Cultura

LISBOA, CAP 4: A RUA ROSA E O SHOW QUE MINHA NETA NÃO VIU NO MÉNAGE

Um dos locais mais badalados da noite Lisboeta no Cais do Sodré fervilha até a madrugada
Tasso Franco ,  Salvador | 09/03/2022 às 07:56
A rua cor de Rosa e o buxixo da noite em Lisboa
Foto: BJÁ

O turista não tem vontade de partir depois de acomodar o lagareiro na pança, minha neta a dizer que estava à semelhança de um bumbo desses que los hermanos tocam nos estádios, mas, decidimos alongar as pernas, as da ema, da nina, como a arrelio, as minhas mais compassadas, curtas, próprias de quem se aproxima dos dois patinhos da lagoa, em pé, 77, as da Bião a segurar meu braço, por carinho, é verdade, quiçá por segurança para que não tropece n'algum declive.

  Assim, chegamos a Rua Azul, dos Bacalhoeiros, depois de atravessarmos a praça José Saramago e contemplar, um pouco, a Casa dos Bicos, que abriga o acervo de sua obra e se vê trechos da antiga muralha romana, de Olissipo. 

  Minha neta adiantava a passada e já se aproximava do Hotel Turim em direção a rua da Alfândega, dizia para ouvirmos: "aquele prédio amarelo já conheço", mas, a referência da señora Bião era o Turim, na boca do Rossio. Seguimos até a Praça do Comércio passando sob os arcos do Martinho da Arcada, restaurante frequentado por Fernando Pessoa com seus amigos das letras e dos copos, em direção ao nosso flat na Praça Dom Luis I, ao lado do Mercado da Ribeira.

 Daí, pegamos a Rua do Arsenal, passamos pela Travessa do Cotovelo, onde, noutra viagem saborearmos sardinhas assadas pelo chef Custódio, mineiro das Minas Gerais, de Tiradentes, beiramos a calçada da igreja do Corpo Santo onde uma galera jovem manobrava skates, passávamos pela subida inicial da Ladeira do Alecrim em praça que tem uma imagem do Duque de Terceira, adentramos a Remolares, mais alguns passos na Ribeira Nova até a Dom Luis.

 Esse foi o trajeto anotado em minha cadernetinha dando tempo, ainda, porque era cedo e íamos ao Supermercado Pingo Doce, na Estação do metrô Cais do Sodré, de passar na Rua Rosa da city onde, outrora, havia a Pensão do Amor, sítio de prostituição preferido de marinheiros que desciam no cais do Tejo ávidos por uma mina, uma ginja, um amasso, um cigarro, uma cama cheirosa, que, depois, até 2021, era um restaurante retrô. 

 Como o prédio esta em reforma frustou-nos, um pouco, o fechamento - creio, provisório - da Pensão do Amor, mas não perdemos a viagem. A Bião explicava a menor quão bonito era o local, a decoração, o salão, o palco, a cama redonda, o sex-shop, e mais não detalhou porque pouco esteve por lá.

  A Rua Cor de Rosa é muito badalada de Lisboa, mas, perdeu bastante o vigor com o restauro do prédio onde funcionava a Pensão e, imagina–se, que, após sua conclusão, volte o lugar a encantar com seus shows e embalos.

  Oficialmente, a rua se chama Nova do Carvalho, assim aponta a placa, e o nome Rua Cor de Rosa acabou surgindo após um projeto de intervenção urbana em 2011, com a pintura do seu piso de rosa. Não é muito extensa, apenas peatonal e anda-se, num pequeno espaço, sob um arco que sustenta trecho da Ladeira do Alecrim.

  Minha neta se assanhou toda, mas, disse a tia que gostaria de voltar à Rosa noutra oportunidade, pois, desejava fazer um look especial a Amy Winehouse. Fiz de conta que não ouvi e preparei o iPhone para fotos. Os bares estavam com bom público e buxixos da galera descolada da cidade e de turistas, fauna variada.

   Os mais experientes e assíduos frequentadores do local dizem que os locais mais badalados são o MusicBox, Roterdão Club, Jamaica e Viking.

   Adiante minha neta viu um club strip com o sugestivo nome de Ménage e cutucou a tia. Pigarreei como a dizer que o local era impróprio a menores e ouvi, salvo engano, um "só o que faltava querer mandar em mim". 

   Os habitués deste sitio dizem que a transformação do local em um dos epicentros da noite lisboeta com o decadente dando lugar ao cool, o kitsch favorável, e que os espaços foram rejuvenescendo e se moldando com o tempo. O templo era a Pensão do Amor, a Nova do Carvalho com o chão pintado de rosa, a cor preferida da turma LGBTQIa.

   Há outras similares no mundo e conheço a Zona Rosa de Bogotá, bem mais ampla e mais efervescente do que a de Lisboa.

   Não deu pra conhecer tudo numa noite. Por próximo da zona rosa de Lisboa - aponta a literatura - estão o Livraria Bar Menina e Moça, da Cristina Ovídio, ex-professora de Literatura Portuguesa que atualmente faz parte da editora Clube do Autor.

   No Roterdão Club a ordem é dançar. O 4 Caravelas é especialista em drinks de vodka como o Rude Boy, com Absolut rasperi, Bols cassis, triple sec, sumo de limão, xarope de açúcar, sumo de arando e sumo de laranja, aos de tequila, como o Maple Margarita, com Olmeca Reposado, xarope de agave e sumo de lima.

   Musicbox discoteca inaugurada em 2006 tem música todos os dias da semana, excepto ao domingo, e é dos espaços que vai para a cama mais tarde.

  Viking é um clássico do Cais do Sodré e todos se sentem bem-vindos nesta casa. É aqui que – arriscamo-nos a dizer – há o mais aclamado striptease da Rua cor-de-rosa (de segunda a sábado à 01.00 e às 03.00 com o show da Mónica). A não faltar está também o maior espectáculo do stripper mais pequeno: Big John. Às segundas, se a vontade for muita, conte com a noite de karaoke. E olhe que a lista de cantigas é longa.

   O Jamaica nasceu como bar de alterne em 1971, como manda a lei do Cais do Sodré mas, gradualmente, a coisa foi mudando. É o reggae que manda na casa, mas não só. Por lá, de terça a sábado, passa de tudo. A regra é não parar de dançar.

   Menage Strip Club é o que minha neta não foi.

   Que desolação: saímos da rua Rosa para o Pingo Doce supermercado onde compramos pães, ovos, biscoitos, café, queijos, água, salame e vinho pois precisávamos abastecerr o nosso apartamento do flat para mantermo-nos vivos nos dias seguintes.

   Ufa! chegamos ao flat repletos de mercadorias. La Bião, completando o primeiro dia da viagem, espocou logo uma garrafa do Marques de Borba e mi neta resolveu fazer um penne. Voilá, completei, vamos dormir que amanhã iremos conhecer a igreja jesuítica de São Roque, templo da Santa Casa de Misericórdia.