Cultura

LISBOA, CAP 7: A MISERICÓRDIA E AS DUAS IGREJAS FACE A FACE NO CHIADO

Todo esse sitio histórico por onde andávamos foi destruído pelo terremoto de 1755 com os dois templos católicos indo ao chão e sendo reconstruídos,
Tasso Franco ,  Salvador | 30/03/2022 às 07:51
O Freguesia da Misericórdia
Foto: BJÁ
  A calçada vai andando estreita na Misericórdia como a integrar a moldura de um quadro onde os casarões compõem o cenário da Lisboa antiga e o 'trio elétrico' vai descendo rumo ao Chiado, minha neta à frente, como se estivesse no caminho da roça onde os passos são largos e em ritmo de maratona, e eu e a lady Bião mais atrás de olho nela, atentos, também ao vai e vem dos bondes e dos carros e de olhos vivo nas pedras portuguesas gastas pelos solados dos sapatos, escorregadias, com passos mais lentos, até para evitar uma queda.
 
  Há lugares, quando vai se aproximando da igreja de Nossa Senhora do Loreto, fundada por mercadores italianos no século XIII e implantada junto da localização de uma das portas da Cerca Fernandina medieval, a de Santa Catarina, já se avistando a praça Luis Vaz de Camões à direita, que mal dar para passar duas pessoas - e se uma desce e outra sobe - é preciso ter cautela para não haver um choque, como se fossem veículos. 
 
  Alertei a senhora Bião que um grupo de turistas subia em direção a Santa Casa e tínhamos que aguardar a passagem dos batavos para seguirmos adiante. - Encoste-se na parede e deixe a banda do meio fio para eles, soletrou no meu ouvido enquanto minha neta, bem mais à frente, já estava chegando no larguinho do Chiado. 
 
  Já no Largo do Chiado onde artistas da dança se apresentavam pode-se observar com maior contemplação duas igrejinhas de testa uma para a outra, a de Nossa Senhora do Loreto e a de Nossa Senhora da Encarnação, situada a Sul, fundação seiscentista (1696) e também contemplar a praça Camões e as evoluções dos artistas na pracinha quase em frente ao Café "A Brasileira".
 
  Para melhor entendimento dos meus abnegados leitores e distintas leitoras, Lisboa teve, nos seus primórdios da dominação romana uma muralha em volta do Castelo de São Jorge, a cidade antiga amuralhada; num segundo momento, da ocupação árabe, Cerca Árabe, ampliação da muralha romana; e a Cerca Fernandina, também conhecidas por muralhas fernandinas de Lisboa, ampliação da cerca velha da era de César, levada a cabo por D. Fernando I no ano 1373 d.C. Esta muralha tinha 1.250m de extensão possuía mais de 26 torres e 6 portas de entrada numa área conjunta de 15 hectares.
 
  Entre essas portas existia a de Santa Catarina localizada nas proximidades das igrejas do Loreto e Encarnação, ficando ambas de fora. Atravessava o largo da rua até entestar com as cavalariças d'El-Rei.
 
  Salvador da Bahia, que copiou Lisboa em quase tudo, tinha na cidade fortaleza (1549) duas portas: uma ao Sul, de Santa Luzia, na altura do Hotel Fasano; e a porta Norte, a de Santa Catarina, na altura da Igreja da Misericórdia, hoje, entrada da praça da Sé.
 
  Voltando a Lisboa, todo esse sitio histórico por onde andávamos foi destruído pelo terremoto de 1755 com os dois templos católicos indo ao chão e sendo reconstruídos, a igreja da Encarnação com projeto de Manoel Caetano de Souza concluído em 1873 obedecendo a traça seiscentista; e a do Loreto, a partir de 1785, reconstrução onde foram aproveitados materiais escultóricos, entre os quais, o portal "as armas pontificais" da fachada, atribuída ao arquiteto italiano e escultura Francesco Borromini. 
 
  A Igreja de Nossa Senhora do Loreto estava fechada e não podemos visitá-la. Também chamada dos italianos foi elevada por D. João V em 1518 para acolher os venezianos e genoveses, comerciantes em Lisboa.
 
  É constituída por uma nave central com doze capelas laterais que apresentam os doze apóstolos. Essas capelas têm como revestimento mármore italiano. Na fachada principal, além da imagem de Nossa Senhora do Loreto, pode-se observar as armas pontifícias, de autoria de Borromini, ladeadas por dois anjos. Possui ainda um órgão de tubos datado do século XVIII, cuja autoria não se encontra bem definida.
 
   A Paróquia da Encarnação pertence ao Patriarcado de Lisboa. A fachada tem estilo barroco tardio e preserva duas estátuas seiscentistas de Santa Catarina, que faziam parte da Cerca Fernandina e que sobreviveram ao terremoto. O seu interior tem um estilo barroco e rococó, com belíssimas pinturas no teto. 
 
   No interior, destaca-se a imponente imagem de Nossa Senhora da Encarnação, no retábulo-mor, esculpida por Machado de Castro; bem como as pinturas dos tetos, seja o da capela-mor, com uma representação do Mistério da Encarnação, seja o da nave, que figura a Anunciação a Nossa Senhora. Junto à entrada, encontra-se uma capela de arte contemporânea dedicada a Santa Maria Goretti.
 
   Nossa visita a esse templo foi de poucos minutos mal dando tempo a senhora Bião, católica que é, de rezar um pai nosso e uma ave Maria 
 
   Contemplamos com olhares distraídos o Monumento a Camões datado de 1867 considerado o primeiro monumento de escultura urbana a erguer-se em Lisboa. A estátua do poeta (1524/1580), autor de "Os Lusíadas", em bronze ergue-se num pedestal rodeado de figuras insignes da cidade, esculpidas em pedras são uma homenagem a prosa e à poesia épica.
 
  A estátua de Luís de Camões é do escultor Vítor Bastos e foi inaugurada a 9 de outubro de 1867. A figura é de bronze e tem 4 metros de altura, assente sobre um pedestal octogonal rodeado por oito estátuas: Fernão Lopes, Pedro Nunes, Gomes Eanes de Azurara, João de Barros, Fernão Lopes de Cantanhede, Vasco Mouzinho de Quevedo, Jerónimo Corte-Real e Francisco Sá de Menezes. O monumento a Camões é o mais antigo de Lisboa dentro do seu género, sendo mais moderno apenas do que a estátua equestre de D. José I. 
 
  Por curiosidade, nesta praça, fica a sede do Consulado Brasileiro e o café "A Brasileira", adiante em direção ao Chiado. Por obra e graça dos artistas lusos há uma estátua de Fernando Pessoa onde obriguei minha neta a sentar-se para uma foto. - Mas eu tenho uma foto neste local. Eu repeli: - Vai fazer outra para entrar na história 
 
  Estávamos com pressa e não paramos para além de fotos com Pessoas cafés ou taças de vinho. Descemos a Garret em direção ao elevador da Santa Justa, nossa próxima parada.