Cultura

SALVADOR 473 ANOS: POR QUE NÃO 488 ANOS OU 512 ANOS? ENTENDA MEU CARO.

Recife é mais velha do que Salvador porque considerou a capitania e os historiadores do IGHB desprezam a Capitania da Bahia
Tasso Franco ,  Salvador | 29/03/2022 às 08:48
Forte do Mar
Foto: BJÁ
     Fundada em 12 de março de 1537, Recife celebrou 485 anos em 2023, enquanto que Olinda, fundada dois anos antes (12 de março de 1535), completa 487 anos de existência. O atual município do Recife tem sua origem intimamente ligada ao município de Olinda. No foral (carta de direitos feudais) de Olinda, concedido por Duarte Coelho em 1537, há uma referência ao "Arrecife dos navios", um lugarejo habitado por mareantes e pescadores. O Recife permaneceu português até a independência do Brasil, com a exceção de um período de ocupação holandesa.

  Por que Salvador, cuja capitania data de 1534, portanto (em tese) deveria está fazendo 488 anos, comemora, hoje, 473 anos de existência europeia? Simples. Os historiadores do IGHB, reunidos em 1949, não consideraram o periodo da Vila Velha do Pereira, a sede da capitania, nem o povoamento do Caramuru, de 1510, e estabelecer que a data de fundação da cidade seria 29 de março de 1549, quando a esquadra de Thomé de Souza aportou no atual Porto da Barra.
 
  Mas, Thomé de Souza só saltou da nau Nossa Senhora da Conceição dia 31 de março e a cidade só começou a ser fundada em maio. Portanto, em 29 de março não havia cidade do Salvador. A primeira procissão no quadrilátero da fortaleza Salvador saiu da igreja de palha da Ajuda em 13 de junho de 1549. Ao que tudo indica foi nesta data que a cidade fortaleza começou a existir. Paciência, o que vale é o 29 de março. O Sistema de Capitanias Hereditárias adotada pelo rei dom João III data de 1534. Francisco Pereira Coutinho só tomou posse na Capitania da Bahia, em 1536. 

CAPITANIA DE PERNAMBUCO

De acordo com a Carta de Doação passada por D. João III a 10 de março de 1534, o capitão donatário de Pernambuco foi Duarte Coelho, fidalgo que se destacara nas campanhas portuguesas na Índia. A capitania se estendia entre o rio São Francisco e o rio Igaraçu, compreendendo:

"Sessenta léguas de terra (…) as quais começarão no rio São Francisco (…) e acabarão no rio que cerca em redondo toda a Ilha de Itamaracá, ao qual ora novamente ponho nome rio [de] Santa Cruz (…) e ficará com o dito Duarte Coelho a terra da banda Sul, e o dito rio onde Cristóvão Jacques fez a primeira casa de minha feitoria e a cinquenta passos da dita casa da feitoria pelo rio adentro ao longo da praia se porá um padrão de minhas armas, e do dito padrão se lançará uma linha ao Oeste pela terra firme adentro e a terra da dita linha para o Sul será do dito Duarte Coelho, e do dito padrão pelo rio abaixo para a barra e mar, ficará assim mesmo com ele Duarte Coelho a metade do dito rio de Santa Cruz para a banda do Sul e assim entrará na dita terra e demarcação dela todo o dito Rio de São Francisco e a metade do Rio de Santa Cruz pela demarcação sobredita, pelos quais rios ele dará serventia aos vizinhos dele, de uma parte e da outra, e havendo na fronteira da dita demarcação algumas ilhas, hei por bem que sejam do dito Duarte Coelho, e anexar a esta sua capitania sendo as tais ilhas até dez léguas ao mar na fronteira da dita demarcação pela linha Leste, a qual linha se estenderá do meio da barra do dito Rio de Santa Cruz, cortando de largo ao longo da costa, e entrarão na mesma largura pelo sertão e terra firme adentro, tanto, quanto poderem entrar e for de minha conquista. (…)." (Carta de Doação)

A CAPITANIA DA BAHIA

A costa do atual estado brasileiro da Bahia foi atingida e reconhecida por navegadores portugueses em 1500. A baía que lhe dá o nome foi descoberta no dia 1 de novembro - dedicado, pelo calendário católico, a Todos os Santos -, pela primeira expedição exploradora em 1501.

Com o estabelecimento, pela Coroa Portuguesa, do sistema de Capitanias Hereditárias para a colonização do Brasil (1534), o território do atual estado da Bahia estava distribuído entre vários lotes:

da foz do rio São Francisco à do rio Jiquiriçá, doado a Francisco Pereira Coutinho (Capitania da Baía de Todos os Santos);
da foz do rio Jiquiriçá à do rio Coxim, a Jorge de Figueiredo Correia (Capitania de Ilhéus); e
da foz do rio Coxim à do rio Mucuri, a Pero do Campo Tourinho (Capitania de Porto Seguro).
O lote que constitui a Capitania da Baía foi doado em 5 de março de 1534. Quando o seu donatário chegou, dois anos mais tarde, já existia na baía de Todos os Santos uma pequena comunidade de europeus entre os quais se destacava Diogo Álvares Correia, o Caramuru, com a esposa, Catarina Paraguaçu, e muitos filhos.

Com o auxílio destes, Francisco Pereira Coutinho fundou uma povoação (Vila do Pereira depois Vila Velha, 1536) no alto de Santo Antônio da Barra, onde ergueu uma casa-forte (Castelo do Pereira). A paz reinou durante alguns anos, estabelecendo-se engenhos e espalhando-se as culturas de cana-de-açúcar, algodão e tabaco.