Cultura

A CADEIRA E O ALGORITMO CAP 16: O FIM DO DINHEIRO VIVO E A ERA CARTÕES

PIX avançou mais ainda e já elimina também os cartões magnéticos o dinheiro vivo e as moedas perdendo espaços
Tasso Franco , Salvador | 31/01/2022 às 11:11
Caldo de cana no PIX, Elo, Hipercard e no código do celular
Foto: BJÁ
     No capítulo 15 do meu novo livro "A Cadeira e o Algoritmo" que venho publicando no site de literatura Wattpad.com mostrei como a população da cidade de Lisboa, Portugal, convive bem - em harmonia - as novas tecnologias com as velhas, especialmente nos sistemas de transporte, na hotelaria, nas casas de fado e nos restaurantes familiares, alguns dos quais ainda só recebem a conta em dinheiro vivo, efetivo. 

  Ao tempo em que, no Mercado da Ribeira, ponto gastronômico mais badalado da capital portuguesa, as contas só podem ser pagas nos cartões. Dinheiro vivo não é aceito. Não vale nada.

  Esta é uma questão que analisamos agora. O dinheiro - papel moeda e as moedas metálicas, conhecidas em inglês como coins - vão desaparecer do mercado internacional na troca de mercadorias e serviços ou vão resistir? 

  Uma resposta que ainda não temos, em definito. É provável, assim como aconteceu com a previsão do "O Fim da História e o Último Homem", de Francis Fukuyama - The End of History and the Last Man - livro publicado em 1992 expandindo seu artigo The End of History - e que tantos debates provocaram, resistirá em algumas localidades, mas, desaparecerá por completo - como já está acontecendo - nas transações comerciais e industriais de maior vulto e no comércio e serviços mais simples, como são os casos nos transportes por ônibus e metrôs das cidades internacionais.

  O dinheiro e moedas metálicas são um dos mecanismos de troca dos mais antigos da humanidade - estima-se que no século XI a.C. o cauri, uma concha de praia também chamado de zimbo ou búzio já era usada na compra e venda de mercadorias. Em Angola e na Costa dos Escravos (atuais Benim, Togo e Nigéria) era a moeda mais aceita pelos comerciantes. 

  O dinheiro em papel moeda que ainda usamos nos dias atuais teria surgido na China, dinastia Tang (que se estendeu de 618 a 907 d.C.). No Séc. XIII, o navegador veneziano Marco Polo visitou a China e fez as primeiras descrições ocidentais com relação ao papel-moeda em forma monetária. 

  E as primeiras moedas, tal como conhecemos hoje, peças representando valores, geralmente em metal, surgiram na Lídia (atual Turquia), no século VII a. C. Eram artesanais e feitas em forjas e na base de marteladas, em primitivos cunhos. São bem conhecidas as moedas do Imprério Romano com imagens dos césares. 

  Importante salientar, no entanto, é que o dinheiro nas formas de papel moeda e moedas metálicas está desaparecendo e os cartões magnéticos antes usados apenas nas lojas do comércio já são utilizados em todos os locais - hotelaria, restaurantes, transporte, cinemas, museus, cafés, numa infinidade de locais.

  Lembro que, quando iamos para a Europa nas décadas de 1970/1980, no momento em que passávamos pela alfândega nos aeroportos exigiam-se de nós a apresentação do passaporte, o local onde se ficaria hospedado e se tínhamos dinheiro, obrigando-nos a mostrar os valores que levávamos malocados em pochetes presas à barriga e bolsos falsos colados a cueca. 

   Dinheiro vivo era uma credencial. Quem não tinha poderia ficar barrado. E ficava. No aeroporto de Madrid e em Heathrow (Londres) eram comuns brasis recambiados de volta porque não mostraram o hotel em que se hospedariam e o dinheiro que levavam para gastar.

   Hoje, isso ainda persiste em alguns locais, porém, o que vale mais é o cartão Visa, de preferência com o indicativo, infinite. Ou seja, com crédito amplo.

   É possível, portanto, se fazer uma viagem Salvador-Lisboa, por exemplo, com pouco dinheiro efetivo, todas as despesas sendo creditadas no cartão desde a compra dos bilhetes - ida e volta - da empresa aérea, reserva de hotel pelo Booking.com um site internacional onde os cidadãos podem reservar acomodações para férias ou viagens, disponível em 43 idiomas, que oferece aproximadamente 1,07 milhão de locais para se hospedar. Booking.com é uma divisão da Booking Holdings.

  No caso de hospedagem não é o único. O AirBnb - empresa norte-americana que opera um mercado online de hospedagem, principalmente casas de família para aluguel por temporada e atividades de turismo - tem sede em San Francisco, Califórnia, a plataforma pode ser acessada via site e aplicativo móvel, de Salvador ou qualquer outra parte do mundo.

  Ou seja, antes de você viajar para o exterior, os créditos já são debitados em sua conta bancária, do traslado aéreo e da hospedagem.

  Na minha última viagem a Lisboa, recentemente, fiquei hospedado no Building Lisbon um flat da praça dom Luis I que não opera com humanos. A reserva é feita pelo Booking e quando você chega no hotel já leva consigo um código no telefone celular para acessar o local onde se encontra o cartão magnético que dá acesso ao elevador e ao apartamento. Com esse cartão entra-se e sai-se do flat sem falar com ninguém, sem ser atendido por ninguém. 

 Curioso é que, na primeira vez que me hospedei neste flat em 2019 havia um receptivo com huamnos (RP) que nos levava ao apartamento e mostrava como ligar a TV, como funcionava o fogão elétrico, como acionar a cafeteira e outros equipamentos, além de dar as boas vindas. E, havia, na portaria vigilantes e pessoas que davam outras informações.

