Cultura

A CADEIRA E O ALGORITMO, CAP 27: BONCEAS INFLÁVEIS E O MUNDO ERÓTICO

Uma nova realidade que se apresenta no mercado de produtos eróticos
Tasso Franco ,  Salvador | 18/04/2022 às 07:26
A cada dia mais realistas
Foto: DIV

Um dos segmentos que mais cresceram em vendas durante a pandemia do Coronavirus - já dura dois anos e só agora (abril de 2022) começa a ter um relaxamento no Brasil sem a necessidade do uso de máscaras protetoras contra o virus e dá-se o retorno das relações sociais em eventos - foi o mercado de produtos eróticos. Entre os itens mais vendidos no mercado brasileiro estão os vibradores; e no âmbito mundial, especialmente na China, as bonecas de 'cyberstar' (material patenteado pela NASA), sucesso atual dos brinquedos eróticos.   

   As bonecas infláveis nos modelos mais atuais fabricadas com uso das novas tecnologias entraram nos catálogos de vendas on-line a partir dos anos 1980, mas, ganharam mais realismo - se é que podemos usar essa palavra - na década passada com o aperfeiçoamento das 'dollys'. Acredita-se, no entanto, que os primeiros modelos tenham sido feitos por marinheiros holandeses no século XVII. 

  Portanto, como estamos abordando em nosso livro intitulado "A Cadeira e o Algaoritmo - a harmonia entre as velhas e as novas tecnologias" esse item do vasto caleidoscópio - como diria Lacan - do mundo dos brinquedos eróticos é antigo e permanece atual. E, a cada avanço e expansão de vendas no mercado, os psicólogos e analistas de cabeças ainda não têm uma cultura estabelecida sobre o assunto.

  Afinal, o que faz com que 'sapiens' (especialmente chineses e japoneses, mas, de boa parte do planeta endinheirado) optem, hoje, de forma mais duradoura e não apenas como um momento de escape ou emergência (diz-se que Hitler encomendou infláveis para suas tropas) para uma dolly e/ou um boy permanentes? 

  Há depoimentos sobre alguns usuários considerados - aos olhos atuais - estarrecedores dando conta de que "são pacíficas, não proporcionam divórcios, não enchem o saco, não tem ciúmes e assim por diante". Ora, seriam, assim, ideais porque satisfazem no sexo (alguns, atuais, gemem e falam palavras amorosas) e não criam problemas. Isso valendo para os dois sexos?

  Mas, onde entram as relações sociais, afetivas, emotivas, do carinho, do amor, do debate, do companheiros, do acompanhamento e outros nesse contexto? 

  O 'sapiens' estaria entrando numa fase alienígena? Haveria bares e clubes onde possam os homens e mulheres levarem seus brinquedos? 

  Trata-se, pois, de algo que ainda está em debate. No Japão, já houve casos de pessoas que pediram para oficializar o casamento com uma cibyestar (que lá se chama rabu duru - bonecas do amor) e outros (dezenas) que levam suas bonecas ao parque, a pic-nics, aos restaurantes e assim por diante. E alguns homens (considerados solitários) já disseram que amam suas bonecas e querem ser enterradas com elas.

  Isso representa uma loucura? 

  Não. Trata-se de um novo tipo de comportamento do 'sapiens', de pessoas normais que trabalham - alguns são executivos - e levam uma vida considerada normal. O que vai advir disso, mais adiante, daqui a 20 ou 30 anos nos estudos da psicologia ninguém sabe. Os teóricos poderão dizer, hoje, que se trata de um devaneio, um artifício perigoso, uma irresponsabilidade, mas, o que vê, na prática, é que as vendas das (dos) infláveis só crescem. 

