Também posso me incluir nesse rol, não tanto em anos e assiduidade com que frequento o Porto Moreira, no Mocambinho, creio, herdeiro no posto de restaurante mais antigo da cidade com o fechamento do Colon, sepultamento que se deu na última sexta-feira, de forma presencial, uma vez que seguirá atendendo delivery graças a resistência de Mara Orge, casada com Juan, herdeiro do galego José Maria Orge, o qual fundou a casa em 1914 fugindo da I Guerra Mundial na Europa.
Já fiz várias crônicas sobre o Colon e uma delas está num dos meus livros (Dom Franquito, 96 restaurantes ao Redor do Mundo, pag 183. 2012, Ed Ojuobá) intitulado "Dom Franquito se fartou na história e na moqueca de bacalhau do Colon" e por lá andava desde os anos finais de 1960 quando a Tribuna da Bahia instalou sua escolinha para 'focas' nas proximidades e, esporadicamente, em décadas seguintes, levando, inclusive, certa ocasião, o então prefeito Imbassahy e a galera do gabinete para almoçar por lá.
Creio que, nos anos 2000 em diante o mais assíduo cliente era Oleone e sempre que aparecia para um trago eis que estava a nos oferecer um livro, pago na hora ou fiado. Oleone tem uma enorme capacidade de mascate, sempre a falar do cangaço e de Lampião e as estripulias do seu bando no nordeste brasileiro, na década de 1938, e que deixou tantos causos. E Oleone, por conseguinte, é um grande contador de causos verídicos e outros nem tanto ou ainda a apurar.
A última vez que estive no Colon foi em 2017 quando levei minha neta Lua, minha esposa Ohara, a professora Hilma e sua mãe Antonia, por afinidade, minha sogra para conhecerem a casa. Era 28 de dezembro de 2017, última sexta-feira do ano e tínhamos ido a basílica do Bonfim orar - nem todos - e pedir ao Salvador dias melhores, em 2018, e após a reza e a compra de pequenas lembranças nas casas de souvenirs na colina arribamos até o Colon.
Fi-lo de surpresa e as minhas convidadas adoraram. E, obviamente, se fartaram na moqueca de bacalhau, nos camarões e na malassada. Mi nieta, então, carnívora que é, leoa rubro negra, se deliciou. E elogiou o avô pela escolha do local que achou agradável, repleto de história e com o sabor da velha Bahia. Aliás, as madames também amaram, dito por uma delas apreciadora de cerveja.
Troquei também palavras com Mara, a incansável gerente e proprietária da grife Colon, e ela já me falava o quanto estava sendo dificil manter o restaurante. O giro dos negócios da cidade tinha mudado de bairro, o Comércio vivia em dificuldades, mas, ainda assim, o Colon resistia. E veio a tragédia da pandemia. E a mudança do Colon do local e a crise que se arrasta na área do Comércio da Cidade Baixa.
Fica a história ou algum messias empreendedor que queira, ainda, salvar o Colon. Morrer de vez será um baque enorme para a cidade do Salvador. (TF)