Cultura

REFLEXÕES DE ALFREDO, A PANDEMIA E O CRITICO DE CINEMA, p DIOGO BERNI

Digo Berni é critico de Cinema
Tasso Franco , da redação em Salvador | 21/11/2021 às 08:51
Alfredo e o amor platônico 'janelil'
Foto: Seramov
     Alfredo saira da casa da sua mãe em um bairro menos movimentado e mudara-se para outro mais urbano, agora morando sozinho e sem direto a bicho de estimação; não que não fosse permitido, mas naquele momento ele não queria nenhum compromisso, apenas pedalar com sua Caloi Andes pela orla marítima da sua cidade. 

  Chegou no tal bairro urbano em fevereiro de 2020, logo um mês antes do inicio da pandemia no Brasil. Como morou toda a vida em casas, achava estranho a figura do porteiro: o pedir pra entrar e sair, até que um dia se emputeceu com um dos quatro e fez uma cópia da chave: portanto negócio resolvido e nunca mais treta com porteiro teve. 

  A vida nova corria em plena pandemia. Para Alfredo pouco mudara o ocorrido da peste, apenas sentia falta das aulas de idiomas na universidade, do resto a normalidade da vida de sempre, apenas agora morando sozinho, já que na casa da mãe já cozinhava, lavava louça, fazia faxina etc. A vida agora se resumia a ficar mais em casa ainda do que hábito, todavia a rotina continuara igual: aulas online de yoga, agora aulas de idiomas online idem, muitas séries que agora poderiam ser apreciadas por não ter encheção de saco de vizinhos, agora pagava o aluguel; podia fazer o que quiser e na hora e volume que quiser. 

  Quando viu todas as séries que queria , começou a maratonar novelas, de uma coisa somos bons, nós brasileiros: em fazer telenovela, fora o futebol. Esta era outro passatempo preferido de Alfredo: Ver uma partida de futebol, de preferência do Corinthians. 

  A pandemia corria e matava geral e Alfredo sempre disposto a evoluir durante todo este processo. Na casa da mãe lia como um desesperado, agora em bairro novo mal tocava no livro virtual de idiomas. Entretanto gostara de morar em um local que tivesse tudo próximo, que não precisasse pegar o carro pra fazer as coisas básicas. 

   As madrugadas insones ficava observando o vai e vem frenético das putas e travestis por sua janela, que fazia ponto na rua há mais de 40 anos. Quando tinha insônia, ou seja todo dia, tinha que tomar alguns comprimidos de zolpidem, e a medida que a droga fazia efeito já não conseguira destinguir traveco de puta, de modo que quase se apaixonou por um traveco pensando que era puta, tipo amor platônico e “janelil”. 

  Os festivais de cinema vinham aparecendo e Alfredo já se preparava para a carga de filmes uma semana antes, e cargas de filmes com o lembrete da peste em quase todos eles, sejam nacionais ou internacionais. De fato era uma alegria acompanhar um festival de cinema de renome, onde ele jamais seria chamado para cobrir, por ser um crítico de cinema independente. 

  Sem filiação com a ABRACINE, associação brasileira de críticos de cinema. Foi a Gramado, Curitiba, Ouro Preto, Tiradentes, Belo Horizonte, Brasília , Salvador, São Paulo, e por isso de certa forma se sentia prestigiado como crítico por conseguir cobrir todos aqueles festivais que sempre sonhou em cobrir, só que agora com mais um plus: não ter a obrigação de escrever para pagar a estadia e alimentação que os festivais cobriam; durante a pendemia só era necessário assistir, ter algumas crises de insônia, pois quando não se escreve o filme fica ainda mais vivido na mente, mas  com a pandemia ele não conseguia nem ler, sequer escrever.

   Alfredo criou uma rotina cinéfila para preencher o dia: tinha o horário padrão de trabalho, ou seja, trabalhava-se de dia e de tarde, e a noite assistia qualquer porcaria na televisão aberta ou fechada. Eram dois curtas e um longa pela manhã, e idem a tarde, isto em dias especiais de festivais. Quando não os tinha, fazia-se o mesmo progresso, ou melhor, trabalho, mas com séries (todas aquelas que estavam na gaveta), e só com a ajuda de um sistema pirata de televisão e internet, ele conseguira ver todas as séries e se atualizar no quesito.

    Não tinha visto a melhor: Game Of Trhones, e se surpreedeu com Breaking Bread, e também Walking Dead, entre outras. Para Alfredo, visto que ele era crítico de cinema, este anos de pandemia foram produtivos profissionalmente, digamos assim, se é que exista profissão que não lhe dê o pão de cada dia possa se chamar de profissão, mas enfim. Por não ter certeza da sua profissão, Alfredo é muito ancioso, mas não perde a esperança de dias melhores, afinal depois da peste tudo é lucro. Ele aguarda ansiosamente o carnaval 2022.