E como acontece nos dias atuais: pais e filhos pequenos estão utilizando iPhones para uma múltipla comunicação e uso de diversos aplicativos. E, o mais importante, houve uma democratização desse uso com linhas de financiamentos para as pessoas de todas as rendas. A minha secretária doméstica tem um Samsung; a passadeira um iPhone; meu médico um iPhone; o cabeleireiro um iPhone; o marceneiro, o porteiro, o professor, todo mundo tem um aparelho celular com acesso à internet. 

  As novas tecnologias nos dias atuais não se limitam ao iPhone. Este é apenas um exemplo. No campo da saúde pública, no Brasil, sobretudo depois da implantação SUS, todos os equipamentos modernos da ciência médica são usados indistintamente às pessoas. A universalização desses serviços permite que uma tomografia computadorizada possa ser aplicada a uma pessoa de baixa rede ou a uma de alta renda. Evidente que ainda ha pelo mundo à fora hospitais e clínicas privadas com alta tecnologia só para quem possa pagar pelos serviços, mas, no geral tanto os médicos quanto os pacientes procuram se atualizar no sentido de se adequarem aos procedimentos que envolvem a Inteligência Artificial e a Robótica.

  Há dez anos, pelo menos na Bahia, quando se ouvia falar que médicos utilizariam a robótica para fazer cirurgias nos pacientes ninguém acreditava. Achavam que era uma ficção. Hoje, vários hospitais já fazem cirurgias com o uso da robótica sem precisar dar cortes no corpo humano. Fiz, há três anos, uma cirurgia no coração para colocar 2 stents na circunflexa, num local complicado, e esse tipo de operação só era feito com a abertura do tórax. Pois, no meu caso ( certamente, também em outros) os médicos decidiram fazer pelo veia do braço, nem precisou usar a femural. Meu tempo de duração pós-cirúrgico no hospital durou menos de uma semana, o que numa cirurgia com a abertura do tórax o tempo seria muito maior e os riscos, idem.

  Hoje, quase todos os médicos se utilizam dos sistemas de imagens computadorizadas para sustentar com segurança seus diagnósticos sobre uma determinada patologia de um paciente. Algumas clínicas e todos os hospitais têm acoplados esses labs. Os médicos de consultórios utilizam os labs das empresas privadas espalhadas em quase todas as cidade de médio porte do Brasil. Gosto de dar meus exemplos porque sou velho - tenho muita história para contar - e vivia numa cidade do interior da Bahia até minha adolescência, sem energia. Então, quando fui ao meu primeiro dentista levado por meu pai, isso nos anos 1950, o doutor se chamava Palma, ele obturou meu dente pedalando  uma polia que acionava o aparelho. Era uma arte no sentido de fazer o procedimento odontológico e manter o equilíbrio no pedal num garoto com dor de dente, gritando e se mexendo pra lá e pra cá na cadeira.

  Na atualidade, uma cadeira de consultório dentário só falta falar: mexe em todo espaço, acomoda o corpo do paciente como quer, e os obturadores são silenciosos e emitem substâncias para evitar a dor. 

   O importante salientar nesse contexto que é objeto de nosso trabalho, uma análise da harmonização entre as novas e as velhas tecnologias, neste livro que estamos escrevendo por capítulos e tem  o título de "A Cadeira e o Algoritmo" que os avanços tecnológicos estão se democratizando numa velocidade muito grande e não são seletivos. Hoje, quem vai a uma loja ou a um supermercado, pode verificar isso na prática. 

  Você pode pesar suas frutas e verduras numa balança computadorizada e quando chegar ao caixa do supermercado a atendente apenas fará o registro da compra. E, em alguns países, o cliente paga suas compras no próprio carrinho do supermercado usando seu cartão de crédito, sem passar pelos caixas da loja. Em Salvador, algumas lojas de shoppings já usam esse sistema para compras de produtos diversos.

   Onde vamos parar? Essa tem sido a pergunta que sempre faço. Mas, para ela não há uma resposta. Com a Covid os cartões de crédito e débito passaram a ser por aproximação e uma startup brasileira já testa seu carro voador. Na guerra da Ucrânia, os drones substituíram os helicópteros e até agentes de espionagem tradicionais. Nas grandes cidades, as patinetes elétricas ocupam lugares de bikes e o dinheiro, o papel moeda, quem diria, já está sendo rejeitado não só no metrô de Paris, que ainda usa pneus de borracha (olha as velhas tecnologias se mantendo vivas), mas em vários outros locais.