  Agora, dois anos depois, esses empregos desapareceram. Tudo está automatizado, robotizado, obedecendo as leis do mercado da 4ª Era Industrial, da TI e IA.

  E como isso é possível de ser feito - avião, hotel, restaurante, farmácia, etc - apenas com cartões - o magnético para abrir portas e o de crédito para pagar as contas? 

  Graças ao algoritmo. No monento em que você chega no Marlene Vieira, restaurante do Mercado da Ribeira, e solitica uma taça de vinho e um polvo lagareiro, com total de despsas 20 euros, ao passar o seu cartão de crédio, em segundos, o algoritmo envia uma mensagem para o banco onde você tem conta corrente no Brasil e é feito um crédito transferência de sua conta para a de Marlene Vieira que, também em instantes, recebe o valor debitado.

  Isso só é possível graças a um imenso banco de dados e uma rede de satélites (afinal, você está do outro lado do Atlântico, a mais de 6 mil km de distância) e há um custo cobrado pela operadora além do IOF. Todos ganham, evidente. O cliente, óbvio, paga. Mas, ele também ganha na medida em que não precisa ter dinheiro vivo no bolso e correr o risco de ser assaltado.

  Não precisa dizer que cada cartão tem um código, uma senha, reservada a cada pessoa. Você só não pode é perder o cartão ou ficar 'drunk' e esquecer a senha na hora de digitar os 6 números do seu código. Nos cartões de aproximação dependendo do valor não são necessários digitar códigos. Esquecer o código acontece com frequência maior do que se imagina. 

  Aí é que entra o dinheiro vivo, da algibeira, do bolso do colete. E isso se chama a harmonia entre as novas tecnologias e as velhas. E, não só em Lisboa, mas, em vários locais do Brasil e do mundo ainda só se recebe as contas em dinheiro vivo.  

 Outro exemplo em Lisboa: alguns restaurantes populares familiares ainda só recebem as contas em dinheiro vivo, o mesmo acontecendo em algumas regiões do Brasil.

  Recentemente, no Brasil, implantou-se o PIX, um meio de pagamento eletrônico instantâneo, gratuito e com segurança. A iniciação de um Pix para uma pessoa física é gratuita. Foi lançado em 2020 e funciona 24 horas, sete dias por semana. Suas chaves de transação (conhecidas como chaves Pix) podem ser cadastradas utilizando os números do telefone celular, CPF ou CNPJ, endereço de e-mail do usuário, também é possível gerar uma chave aleatória (sequência alfanumérica gerada aleatoriamente) para aqueles usuários que não desejam vincular seus dados pessoais à chaves Pix. 

  A chave Pix permite que o sistema (SPI) identifique os dados da conta transacional (que é uma conta de depósito à vista, conta de poupança ou conta de pagamento pré-paga). O SPI (Sistema de Pagamentos Instantâneos) é a infraestrutura centralizada onde são liquidadas as transferências de fundos comandadas pelos usuários do Pix.

  O nome escolhido pelo Banco Central é um termo que remete a conceitos como tecnologia, transação e pixel. A ideia é ser tão simples como um bate-papo em redes sociais, inclusive no nome. O Pix não é uma criptomoeda, mas sim um meio de pagamento instantâneo. As transações são feitas em real brasileiro.

  Pronto: você toma uma água de coco no calçadão da Barra que custa R$3,00 e paga no PIX ou o caldo de cana do Gil (R$5,00 o de 500 ml) e pode pagar no PIX, Elo, Visa, Hipercard e também pagamento com códio no celular. 

  Também, hoje, é possível colocar o seu cartão de crédito/débito no iPhone. Há uma série de aplicativos para cadastrar um cartão na sua conta ID Apple e ainda pode manter a sua conta do iCloud sem inserir nenhum método de pagamento e baixar aplicativos e conteúdos gratuitos da App Store ou da iTunes Store

  É simples: agora, você não precisa levar consigo o cartão, apenas o celular. Comprar conteúdos pelo iPhone depende de sua capacidade financeira, tem centenas deles, extensivo também a compra em lojas, supermercados, pizzarias e assim por diante.

  Caso você possua um Mac e utilize o macOS 10.14 Mojave ou anterior, é com este mesmo cartão de crédito cadastrado na sua conta do iCloud que você vai poder alugar ou comprar músicas, livros, filmes, séries ou podcasts, através da iTunes Store. Já Macs com o macOS 10.15 Catalina ou posterior, o mesmo cartão que você cadastrar no seu iPhone te dará direito a usufruir dos serviços de assinatura descritos acima.

  Vocês veem, portanto, que o dinheiro vivo e as moedas metálicas estão com os dias contados. Quais dias serão esses? Não saberia dizer. Fui andar domingo último, em Ondina, bairro de Salvador e paguei o coco gelado no PIX. 

  Canto, então, Martinho da Vila: Dinheiro, pra que dinheiro/ Se ela não me dá bola/ Em casa de batuqueiro/ Só quem fala alto é viola. Sábio esse Martinho.  

  E Homnero Ferreira compositor de marchinhas de Carnaval, falecido em 2015, cantava na década de 1960: Ei, você aí/ Me dá um dinheiro aí/ Me dá um dinheiro aí/ Não vai dar?/ Não vai dar não/ Você vai ver a grande confusão/ Eu vou fazer, bebendo até cair/ Me dá, me dá, me dá/ Oi, me dá um dinheiro aí.

  Hoje, com todo respeito a Homero é de se dizer: me dá um cartão ai/ me dá um PIX aí.