Cultura

CLARINDO SILVA, 80 ANOS IDADE, O GUARDIÃO DO PELÔ, p ZÉDEJESUSBARRÊTO

Pelos 80 anos de Clarindo Silva,entidade do Pelô, guardião da Cantina da Lua.
Tasso Franco , Salvador | 16/03/2022 às 12:47
Clarindo Silva, 80 anos de idade
Foto: BJÁ


Clarindo é negro.

Preto que se veste de branco por força dos mistérios afro-baianos.

Babá Funfun!

Clarindo é magro, sutil como seu riso. 

Clarindo é um príncipe da Cidade da Bahia, uma entidade do Terreiro de Jesus. 
Um cavaleiro, Quixote do Pelô ! Um cavalheiro galante. 

Clarindo é um ícone de resistência, um signo de esperança, exemplo de perseverança. 
Sua negra figura esguia paramentada de brancura é fina grandeza, pura delicadeza. Bravura e brandura. 

Uma coisa e outra, ou todas as coisas misturadas, assim como pimenta, dendê, leite de coco, marisco, pinga e melaço… angu encubado, tempero verde de balaio de feira, moqueca, maniçoba, panelada do Recôncavo. 

Dali daquelas janelas da esquina, onde assentou a Cantina da Lua, encruzilhada do Terreiro, Clarindo viu e vê de tudo, presenciou e foi agente em nosso Centro Histórico. 

Escravidão, fausto, puteiro. Capoeira, brega, tambores, malandragem, droga, poesia e procissão. Bênção e condenação. Muitas histórias.

Clarindo e sua Cantina têm histórias, fazem parte, são um pedaço da História. 

A Cantina da Lua foi e é abrigo, ponto de encontro e de amores, confessionário, peji, museu, púlpito, altar, mirante, aconchego. 

É um recanto encantado... E o axé do ‘Pai Calá’ paira em cada tamborete, cada canto, em cada prato, a todo instante. 

A Cantina da Lua do Terreiro de Jesus, Pelourinho, Centro Histórico da cidade de São Salvador da Bahia guarda as presenças de Mestre Pastinha, do Majó Cosme de Farias, do engraxate Leal, do poeta Batatinha, dos personagens de Jorge Amado, guarda o cheiro do castelo de Maria da Vovó, o som apaixonado de Waldick, o vozeirão do mestre Cid Teixeira, o urubu de Joaquim do Tempo, o traço de Carybé, a oratória do Monsenhor Gaspar Sadock, o cheiro de bambá do bom dendê, o papo de Marighella, o olhar de espanto do gringo no requebro da negona que passa, a poesia de rua de Jeovah de Carvalho, o riso safado de Reminho Pastore, o molejo do samba-de-roda e da chula de Santo Amaro, o gosto da branquinha pingada com vermute…

A Cantina da Lua de Clarindo é casa de sonhos, lembranças, saudades… querências. Casa da poesia, coisa da Bahia.
Clarindo é meu irmão de branco. 
Axé! Êpa Babá! Clarindo, eterno menino!


(texto de Zédejesusbarreto, prefaciando a biografia de Clarindo Silva)
  escrita pelo jornalista Vander Prata, livro da coleção “Gente da Bahia”,
  em edições da Assembleia Legislativa da Bahia) 

Clarindo faz 80 anos nesta quarta, dia 16 de março 2022