Cultura

LISBOA, CAP 2: MUSEU DO FADO, RETRATO DA PAIXÃO E ALMA DE PORTUGAL -TF

Em respeito as placas de não gravar no interior do museu fiz uma sonora para meu canal do YouTube e para o Vídeos BJÁ no Largo do Chafariz de Dentro.
Tasso Franco ,  Salvador | 23/02/2022 às 07:48
Museu do Fado, um retrato da alma portuguesa
Foto: BJÁ
     Atrás do tempo vem outro tempo e diria como meu vô Jovino Franco "tempo vem e tempo vai sem que a gente segure o passar do tempo". 

  E a partida é mais dolorosa do que a chegada, esta, sempre alegre, e eu que já passei dos 76 caminhando para os dois patinhos na lagoa em pé, 77, sem bengala e sem muleta, sinto isso mais do que os outros, as meninas que estiveram comigo em viagem, a esposa Ohra Bião de Jesus; e minha neta Lua Gonçalves de Jesus, com tais sobrenome do Senhor, imagino, abençoadas pelos Reino, e o meu Tasso Filho que chamo Agapito, el dios del amor, residente em Valencia, Espanha, a terra de Don Jaime e do mártir Vicente Ferrer, que nos acolheu com sua Vitória Giovanini por longos dias e veio trazer-nos de volta ao aeroporto onde seguimos para Lisboa, de Vaz de Camões.

  Chegamos antes do Natal e partimos treze dias depois de Reis abençoados pelos magos, vinhos, pintxós e tapas da comunidade valenciana e estivemos a embarcar num turbo hélice para Lisboa, entre lágrimas, eu a conter as minhas com a manga do blusão, pois  há muito não uso lenço e documentos só os essenciais, e minha neta a se haver na passagem pela vistoria e censores eletrônicos do aeroporto, tantos são os anéis que usa nos dedos, argolas e piercings, bota afivelada e bags com mil badulaques e la señora Bião, como trato a minha amada, a socorrê-la, preocupada.
 
  O TAP milagrosamente decolou no horário e tal era a emoção da minha neta que foi traída por um passo falso de sua bota que a levou ao solo na entrada do avião, tendo tempo apenas de virar para a tia que a seguia a passos curtos e dizer: "Eu caí tina". E a tia, também, quase despencar da escada do avião ao tentar socorrê-la. 

  E eu a astuciar tudo, sem rir, porque se já sou contido em dar risadas, dos outros quem sorri num tropeço ou num susto, tropeço maior passa e cai; e susto, então, será triplicado. A tia me cutucou em risos, também contidos, enquanto um senhor benevolente ajudava a senhorita a se colocar de pé e depois sentar-se na poltrona da aeronave.

  Lembrei, por conseguinte, assim, para ilustrar o episódio que possuía um cão, Bethoveen, que era bem alimentado com ração top, mas, vocês todos sabem - embora não sejam farejadores - que, rações por mais atrativas que sejam não têm o cheiro de um bife sendo frito numa caçarola. E esse bendito cão toda vez que alguém fritava uma tira de alcatra ou de contra filé na cozinha se aproximava do fogão e ficava a 'choramingar' querendo um pedaço e eu ficava irritado com aquilo.

  Certa feita, lendo o jornal do dia, ainda existia jornal impresso nessa época, enrolei duas folhas do papel em tintas e corri para golpear o dito cão no quadril e o ardiloso passou por mim como um raio e ao virar e persegui-lo cai feito um sapo na lagoa a coaxr no piso liso de casa e a gemer de dor.
 
  Por isso me contive no voo para Lisboa, excelente, por sinal, sem sacolejos e bem chegamos na capital portuguesa e passamos pela vigilância sanitária contra a Covid, já estávamos aboletados numa van contratada pelo ‘boooking’, com um ‘transfer’ a nos esperar e cumprimentar com aquela plaquinha escrita à mão o nome da Bião de Jesus. 

  A neta comentou: - Essa tia é chique e sabe das coisas.

   E lá fomos nós para o Building Five Stars - bem que Luna disse que a tia era chique - e eu não acreditei que o flat da Dom Luis I opera sem humanos e tudo foi resolvido com uma senha enviada ao Sansung que permitiu acessar um dispositivo onde estavam cartões do nosso apartamento, os quais também davam acesso ao elevador e a porta do corredor das habitações. 

  Lisboa, a velha cidade/cheia de encantos e belezas como um dia cantou a musa eterna do fado, Amália Rodrigues, também se moderniza e não vive somente a louvar as procissões de santos.

   Minha neta encantou-se, de imediato, com o apartamento do flat e um quarto somente para ela em área com imensa cama de casal e disse que ligaria imediatamente para o seu pai visando ficar ali não os 7 dias programados, mas, 30 dias. 

   E pôs-se a astuciar os equipamentos da cozinha - pratos, talheres, fogão elétrico, cafeteira e geladeira - e o que mais existia e anotou. E eu falei que não poderíamos perder tempo a benzer o local, como se padres fossemos, visto que o dia ainda era claro e caminhava pelo meio. 

   Decidimos, de imediato, refeitos batons e maquiagens nas mulheres, e ajeitado o meu cachecol rumarmos para conhecer o Museu do Fado.

