Cultura

CRÔNICA: MEXICANO RAMON DIZ AO LUBI QUE JUDAS PERDEU AS BOTAS NA SERRA

O Encontro do Lobisomem de Serrinha com o mexicano Ramon Martinez sob os olhares da testemunha Rosa de Lima
Tasso Franco , Salvador | 09/02/2022 às 10:00
Judas, Cristo e a bota da frase histórica
Foto: REP
    Muito do que se fala de coincidências sobre encontros casuais tipo surpresa entre duas pessoas, mais a saber se são personalidade famosas ou anônimas, os mortais não acreditam achando que se trata de invenções, de inverdades, pois, é muito mais crível o ocaso do que o acaso.

 O que passo a narrar com minha pena segundo me foi relatado por terceiros, e essa é uma questão a mais a duvidar uma vez que não fui testemunha ocular, não vi, não apalpei, não fotografei, sequer cubei de cima para baixo e vice versa, porém, dou crédito a quem me contou a crítica literária Rosa de Lima, por ser uma pessoa de responsabilidade, que presenciou um encontro entre o Lobisomem de Serrinha e o mexicano Ramon Martinez, fato que se se deu na cidade de Lisboa, que todos vocês conhecem, pelo menos de nome, fama e fados. 

 Dito que o Lubi já estava com a mala afivelada para retornar à Serra, sendo que preciso foi sentar em cima para fechá-la tantos foram os presentes que conduzia para a sua amada Ester, e saiu apenas para um almoço frugal no Mercado da Ribeira antes de se dirigir ao aeroporto Humberto Delgado. 

 E foi nesse espaço de 500 lugares - muita coincidência - que se bateu com Ramon, o mexica que conhecera, em 2016, na casa de Florzinha em Vilas do Atlântico, Lauro de Freita, esposa de Sêo Franco, onde prestava serviços como pedreiro de massa e pintura num muro, bico que lhe proporcinou a referida lady ao encontrar o Mérida mendigando na praia com uma cuia de queijo e uma viola, músico que é.

  Assim, encontrou-o o Lubi no Mercado da Ribeira com a viola trespassada nas costas a comer um prego, o tradicional sanduiche portuguesa e bebericar uma Bock. Sem dúvida no errar de nome diante de fisionomia que lhe parecia peculiar, o Lubi, que se sentou ao seu lado para beliscar uns pastéis de bacalhau assim disse: - És o nobre Ramon que estou a ver ao meu lado?

 - Sem mais duvidar - respondeu o mexicano - estirando o braço para um toque de punhos em cumprimento diante do temivel ômicron - acrescentando que estava ali de carne e osso a tocar nas ruas de Lisboa visto que, com o turismo em alta, é melhor aqui do que no verão do Brasil onde estão matando imigrantes a pauladas.

  - Ora, meu caro mexica, trata-se de um caso isolado e a Bahia, a terra da felicidade, está sempre de braços abertos a vossência, ainda mais a prazerosa localidade de Vilas do Atlântico onde tive o prazer de lhe conhecer na casa da senhora Florzinha, como sabes, pessoa generosa, devota de Nossa Senhora das Candeias, senhora de missa e terço, que lhe amparou e certamente lhe ampararia se necessário fosse.

  - Não tenho dúvidas da generosidade desta senhora e do seu empreendedor esposo, cujo desejo era colocar uma pousada numa Casa Branca de esquina que havia (ou ainda há) por lá, mas, pelo que soube a Covid está matando mais gente no Brasil do que galinha de granja quando falta energia, e as autoridades baianas estão fechando tudo, o comércio, as escolas e até as praias. Então, para lá se for, mesmo com minha viola azeitada e novo repertório que amealhei com novas e belas canções, morreria de fome.

  - Há muitos 'fake news' sobre o Brasil e a Bahia. Alguma coisa, óbvio, está a acontecer, e o ômicron tanto está levando a óbitos brasis como gringos nos EUA e na Ásia, mas, se quiseres ir para a Bahia sempre será bem recebido, embora, dona Florzinha tenha alugado sua casa em Vilas, abatida que ficou com a morte dos seus cães e com a crise engatada pela Covid.

   - Não me digas! Aquele cãozinho pintandinho morreu? E o outro, o orelha torta com nome de um Deus, salvo engano, Tifão, foi a óbito?

  - Sim, o Bethoveen, o pintandinho, ficou broco e morreu afogado na piscina. E o orelha torta foi levado para uma fazenda do Zezé, em Coração de Maria, e faleceu de tristeza. Ela, com medo do esposo, o qual também estaria broco e surdo cair na piscina resolveu alugar a casa.

  - Estás vendo! O que iria eu fazer por lá neste verão? O senhor do Merk Abate, mal me daria um pão sovado, e Tourão, da colônia de pescadores de Buraquinho, com sua bondade, um punhado de farinha com peixe frito.

  - Ora, meu nobre, pare de reclamar porque as oportunidades por lá são amplas, e, em tempos idos, vós foste a convite da professora trabalhar na Serrinha numa fábrica de bolos que a Cervejão empreendeu.

  - Fui e se não me arrependo do que fiz, bem recebido que estive por aquela comunidade, sobretudo durante a semana santa no Bacalhau da Barão, onde toquei e comi a régua comprida, mas, aquela Serra é o lugar que Judas perdeu as botas e, assim como cheguei, parti dizendo adeus apenas a senhora e distinta professora, uma vez que não queria morrer crispado de calor. Não sei como V.Exa. ainda mora por lá e não se muda para este glorioso Portugal.

  - Não me mudo nem mudarei e lá que amarrei meu bode onde bode é bode e não acá a terra de Santo Antônio que faz, por milagre, meia dúzia de peixes pequenos virar um cesto de pescados variados e grandes, a conversar na intimidade com eles.

   O lubi franziu a cara e se despediu de Ramon. Ofendeu a Serra, que os peixes de Santo Antônio virem sapos. Seu celular havia sinalizado que o 'transfer' estava na porta do hotel com uma van para levá-lo ao Humberto Delgado. 

   - Até mais ver se milagres e coincidências novas acontecerem neste mundo, falou o Lubi.

   - Com a glória de Antônio de Lisboa e Pádua, respondeu o mexica.

   Deram novos toques de punhos. O Lubi a se dirigir pela porta lateral do Mercado em direção ao Largo de dom Luis I e o mexicano, já dedilhando sua viola e cantando 'Malaguena Salerosa' pela porta Sul rumo ao cais do Sodré, com sua cuia de queijo a amealhar euros, peixes ou sapos.