Cultura

CINEMA: MÃES PARALELAS, MATERNIDADE E POLÍTICA JUNTAS,p AGAPITO PAIS

Filme de Pedro Almodovar que concorre a dois prêmios no Oscar em exibição na Netflix desde onte,
Agapito Pais , Salvador | 19/02/2022 às 11:57
Ana (Milena Smit) e Janis (Penélope Cruz)
Foto: DIV NETFLIX
   Indicado a dois prêmios no Oscar - melhor atriz e trilha sonora original - o filme "Mães Paralelas", do cineasta espanhol Pedro Almodovar, não creio que estatuetas leve para casa. Penélope Cruz - a eterna deusa de Almodovar - faz o papel de uma fotógrafa profissional que se envolve na cama com o arqueólogo Arturo (Israel Elejalde) ao consultá-lo sobre a escavação de uma antiga cova da era falangista onde estariam sepultados seus ancestrais.

  Na ditadura de Francisco Franco (1939/1976), na Espanha, os opositores deste regime assassinados nas vilas eram enterrados em valas comuns sem qualquer tipo de identificação. O filme, para bom entendedor da política, tem esse viés, bem no estilo Almodovar, e o cineasta chega a fazer uma crítica direta ao lider do PP espanhol atual Mariano Rajoy, lider da direita recentemente apeado do poder pelo socialista Pedro Sanches.

  No plano da arte cinematográfica, o diretor expõe mais um trabalho sobre a maternidade seu tema predileto , mas, com tratamentos diferenciados ao longo dos anos e uma evolução a partir de “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, da década de 1980, a "Fale com Ela" e "Dor e Gloria", este, mais recente, só para citar três exemplos. 

  “Mães Paralelas” é mais refinado, mais sutil, uma história de amores cruzados com uma profissional de fotografia na casa dos 40 anos, um arqueólogo maduro e casado e uma jovem mãe de 20 anos filha de uma ex-'hippie', na tela, no papel de atriz profissional itinerante.

  O diretor não dispensa suas atrizes prediletas Penélope Cruz, Rossy de Palma e Julieta Serrano no elenco, e mais Milena Smit, com direção de fotografia de José Luis Alcaine e a produtora Esther García. 

  Por coincidência do destino, duas mulhres acabam por parir no mesmo hospital. Mães solteiras, a fotógrafa Janis (Penelope Cruz) e a jovem Ana (Milena Smit) engatam uma amizade a partir de um encontro casual, Janis querendo ter o bebê porque já tinha passado do tempo (40 anos) e Ana, muito jovem, temendo pelo futuro.

  Adiante, depois de trocarem figurinhas e telefones, a amizade das duas vai se prolongando até que Arturo, pai da filha de Janis, vê que o filho do casal apresentado a ele no berço por Janis não se parece com sua fisionomia e questiona: - Esse bebê não é meu.

  Aí começa o drama, Janis falando que só havia feito sexo com ele e era uma pessoa insuspeita. Arturo não se convence, mas, não suspeita de infidelidade.

   Praticamente se distanciam e Janis faz um exame de maternidade da criança e o resultado mostra que, de fato, o bebê não era o deles. Ao que tudo indica, e essa é a impressão do telesctador, houve uma dos bebês na maternidade.

  Depois de algum tempo, as duas mulheres ao se encontrarem numa cafetaria, Janis pergunta a Ana como estava sua filha (na real, a filha dela) e recebe a informação de sua morte. O drama se estende, Janis convidando Ana para morar em sua casa e trabalhar como cuidadora de sua própria filha, sem esta saber.

  Nesse meio termo, Janis consegue um teste de maternidade para comprovar se a bebê, de fato, era filha de Ana e dá positivo. No desenrolar do drama, entre conversas variadas, as duas têm um caso de amor.

  Quando parecia que tudo terminaria por ai, Arturo volta para informar que faria o trabalho de prospeção na cova falangista da familia de Janis e esta aproveita a oportunidade para contar que, o bebê que ela criava, de fato, não era deles, e sim de Ana. 

  No final, Ana se revolta com Janis ao saber a verdade sobre sua filha e sai da casa de Janis indo embora e levando o bebê.

  Há um corte da direção já com a presença de Arturo e de técnicos que iriam fazer a escavação da cova, Ana se recompõe com Janis, pelo menos em amizade, e acha-se a cova onde os bisavós de Janis estavam sepultados.

  O filme, portanto, comporta duas análises: a maternidade e esses dramas da vida, a troca de bebês em maternidades, os sentimentos que se seguem quando isso é descoberto, as angústias e os sofrimentos das mamães; e o lado político, mais um tapa na cara ao regime franquista que, por mais que seja estudado, analisado, revisitado, ainda há esse drama dos sepultamentos nas covas rasas, muita coisa a ser revelada e que, muitas familias como as de Janis desejam um sepultamento ao menos dignos e o reconhecimento dos seus.

  São dois dramas reais expostos na tela, o primeiro, relacionado à maternidade, um tema universal; e o segundo, mais específico da Espanha, da Guerra Civil espanhola e da ditafura de Francisco Franco, ambos bem postos pelo diretor na tela.