  Os dildos eram construídos em pedra e madeira e são considerados os mais antigos brinquedos eróticos do mundo, encontrados em 2010 numa caverna de Hohle Fels (Alemanha), um pénis ereto com cerca de 20 cm de comprimento e 3 cm de largura, feito de pedra (Galastri e Moskowitz, 2010; Nina, 2017). Os pesquisadores afirmam que este “brinquedo” sexual tinha entre 28 a 30 mil anos, data do período paleolítico superior, quando os seres humanos passaram a habitar cavernas. Ora, os dildos, hoje, ainda são muito comercializados em silicones, vibráteis e outros.

  Em matéria publicada pelo colunista Amaury Jr na internet - ano de 2020 - Denise Sato pioneira no ramo de sexy shop e colaboradora da feira Intimi Expo, trazendo novidades do mercado, obteve números impressionantes do consumo de " brinquedinhos sexuais" na pandemia. A venda de vibradores  ultrapassou 1 milhão de unidades nos últimos 3 meses, além de outros produtos correlatos. Uma das novidades do acervo de Denise é a nova geração  das  bonecas  para o entretenimento sexual,  feitas de, cyberskyn (matéria patenteada pela NASA por assemelhar-se com a pele humana), o que imita a textura da pele feminina quase com perfeição.

  Vendidas hoje à razão de 15 mil reais as bonecas, com diferentes versões, têm conseguido a melhor receptividade apesar de seu preço salgado. E mais: as bonecas vêm  com vértebras em aço, ficam em qualquer posição, esquentam, têm unhas, cílios, cabelos, e são equipadas com um simulador de gemidos. 

   A pedido do CNN Brasil Business, a plataforma de comparação de preços Zoom & Buscapé fez um levantamento que mostra a evolução na busca por produtos eróticos no site. Comparando dados de janeiro e maio, a maioria dos itens teve aumento de pelo menos 30% na procura. Destaque para os jogos eróticos, que subiram 41%. Comparando apenas abril e maio, a busca por comestíveis eróticos cresceu 113% 

  Essa procura avassaladora beneficiou principalmente as lojas que já possuíam forte presença no e-commerce. A Dona Coelha, sex shop voltada para o público feminino que opera online desde sua abertura em 2011, registrou um aumento de vendas de 475% comparando com o mesmo período do ano anterior.

  Natali Gutierrez, co-fundadora do negócio e especialista em sex toys, conta que normalmente recebiam 150 pedidos por dia, número que aumentou para 400 durante a pandemia. No período, está sendo especialmente notória a procura de clientes novos. “Começam com algo mais suave, para que a primeira experiência não se torne algo traumático, e depois avançam para produtos como vibradores”, conta.

 A Intt, marca que produz cosméticos eróticos e importa sex toys, também se surpreendeu com o movimento. A empresa até possui um marketplace online, mas a maior parte das suas receitas vem da distribuição dos produtos para as lojas, estando presente em todos os estados do país e em 38 mil pontos de venda. Os pedidos chegaram a cair em março, então neste primeiro momento a empresa decidiu fabricar álcool em gel para segurar a operação. Em abril, no entanto, o mercado voltou a aquecer.

  A escritora e ex-presidente da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (ABEME), Paula Aguiar, realizou uma pesquisa com 120 lojistas através do site Mercado Erótico. “Já foram vendidos mais de um milhão de vibradores no Brasil nesta quarentena”, diz. “Este período trouxe clientes que estavam fora do escopo do mercado. Pessoas que, se não fosse a pandemia, talvez não pensassem em comprar estes produtos”, resume.

   A prática do swing precisou ser adiada durante a quarentena. No entanto, a prática tem migrado para a internet: o Sexlog, site voltado para este público com mais de 12 milhões de usuários, viu a base de cadastros crescer em 20% e a de assinantes pagos em 6%. Diretora de marketing do Sexlog, Mayumi Sato afirma que a empresa notou um aumento de lives e de envio de vídeos durante o período do isolamento.

