Cultura

A CADEIRA E O ALGORITMO, CAP 24: A MUDANÇA DO CLIMA E A ECO-ANSIEDADE

As mudanças climáticas estão afetando a psi cos jovens da geração Y e os casos de eco-ansiedade se multiplicam
Tasso Franco , Salvador | 28/03/2022 às 09:28
Uma representação pictórica da bomba atômica e do verde
Foto: Seramov

O jornalista Jolivaldo Freitas escreveu um artigo neste Bahia Já falando das atrocidades da guerra da Ucrânia e comentou que especialistas - em sua contumaz frieza de avaliação, o pragmatismo que conceitua quem atua em algumas áreas, como meio-ambiente, por exemplo, vêm a público para dizer que se a economia mundial sofrer e se debilitar com as ações contra a Rússia; os embargos - uma nova consciência passa a dominar o planeta.

O que se preconiza é que o conflito vai trazer nova consciência mundial e chamar a atenção para a necessidade de geração de energia limpa. Mas será que isso vai acontecer num planeta com 7 bilhões e 800 milhões de pessoas muitas das quais ainda cozinhando no fogão à lenha para sobreviverem; e outras tantas numa correria infernal para não perder os horários dos metrôs e dos aviões movidos a eletricidade e a petróleo refinado? É provável que essa conscientização seja limitada, relacionada à uma minoria, que, dificilmente mexerá no conjunto global.

  

Quando o presidente dos EUA, José Biden, fala da necessidade de boicotar a compra do petróleo bruto, trata-se de uma peça de propaganda, pois, cada país sabe de suas necessidades. Os Estados Unidos tem mais capacidade de produção de petróleo dentro das suas fronteiras do que toda a Europa. Os americanos, sim, podem adotar esse tipo de medido que não haverá reflexo grave na sua economia. Os americanos têm o petróleo e o gás tirados de plataformas e poços, mas possui também a produção de petróleo oriundo do xisto e investe pesado na energia capturada do sol. Fica tudo bem. Mas a Europa depende de energia gerada pelo petróleo e gás russos.

  

A Europa corre atrás para mudar esse cenário, mas, isso demora anos. Quanto tempo? A Alemanha calcula 25 a 30 anos para reorganizar a sua planta energética - em andamento - e estamos falando do país mais avançado em tecnologia na Europa. Portugal, visto como o de menor tecnologia, demoraria mais tempo, onde ainda funcionam os elétricos e os ascensores implantados no final do século XIX.

  

Diz Jolivaldo: "A guerra na Ucrânia passou a despertar o sentimento da necessidade de se investir em energia limpa; tudo o que vinha sendo dito por ambientalistas nos encontros de Paris, no Brasil na Índia e tantos outros lugares e palcos. Energia limpa, eólica, solar e outras além de significar saúde para o planeta, tem o caráter até de defesa de um país, pois no futuro não havendo dependência do petróleo, ninguém vai poder usar a energia (o gás, o petróleo como arma para asfixiar o outro". 

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E o que está passando na cabeça das pessoas diante dessa guerra onde as velhas tecnologias militares - bombas, tanques, infantaria como na época de Napoleão Bonaparte, etc - e as novas tecnologias militares - aviões Migs, bombas supersônicas e a possibilidade do uso de bombas nucleares - se mesclam; com mais dois elementos postos no cenário permeando as velhas tecnologias - boicote a bens e serviços da Rússia, veto à compra de petróleo e gás - e as novas tecnologias da Web-2 - exclusão da Rússia do Sistema Swift e da rede mundial da internet - em cenário nunca visto, anteriormente?

  

Verifica-se, assim o avanço de uma nova 'piração' ou distúrbio mental, já posto em análise desde 2017 pela APA, o eco-ansiedade, que tem sido recorrente nos consultórios de psicologia e psiquiatria. Os pacientes têm apresentado os sintomas tradicionais de ansiedade - depressão e síndrome do pânico - como consequência do estresse causado pelas notícias sobre as mudanças climáticas. E a Guerra da Ucrânia, é provável, está influenciando nesse campo, uma vez que 10 milhões de ucranianos deixaram suas casas e 30 milhões de pessoas estão confinadas na própria Ucrânia, a mercê das bombas de Putin.

  

A Associação Psicanalítica Internacional reconhece a mudança climática como “a maior ameaça à saúde global do século 21″. A gente fica sem saber se, de fato, isso tem procedência, ou não. Já se falou, anteriormente e há pouco tempo, que a depressão seria a doença do  século 21. Mas, observe que um século são 100 anos e os procedimentos e as mudanças na sociedade estão se dando, de maneira muito mais rápida do que se imagina.

  

Publicamos aqui, na semana passada que, a Ucrânia mesmo sofrendo uma guerra destruidora de suas cidades mantém vivo os seus veículos de comunicação em circulação graças a rede de satélites e da internet. E conseguiu religar sua usina nuclear de Zaporizhzia, parcialmente bombardeada pelos russos

  

A revista Psychology Today descreveu a eco-ansiedade como “um distúrbio psicológico bastante recente, que afeta um número crescente de indivíduos que se preocupam com a crise ambiental”. A psicóloga londrina Roxana Rudzik-Shaw disse ao portal NetDoctor, que os 'Millennials' (A geração Y, também chamada geração do milênio, geração da internet, ou milênicos - do inglês: Millennials - é um conceito em Sociologia que se refere à corte) são os pacientes mais comuns a apresentarem problemas de eco-ansiedade. Eles já carregarem sintomas de ansiedade anteriores, que podem piorar devido às notícias, imagens e vídeos compartilhados nas redes sociais e na mídia em geral.

