Cultura

MORRE O CINEASTA E CRITICO DE COSTUMES ARNALDO JABOR, AOS 81 ANOS

Com Globo.com informações
Tasso Franco , Salvador | 15/02/2022 às 09:21
Arnaldo Jabor
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   Morreu, nesta madrugada, o cineasta, cronista e jornalista Arnaldo Jabor, aos 81 anos. Ele estava internado no Hospital Sirio-Libanês, em São Paulo, desde o dia 17 de dezembro, depois de sofrer um acidente vascular cerebral. A família informou que a causa da morte foram complicações do AVC.

Nascido em 12 de dezembro de 1940 no Rocha, bairro da Zona Norte carioca, Arnaldo Jabor era filho de um oficial da Aeronáutica e uma dona de casa.

Em mais de 50 anos de carreira, Jabor percorreu entre o cinema, o jornal, a TV e o rádio, ora tratando de política, ora contando uma história da juventude — ou unindo os dois como um malabarista. Em seus filmes e textos, procurava observar a sociedade brasileira, compreender seus paradoxos e criticar suas hipocrisias.

Diretor do Cinema Novo, o cineasta inaugurou a linha do “cinema verdade” de Jean Rouch, aproximando a câmera das pessoas nas ruas e dando destaque às contradições da classe média, da qual o próprio fazia parte.

Seu primeiro longa-metragem “A opinião pública” (1967) foi um marco no documentário brasileiro moderno. Através de depoimentos de personagens como estudantes, donas de casa e aposentados, o filme traça um painel da classe média carioca após o golpe militar de 1964, evidenciando seus comportamentos, suas inclinações e, sobre tudo, sua distância frente a realidade brasileira. A obra faz, afinal, uma referência ao próprio diretor, que sempre se colocou diante da opinião pública como ponto crítico, de questionamento.

— Há uma semelhança do tempo em que fiz “A opinião pública” para hoje. Naquela época, o Brasil também estava dividido em dois e ninguém falava da classe média. Fiz o filme para mostrar a perplexidade de um grupo que não tinha a menor ideia do caminho que deveria seguir. É uma sensação que continua hoje.— declarou o jornalista em entrevista ao GLOBO em 2014, ao lançar a coletânea  “O malabarista — Os melhores textos de Arnaldo Jabor”.

Nos anos 1970, Jabor tornou-se um dos mais bem-sucedidos diretores do país com filmes como “Toda nudez será castigada” (1973), que conquistou o Urso de Prata no Festival de Berlim e foi o primeiro vencedor do Festival de Cinema de Gramado. Adaptado da obra teatral homônima de seu amigo Nelson Rodrigues, o drama acompanha um conturbado triângulo amoroso (às escondidas) entre um viúvo, sua amante e seu próprio filho.