  “As pessoas estão utilizando este período como um esquenta do que está por vir. Mantendo os contatinhos em dia e esperando o momento em que vão poder se encontrar ao vivo novamente”, diz. Os dados do Sexlog também mostram que o tráfego tem começado mais cedo, às 22h, duas horas antes do que costumava ser

 Condição de quem se sente sexualmente excitado com robôs que tenham uma forma humana. É uma atração fetichista com humanóides ou robôs; assim também como seres humanos que atuam ou se veem como robôs. São divididos em dois grupos: aqueles que querem fazer sexo com robôs e aqueles que querem se tornar robôs.

   O andróidismo é um fetiche em que as pessoas só se excitam com andróides, bonecos ou robôs. Antigamente, a masturbação e o sexo oral eram vistos como parafilias. Ainda não é tão comum e terapêutico o uso de uma boneca inflável, mas isso pode se tornar razoável se servir para cultivar o erotismo e experimentar coisas novas. O problema, como sempre, é quando essa prática se torna obsessiva e exclusiva. Ou seja, quando não dá espaço para outras práticas ou, no caso, se transforma em substituto das relações humnas.

 Porém uma fabricante de brinquedos sexuais dos Estados Unidos relatou que teve um aumento substancial em todas as suas vendas. Os itens mais procurados foram seus bonecos realistas. No primeiro semestre de 2020 a empresa já vendeu mais bonecos sexuais que em todo ano de 2019.

 A matéria-prima das bonecas realistas é o silicone e a estrutura que se assemelha ao esqueleto humano é de PVC, um tipo de plástico resistente e que possibilita todos os movimentos. Algumas tem sensores de movimento, abrem e fecham os olhos e algumas mais tecnológicas emitem sons durante o ato. 

 Em uma apresentação em 2019, no Simpósio de Saúde Mental da Sociedade de Psicologia Evolutiva Aplicada, em Boston (EUA), a psicóloga clínica e terapeuta sexual Marianne Brandon apresentou um estudo onde aponta que robôs sexuais hiper-realistas podem ser indicados por médicos para pacientes com disfunções sexuais.

  Ainda de acordo com a terapeuta, o congresso americano tem probabilidade de aprovar a legislação que torne possível a indicação destes robôs, por médicos e ainda a cobertura por planos de saúde.

 A China fabrica 70 por cento dos brinquedos sexuais do Mundo, e com uma classe média com mais liberdade e dinheiro do que nunca, não é nenhuma surpresa que as pessoas procurem prazeres de uma forma mais experimental. 

  O que diz a ciência ?

  De acordo com a Psicologia, o "andróidismo" é uma parafilia em que as pessoas sentem atração sexual por robôs ou bonecos com aparência humana. Ainda de acordo com a ciência, não há problemas graves nestas pessoas, a não ser que se torne obsessão e o indivíduo só tenha relações com bonecos, substituindo as relações humanas.

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  Conclusão: Não há mal algum. Mas, na vida tudo tem uma evolução e ainda não sabemos como o andróidismo vai evoluir. Ha alguns anos passados, não muitos, era incomum a convivência de casais em familia ou nas relações sociais homem + mulher; homem + homem; mulher + mulher; homem + trans. 

  Cada qual vivia em seu gueto. O normal era homem + mulher. Com o passar dos anos e a adoção dos casamentos homoafetivos essa convivência, hoje, se modificou bastante e é possível (e visível) frequentar ambientes sociais - clubes, dancings, academias, etc - tudo junto e misturado sem preconceitos.

  Mas, ainda é raríssimo - pelo menos no Brasil - vê-se numa academia ou num clube social um cidadão ou uma cidadã chegar com seu inflavel. Já existem clubes no exterior em que isso é permitido e no Japão usam-se muito os parques. Então, não devemos nos assustar se daqui a mais 10 anos alguém chegar para malhar com sua inflável do lado e ficar batendo papo com ela enquanto faz uma esteira.

  Com o avanço das novas tecnologias tudo isso poderá ser factível e realizável.