Perde milhões de likes e capilé no rodo, mas satisfaz à sua amada e segue ao seu lado eternamente
Tasso Franco , Salvador |
19/02/2022 às 10:15
Lubi de férias em Valencia, Espanha
Foto: OG
Estava a cantar uma música de Paulinho da Viola - "Pecado Capital" (Dinheiro na mão é vendaval/É vendaval/Na vida de um sonhador/Quanta gente aí se engana/E cai da cama/Com toda a ilusão que sonhou/E a grandeza se desfaz/Quando a solidão é mais/Alguém já falou) e, entre um gole e outro da gelada, tira-gosto de amendoim torrado, lembrando dos meus tempos de bonança da piscina com água azul, petiscos variados e um black à vontade, falei para a Ester, minha santíssima esposa, que com esse tempo do ômicron dificil de atravessar, os negócios desapareceram, os inquilinos não pagam os aluguéis, o dinheiro sumiu, eu próprio nunca coloquei no bolso a cédula de 1 guará, só se fala em cartões e bitcoins, e nesse num momento de desassossego - como diria o poeta Fernando Pessoa - iria expor nudes meus no 'only fans', à exemplo da ex-chacrette Rita Cadillac e uma daquelas meninas salientes do BBB-22, com o obetivo de amealhar recursos extras e pagar as contas mensais, a cada dia mais absurdas com o IPTU no céu, o IPVA nas nuvens e o plano de saúde na boca do inferno.
Estava, pois - argui em seguida - "a beira do fogo do demo", já chamuscado pela crise desencadeada pelo virus da Sars Covid 2, acrescida de decretos publicados pelas autoridades, o pode não pode, o abre e fecha, o dança não dança, a ponto de temer o carro do 'cata véi' mais do que o ferrão do pé-de-Botelho.
A Ester olhou-me com cara de quem poderia me dar um chega-pra-lá, rodou a baiana numa sandália que trocou com a irmã numa permuta financeira vantajosa, mas, que deixa seu calcanher em parte de fora da palmilha, e disse: - Se assunte, se compreenda, se meça, se cube, se mire no espelho, foram tantos os ses que quase me engasgo com o restante da gelada, a última lata, tanto que já estava a pedir um adjutório do mé ao dr Zéu, tossindo a miúdo.
Prosseguiu: - Tome sua cerveja e curta seu som, porque enquanto eu estiver de pé, circulando nesta casa, dando meu sangue e suor na ajuda ao seu trabalho, ao nosso labor, na nossa luta porque um homem só é andaluz quando tem atrás de si uma forte mulher, uma sábia lady, você não vai posar nu; nem em poses sexy provocantes, nem aqui, nem na China se um dia for na terra de Mao.
Obtemperei, em calma de monge do Tibet: - Que mal faria a vossência minha exibição neste portal de imensas fans, nem precisaria ser nu, me contentaria em utilizar a sunga de croché que me deste e poderia aparecer tomando um gin e pitando uma cigarrilha da Talvis, toalha ao ombro para não mostrar meu belo toráx inteiro, o lindo coberto aparecendo em destaque apenas minhas exuberantes coxas.
- Não tem coxa certa, nem coxinha, nemm coxão; nem lindo pra dentro ou pra fora, nem sunga; nem sungão. Esqueça essa ideia e vá trabalhar, largue esse bandolim e vá à luta, arregarce as mangas, saia da rede e procure o que fazer que achas. Se nada sabes além produzir tachos de cobre como os ciganos de Camaçari vá vender umbus na feira, mercar siriguelas, comercializar pinhas, o que não faltam são frutas em nossa roça, e adicione a elas, nos cestos, pitadas de coragem, doses de ânimo, que o capilé aparece sem a necessidade de exibir-se em portal inglês da internet.
- Confesso que não vejo nada demais e até entendo seu ciúme antecipado, pois, se nudes produzir para "only fans" certamente quebraria a internet como se diz no jargão de nossa tribo - já me referi assim para irritar Ester - uma vez que, se fans já tenho as pencas, se multiplicariam em cachos de bananas em minha plantação, ou como tomates viçosos em minha horta, e ganharia mais novos seguidores do que o pugilista Popó.
- Não sabes de nada, não conheces sequer a estrutura dessa engrenagem e como esses famosos agem, as picões da vida, as quebradeiras, as topkays, e ficas a sonhar, a delirar, como se apenas com suas 'belas coxas' - como diz - irá amealhar milhares de seguidores e milhões de likes atraindo a atenção das empresas de cosméticos e perfumes que vendem qualquer água de cheiro e enganam as bobas, as desavisadas. Eu é que não embarco nessas e só compro meus perfumes em Paris e minhas maquiagens na Kiko de Milano;
- Ora, ora quem não tem cão caça com gatos, e se acá na Serra não temos a Pavon; nem a Mersace temos a nossa Louis Vouiton, a Bota Encantada, do Neném; e a multinacional de alimentos Serra Export que comercializa com a China e a Índia, uma porta aberta para o mundo e que certamente nos ajudaria.
- O que sei - sorriu a Ester a pista comprida - dessa Serra Export que você fala é que vende jegues para a China e os poucos que sobraram em nossa terra, ainda a carregar molhos de sisal, são escondidos a sete chaves pelos produtores rurais e mais não há a compra e venda nem nos sertões de Pernambuco e do Ceará, essa empresa praticamente falida.
- Não tem falência certa e a SE está com agentes espalhados no Piauí e na Paraíba e nada melhor do que este Marlon Brando que vos fala aparecer na internet como garoto propaganda deste negócio, uma vez que a carne de jegue, em Xangai, é mais disputada do que o presunto de Parma.
- Ridículo, grotesco, abominável, este Lubi de postura exemplar, de beijar os pés de Antônio na catedral, de rezar com o bispo da gloriosa Pão de Açúcar, de desfilar com a nossa bandeira durante o 30 de junho, data em que comemoramos a elevação de vila à cidade, de frequentar a Casa das 7 mulheres, a Janela da Dil e o Bacalhau da Barão, se submeter a essa humilhação, esse despropósito.
Depois dessas palavras elogiosas da Ester, servida uma gelada mais nevada do que o Alaska com tira-gosto de Josefina e do que seu pedido para que cantasse "Estrada Vermelha", de Vitor e Léo, soltei a voz, chamei ao beijo mais volumoso do que o dado por Eliezer na Natália, no BBB-22, e reconsiderei minha posição cancelando o pedido para ingressar no "only-fans".