  A viajantes que mão gostam de perder tempo o melhor é pegar um táxi, os pretinhos e verdes da capital portuguesa, e são muitos à disposição dos turistas ainda mais como a nós que estávamos hospedados na Baixa Pombalina próximo ao Mercado da Ribeira e ao Cais do Sodré, áreas de intenso turismo, e dei a mão a um deles, ainda na pracinha Dom Luís I e com a minha costumeira simpatia pedi ao moço nos levar ao Museu do Fado. 

  E ele disse que era um excelente local e mais falou que o fado é uma paixão nacional e eu fui concordando com ele sem entender a metade das coisas que falava – já expliquei no título deste livro que sou surdo por conveniência - a tal ponto de pedir socorro as parceiras de viagem, quando la Bião advertiu ao taxista que falasse um pouco mais alto, pois, o viajante ao seu lado era surdo. 

  Uma injúria contra a minha nobre pessoa, confirmada por minha neta (as duas combinam em enxovalhar-me), a que não dei bolas e o distinto foi-me mostrando os cruzeiros ancorados no Cais do Sodré eu a dizer-lhe que, na Bahia, o governo do Estado os proibiu de atracar temendo casos de Covid. E o gajo a rir de minha observação destacando que na virada do ano "acá tivemos cinco grandes navios e milhares de gringos".

  Em instantes, desembarcamos no Largo do Chafariz de Dentro, 1, onde se situa o Museu do Fado nas proximidades da boca de uma ladeira que alcança o cume da Alfama, e pagos os 5 euros devidos da corrida, já estávamos a entrar no museu depois que nos identificamos como brasis e mostramos os nossos QR Codes de vacinados contra a Covid gravados em nossos celulares. 

  Desembolsamos mais 15 euros para visitar as instalações do museu e recebemos aparelhos (walk talk) com gravações de conteúdo das imagens.    
 
  Quem ama e curte o fado dá-se bem neste noviço entre os museus da cidade, inaugurado em 25 de setembro de 1998, e consagrado ao universo do fado e da guitarra portuguesa, duas paixões nacionais dos locais, e diria, ao menos o fado, a paixão de muitos brasileiros. 

  Este espaço cultural conta com uma exposição permanente, espaço de exposições temporárias, centro de documentação, loja temática, auditório, restaurante e a Escola do Museu onde são ministrados cursos de guitarra portuguesa e de viola de Fado, e onde é possível frequentar um seminário para letristas.

  Desde 2016 o museu disponibiliza, através da Internet, um Arquivo Sonoro Digital com acesso a milhares de registos sonoros desde o início do século XX, via pesquisa por intérprete e repertório.

  Em média, o visitante permanece entre duas e três horas percorrendo o museu ouvindo fados, observando guitarras antigas e de tocadores históricos de fado, vestes, documentos - inclusive peças que mostram a censura ao fado na época da ditadura salazarista - cenários da casa portuguesa com certeza, audiovisuais, auditório e assim por diante. É uma viagem no mundo do fado.

  Percebi que, minha neta, de apenas 16 anos de idade e admiradora do rock, cantora e dançarina dos pops inglês e norte-americano de saber músicas na ponta-da-língua e dançar a fazer calos nos pés, tantos são os rodopios com exibições para si, em seu quarto de casa, adorou o museu pelo tempo que passava apreciando as peças, as vestes das fadistas, as guitarras. 

  E eu já estava a apressá-la, pois, ingressamos às 15h34min e já estávamos às 16h15min e muito ainda havia a ser visto, lembrando que as 18h a casa encerrava o expediente.

   O circuito museológico do fato desenhou-se em função da necessidade de integração de renovados conteúdos temáticos, desde o espólio museológico existente, que é grandioso, passando pelas construções teóricas sobre o fado e as inovações. Há quem pense, àqueles que não estão familiarizados com a música, que o fato é um ritmo único. Enganam-se, pois, há vários tipos de fados e uma nova geração de fadistas.
  
  Ao longo do percurso museológico, alerto, pois, o visitante é convidado a conhecer a história do fado desde a sua gênese, no século XIX, até à atualidade, os principais percursos de mediatização da canção urbana, o teatro, a rádio, o cinema e a televisão - o historial e evolução técnica da guitarra portuguesa, os ambientes das casas de fado, bem como o percurso biográfico e artístico de dezenas de personalidades do universo fadista. 

  Para além de documentar o percurso biográfico dos artistas que construíram e constroem, ainda hoje, a história do fado, a exposição reflete também a relação da sociedade portuguesa com o fado, através de um importante acervo de artes plásticas. É um casamento perfeito, diria, pois, não conseguimos conceber Portugal sem o fado. Lisboa, por ser o berço do fado, então, tem uma simbiose impressionante.

  Os audiovisuais existentes no museu - alguns deles com Amália Rodrigues - mostra essa relação do fado com a classe média portuguesa, os espetáculos, as cantorias, as casas, os teatros, todo um caldo de cultura que é visto no museu. 

  Quando chegamos nesta sala para sairmos deu trabalho. A Amália cantando o fado Canção do Mar vimos umas seis ou oito vezes. O que foi possível vermos e anotar em todo o museu, vimos e anotamos. E, eu, que dedilho um bandolim sai embevecido. As minhas companheiras de viagem, emocionadas. Em respeito as placas de não gravar no interior do museu fiz uma sonora para meu canal do YouTube e para o Vídeos BJÁ no Largo do Chafariz de Dentro. 

  Os sinos d'alguma igreja estavam a sinalizar a hora da Ave Maria e nos dirigimos, a pé, para jantarmos no Campo das Cebolas.