O rio Tejo é o sinalizador da Baixa Pombalina: para onde suas águas vão a cidade segue em direção ao Atlântico
Tasso Franco , Salvador |
02/03/2022 às 09:30
O Solar do Vez, a vista para o Tejo e o navio de cruzeiro
Foto: BJÁ
Assim, à primeira vista, quando se fala em Campo das Cebolas imagina-se uma área bem irrigada com plantações de cebolas. Mas, a segunda olhada, até porque ainda não conhecíamos como hoje se encontra a praça José Saramago e a Casa dos Bicos que abriga o acervo de sua obra, seguimos o curso do rio Tejo a partir da pracinha do Chafariz de Baixo, onde está posto o Museu do Fado.
Seguir para onde as águas de um rio rolam é um bom indicativo de direção, e o Tejo é um sinalizador de Lisboa onde se anda na baixa Pombalina ou no bairro Alto, está o rio a nos orientar e embelezar. Com passos equilibrados a acompanhar a chegada da noite, paramos e nos acomodados num restaurante que me pareceu agradável, familiar, o Solar do Vez.
Nossa temporada gastronômica em Lisboa – início de 2022 - começou com o pé direito ainda que, no embarque de Valencia, ES, para a capital portuguesa minha neta Luna estava tão emocionada que tropeçou os passos com sua bota 'demônia' no acesso ao turbo hélice da TAP que foi ao solo na entrada do avião sendo rapidamente socorrida por um senhor à sua frente com a tia a dar risadas.
Em direção ao Solar do Vez comportou-se magnifica e ainda posou para uma foto como model.
O Restaurante Solar do Vez originário de Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, data de 1953 e fica localizado no Campo das Cebolas próximo do terminal marítimo de cruzeiros do Sodré, Tejo, um local de comida que chamamos na Bahia de caseira com dona Mabel à frente e no comando das panelas e onde se diz que, em Lisboa, serve o melhor bacalhau Lagareiro da cidade.
Saber se isso, de fato é real ou não é impossível, pois, são muitos os restaurantes que disponibilizam esse prato na capital de Fernando Pessoa. É como definir qual o melhor acarajé de Salvador. Mas, diria que é ótimo pois foi o prato que experimentei com tempero de dona Mabel, uma portuguesa da linha tradicional que não gosta de ser fotografada.
O nome e a tradição do restaurante, conta-nos José, um descendente do dono original, Sêo Armindo, vem de Arcos de Valdevez, vila portuguesa no distrito de Viana do Castelo, região Norte, sede do município Arcos de Valdevez. O município é limitado a norte pelo município de Monção, a nordeste por Melgaço, a leste pela Galiza, a sul por Ponte da Barca, a sudoeste e a oeste por Ponte de Lima e a oeste por Paredes de Coura.
O chamado Torneio de Arcos de Valdevez também conhecido por "Recontro de Valdevez", foi um importante e decisivo episódio da História de Portugal ligado aos primeiros tempos da nacionalidade, sendo o antecedente da celebração do Tratado de Zamora em 1143.
Um pouco de história sempre é bom para ambientar o local onde se vai deliciar pratos portuguesas e este tem sido nosso objeto em diversas crônicas, sem ensinar receitas, mas, apenas mostrando locais agradáveis para a Boa Mesa.
E o Solar do Vez tem tudo de bom. La señora Bião de Jesus solicitou na inicial um tinto Papa Figos - uma das aves mais raras da região do Douro - vinho de ataque suave ao palato e taninos polidos, mui sensible, e que harmoniza bem com bolinhos de bacalhau aqui chamados de pastéis. Pouco importa o topônimo. O importante é a qualidade e o sabor dos bolinhos, sem batatas, deliciosos, rústicos, com sabor de bacalhau puramente e crocantes.
La señora Bião fez uma pedida de que muito aprecia - lulas fritas - e minha neta Luna Rosa batatas fritas e frango assado. Trata-se de um pecado capital, mas, cada qual tem seu paladar e ela é a rainha das batatas. Temos que ter paciência e degustar o Papa Figos admirando a imagem da ave na garrafa, o que é um chamariz.
Diria que meu bacalhau lagareiro estava excepcional. Muito bom, assado no ponto, com acompanhamento de batatas assadas com a casca, azeitonas e alho frito. O atendimento que nos prestou José foi primoroso explicando cada uma das nossas pedidas.
Eis, que, o infortúnio (seria a maldição da bota!) ao mastigar o lagareiro perdi a cobertura metálica de um molar, não de todo porque deu tempo de recuperá-la e guardar num pedaço de papel para levar comigo à Bahia, para o devido reparo com o doutor Cantidiano.
Pena que não fiz uma foto com dona Mabel. Fica para a próxima visita. A casa é simples com dois ambientes - interno, decoração como se fosse o ambiente de uma casa - e o externo (onde ficamos) protegidos por sombreiros.
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Restaurante Solar do Vez/ Campo das Cebolas, 48/Lisboa - Portugal/Papa Figos 14.50 euros/Bolinhos de bacalhau 3,50 euros/ Bacalhau Lagareiro 11 euros/Frango assado 7 euros/Classificação 3 DONS
