Cultura

LISBOA, CAP 5: SÃO ROQUE, A IGREJA JESUITA MAIS BELA DO MUNDO (TF)

Esse modelo de templo foi implantado em Salvador, na Catedral da Sé
Tasso Franco ,  Salvador | 16/03/2022 às 08:45
Igreja jesuíta de São Roque, sec XVI
Foto: BJÁ

  A hora e minutos que não saberia precisar, o turista acordou no segundo dia da estada em Lisboa, 14 de janeiro de 2022, com o apartamento do flat em silêncio. Estariam, assim, as meninas ainda a dormir. Fez o asseio matinal como recomenda a OMS, que está mandando em tudo até no direito que temos de nos vacinar ou não contra a Covid 19, a gripe, a aids e o que mais seja e toquei a sineta acordando-as.

 - Pés no assoalho que, temos muito que andar no chão da praça, imitei o finado Moraes Moreira quando cantava que a praça Castro Alves "é do povo/como o céu é do avião".

  Ouvi alguém a passar por mim, já a postos no computador atualizando o Bahia Já, a dar-me "benção vô" e abrir os olhos com água fria do banheiro e a senhora Bião espreguiçando-se num sofá a perguntar: - Já fizeste nosso café. - Sim, respondi, apontando que o suco estava na geladeira e o pão na torradeira, e mais o queijo de ovelha fatiado que tanto gosta. 

  Minha neta fritava ovos, seu petisco favorito, creio que três gemas e após nosso café da manhã apontei que iriamos conhecer a igreja de São Roque, o templo jesuíta mais imponente no mundo, sugerindo que fossemos a pé subindo a Ladeira do Alecrim, próxima do nosso flat, a pouca distância em passos.

  A senhora Bião não achou uma boa ideia subir a ladeira a pé embora concordasse em visitar a igreja de São Roque, santo a quem os portugueses devotam muitos louvores, mas, não tantos como a santo Antônio. - Estou pronta para o que der e ir, alertou minha neta já se maquiando e afivelando as botas. 

  Em instantes, partimos belos e empoderados. E, ao pé da estátua do conde de Terceira, miramos a Alecrim à nossa frente, um local emblemático de Lisboa, roteiro de Eça de Queiroz e Alexandre Herculano, paragem da antiga Pensão do Amor onde marinheiros que desembarcavam no Cais do Sodré, no Tejo, vinham para um pisco.

Começamos nossa caminhada em direção ao topo, onde ficam a praça de Vaz de Camões, à esquerda; e à direita, o largo do Chiado e a igreja de Nossa Senhora da Encarnação.

  A senhora Bião suava em passos miúdos e minha neta, a passos de ema, se distanciava. Subíamos contemplando as lojas que têm nos dois lados da ladeira, o passar dos carros e bondes, o entrar e sair de clientes, a olhar o Tejo, até que chegamos ao topo. 

A ladeira tem menos de 1 km e uma barriga no meio que dá pra descansar. Vê-se uma barbearia antiga, nesse local, belíssima. Já no topo falei: - Atravessemos a rua e vamos visitar São Roque. 

  Ora, pois, entramos na igreja errada, já no Largo do Chiado, a de Nossa Senhora da Encarnação, de testa com a de Nossa Senhora do Loreto. Visita rápida, pois, esse não era nosso objetivo. 

Um português idoso nos disse que precisávamos caminhar mais um pouco arriba, como dizem os espanhóis, percorrendo a ladeira da Misericórdia, que daríamos de testa com a de São Roque. 

  Pois, assim fizemos. La Bião a reclamar que seus pés foram feitos para os salões de Versalhes e mármore da Itália e não para as ruas e calçadas estreitas de Lisboa.

   Mais a andar, avistamos o templo a nossa frente. Ufa! chegamos.

  A Igreja de São Roque foi edificada a partir de meados do século XVI (1569) e pertenceu à Companhia de Jesus. É a mais rica e mais bela da capital portuguesa um dos primeiros templos jesuítas em todo o mundo, o principal da Companhia em Portugal durante mais de 200 anos. 

   Tem muita semelhança com a catedral basílica da Sé, em Salvador, que é do século XVII, com um altar mor principal e diversas capelas ao redor da nave mãe dos dois lados. A semelhança impressiona e é provável que esse modelo tenha sido exportado pelos jesuítas onde a Companhia de Jesus foi pioneira na pregação religiosa e difusão da fé cristã. 

  Este modelo espacial da igreja jesuítica - atestam historiadores - foi decisivo na modelação da arquitetura religiosa portuguesa, entre os séculos XVI e XVIII.

  Quando os jesuítas foram expulsos de Portugal e do Brasil pelo marquês de Pombal no século XVIII esses templos caíram em decadência, mas sobreviveram após a reincorporação da Ordem. 

  A igreja de São Roque foi um dos raros edifícios em Lisboa a sobreviver ao Terramoto de 1755 relativamente incólume. Tanto a igreja como a residência auxiliar foram cedidas à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e continua a fazer parte da Santa Casa hoje em dia.

 Foi a primeira a ser erguida no estilo "igreja-auditório", especificamente para pregação. Tem diversas capelas no estilo barroco do século XVII inicial, sendo a mais notável a de São João Baptista, do século XVIII, projeto inicial de Nicola Salvi e Luigi Vanvitelli (1697-1751), depois alterado com a intervenção do arquiteto-mor João Frederico Ludovice, encomendada na Itália por D. João V, em 1742. Chegou a Lisboa em 1747 e só ficou assente em 1749. 

  É uma obra-prima da arte italiana, única no mundo, constituída por quadros de mosaico executados por Mattia Moretti, sobre cartões de Masucci, representando o Batismo de Cristo, o Pentecostes e a Anunciação. Suspenso da abóbada, de caixotões de jaspe moldurados de bronze, é de admirar um lampadário de excelente execução da ourivesaria italiana, enquadrado por um admirável conjunto de estátuas de mármore. Supõe-se que à época tenha sido a mais cara capela da Europa.

  No nível inferior há a série mais antiga sobre a vida de São Francisco Xavier composta de 20 quadros atribuídos ao pintor André Reinoso.

  A fachada é simples e austera. Em contraste, o interior é enriquecido por talha dourada, pinturas e azulejos e constituiu um importante museu de artes decorativas maneiristas e barrocas. Tem azulejos dos séculos XVI e XVII, assinados por Francisco de Matos.

  O teto, com pintura de interessante simbologia apresenta caixotões. A talha, maneirista e barroca é rica e variada, com retábulos de altares e emoldura pinturas. Há mármores coloridos embrechados à italiana e uma coleção de alfaias litúrgicas.

  Ao lado do edifício, no Largo Trindade Coelho, está o Museu de Arte Sacra de São Roque, que tem compartimentos ligados com a igreja. O acesso a igreja é gratuito e fica aberta de terça a domingo, às 18 horas.

  Nos acompanhe que vamos para o museu ao lado.