Cultura

SALVADOR 473 ANOS: FONTE DE CATARINA PARAGUAÇU, NA GRAÇA, ABANDONADA

Um morador de rua é quem cuida da fonte
Tasso Franco , Salvador | 22/03/2022 às 07:16
Abandono total na Fonte da Graça
Foto: BJÁ
  A Fonte da Graça ou das Naus onde a tupinambá Catarina Paraguaçu, a Mãe do Brasil, personagem feminina mais importante da história da Bahia em seus primórdios, está abandonada. Não causa surpresa pois os monumentos e sitios relacionados à história de Salvador, que completa 473 anos de existência no próximo dia 29, vivem a própria sorte, ao descaso junto as autoridades vinculadas à cultura. 

  É tanta sujeira na fonte que não dá nem pra levar estudantes do ensino médio para conhecê-la. Limo, lodo, folhas secas, entorno com lixo, cocô, pichações e muitos mosquitos e pernilongos. Ontem, passando por lá, encontramos um morador de rua se banhando na fonte. Ele disse ao BJÁ que é o guardião do local e se não fosse por ele "isso aqui estaria pior". Nas imediações, alunos de escolas que aprendem a dirigir automóveis usam a rua, que é deserta, para fazerem manobras.

  Catarina Paraguaçu foi batizada na França, Saint Malo, 1525, como Catarina de Granches ao se casar com Diogo Alvares, o Caramuru, o comerciantes português que negociava madeira com os franceses na Baía de Todos os Santos. O casal foi levado para a França pelo navegador Jaques Cartier, descobridor do Canadá francês, que era o intermediario do negócio de Pau Brazil com Diogo e os tupinambás. 

  Catarina e Diogo se casaram na igreja de São Vicente e quando o casal retornou ao Brasil fundou a primeira capela de Salvador, a da Nossa Senhora da Graça, onde ela está sepultada. Ao morrer, a tupinambá passou a sesmaria que a Corte de Lisboa havia lhe doado e que abgrangia os bairros da Graça e Chame Chame do Rio dos Seios à montante, para a Ordem Beneditina, que é dona e administradora do Mosteirinho da Graça onde está a igreja de Nossa Senhora da Graça.

   Essa praça Catarina Paraguaçu, onde se encontra a fonte, recebeu o último banho de loja no  governo João Henrique, 2007, diante insistentes apelos feito pelo presidente da Amorgarça - Associação dos Moradores - a pedido de Flávio de Paula, seu presidente, junto ao vereador Pedro Gondinho. 

  De lá pra cá, lá se vão 15 anos, só abandono. O morador de rua está certo. É ele que passa a vassoura no local e faz uns desenhos no mural. "Não faço mais porque não tenho condições e o pouco dinheiro que ganho é de cajás que recolhe aqui no Vale do Canela", frisa.

   O casal Diogo e Catarina é o mais importante da história da Bahia colonial. Seus descendentes formataram as familias mais influentes durante 200 anos da colonização, em Salvador e no Recôncavo, donde surgiram os Albuquerques, os Araújo, os Correias, os Adornos e outros. 

  O casal teve oito filhos e alguns deles se tornaram sesmeiros, como foi o caso de Dias Adorno casado com uma filha de Diogo e Catarina, que ganhou do rei a Sesmaria que ia do Chame-Chame à Leste até o Rio Vermelho.

  A influência e força econômica desses homens de negócios do Recôncavo foram os garantidores da vitória do Império de Dom Pedro I na guerra da Independência da Bahia, 1823. Na realidade, não houve guerra como se propaga, e sim um cerco a capital que ficou sem viveres e Madeira de Melo, o comandante da tropa portuguesa, foi embora para Lisboa fugindo na madrugada do 2 de Julho com sua Divisão Auxiliadora.

  Diogo Alvares, Catarina Paraguaçu, Thomé de Souza, Luis Dias, Gramatão Teles, Francisco Pereira Coutinho e outros pioneiros da fundação da cidade do Salvador são esquecidos pela história e pela Cultura da cidade e do Estado. (TF)