 

A expressão "eco-ansiedade" foi apresentada ao mundo em 2017 pela American Psychology Association (APA — a associação de psicologia do EUA), descrita como: "medo crônico de sofrer um cataclismo ambiental que ocorre ao observar o impacto, aparentemente irrevogável das mudanças climáticas, gerando uma preocupação associada ao futuro de si mesmo e das próximas gerações".

 Observem que, nos últimos estudos publicados sobre o aquecimento global, a Terra sofreu um acréscimo de 1% na planta geral de sua temperatura e isso já tem provocado mudanças significativas em todo mundo, com derretimento de geleiras e alterações em cursos de rios. No Brasil, as queimadas na Amazônia passaram a ser uma preocupação mundial e, mesmo assim, não param de acontecer. Tudo isso é mostrado ao vivo pelas TVs e internet e os 'millennials' se assustam e se deprimem.

 

Apenas em outubro de 2021 a 'eco-ansiedade' entrou oficialmente para o dicionário de Oxford como um "desconforto ou preocupação sobre o dano atual e futuro causado no meio ambiente pela atividade humana e a mudança climática". Desde então, o termo tem aparecido com mais e mais com frequência, principalmente entre jovens. 

 

Para Maria Luiza Gastal, Psicanalista da Sociedade de Psicanálise de Brasília e membro do Comitê de Clima da International Psychoanalytical Society (Sociedade Internacional Psicanalítica), a ansiedade climática é uma expressão clínica do medo crescente dos desastres e cataclismas ambientais.

  

"A eco-ansiedade é um medo que surge a partir da nossa observação sobre os impactos das mudanças do clima. Vemos que os pacientes temem cada vez mais sobre o futuro, pelas gerações que virão e de como será o mundo. É uma ansiedade que se traduz, sobretudo, em perguntas sobre o que elas próprias podem fazer para evitar e prevenir tais desastres", explica a profissional.

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Como estão, então, sendo tratadas as crianças e os jovens da Ucrânia que são expatriadas a força do seu país amado, muitas das quais vendo bombas explodindo em suas cidades? Não há, ainda, uma resposta para essa questão uma vez que o processo está em andamento e o Brasil, que está muito distante de Kiev, já recebeu quase 1.000 ucranianos e suas famílias para uma nova vida num país tropical, com língua e costumes diferenciados.

  

Já existe algum tratamento específico para lidar com essa sensação da 'eco-ansiedade'? A psicanalista Luiza Gastal esclarece que, por não se tratar de uma patologia específica, ainda não existe um tratamento personalizado, mas como todo sofrimento ela é sempre acolhida pela psicanálise.

  

"Primeiro fazemos a escuta analítica, e claro, a psicanálise mobiliza toda a sua estrutura conceitual para ajudar o sujeito a investigar essa sensação e a lidar com ela. Como todas as ansiedades, elas estimulam também os mecanismos primitivos de defesa, como por exemplo a denegação, que reconhece o problema, mas finge que não existe. Buscamos entender esses mecanismos inconscientes que se entrelaçam e amarram o mundo externo ao indivíduo".

  

Quem mais sofre com a eco-ansiedade? De acordo com a Lancet Planetary Health, em uma pesquisa encomendada com aproximadamente 10.000 jovens de diferentes países, entre 16 e 25 anos, cerca de 75% deles disseram que enxergam o futuro como assustador. Além disso, o estudo mostrou que a maior concentração dos casos mais graves de ansiedade estão em ambientes onde há maior índice de eventos extremos relacionados aos problemas socio-ambientais.

   

Para o ambientalista e ativista climático do Fridays For Future Brasil, Dalcio Costa Rocha, 18, esse medo começou a partir de uma campanha contra um leilão da Agência Nacional do Petróleo e Gás. "Sentia que todas as ações eram ineficazes e comecei a sofrer".

  

Um outro exemplo aconteceu com Luiza Barenco Costa, 18, estudante universitária, que sentiu as sensações de uma crise de eco-ansiedade. Ela contou que não conseguia relaxar, que estava sempre pensando no assunto ao ponto de isso começar a atrapalhar a sua vida e o seu dia a dia. "Tive a minha primeira crise durante uma conversa informal entre amigos. Estávamos conversando sobre as realidades de cada um e percebi que todos os meus companheiros de ativismo estavam passando por alguma consequência da crise climática e que não teria como ajudar a todos com campanhas ou algo assim", ilustra a jovem.

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Estamos, pois, diante de um novo drama social grave onde se mesclam novas e velhas tecnologias e há esperança de que, a energia limpa, uma novíssima tecnologia com cheiro de velhíssima, pois, usa as forças da natureza - vento, água, sol, ar, terra - que o homem vem usando desde quando era caçador-coletor de alimentos na Etiópia e na Turquia, que são os lugares onde o 'sapiens' ergueu-se e começou a pensar e o cérebro pôs-se em movimento, nos sirva de forma plena no futuro próximo.

  

Lucy, a primeira mulher, 3.200.000 milhões de anos atrás tem parte de sua estrutura óssea posta a visitação no Museu de Antropologia de Adis Abeba e tinha apenas 1m30cm de altura, fóssil descoberto em 1974 no deserto de Afar, usava energia limpa, natural, que a civilização atual quer também usar.

  

 

Bem, ainda não voltei a cozinhar a lenha e uso o gás provavelmente importado da Bolívia, assim como a maioria dos europeus usa o gás dos campos da Rússia, e não saberia dizer se ainda verei esse tempo. Em minorias, essa prática já vem acontecendo. Mas, volto a dizer: somos 7 bilhões de 800 milhões de 'sapiens' na Terra comendo 3 vezes ao dia, correndo para não perder o horário do metrô e exigindo cada vez mais bens de consumo.