Nestor Mendes Jr é jornalista e parente da família Henrique
Nestor Mendes Jr , Salvador |
07/11/2021 às 19:33
Henrique Ribeiro, Marisa e George, à irmã Clara
Foto: Arquivo Pessoal
Nunca lhe escrevi uma carta. Aliás, nestes tempos instagramados, ninguém escreve mais cartas. Escrevo-a agora pra dizer que choveu muito em Salvador, a madrugada inteira, provavelmente um choro dos céus pela sua partida antecipada deste grande show da vida.
Aliás, relampejou como nunca: deviam ser os holofotes de São Pedro recebendo você e Marília no palco do Éden, em duo com o seu amigo Cristiano Araújo - que também se foi antes da hora. Se é que tem hora certa para deixar este Vale de Lágrimas...
Compartilhei com você, seu primo Ian e sua irmã Clara, e seus pais Bay e Bau, bons momentos da infância - que também era minha, porque ser criança é permanecer no sonho. Seu pai chorou ontem no meu ombro, dizendo da dor que será não ouvir sua voz e ver o seu sorriso inamovível.
Mas, se houver algum consolo nesta despedida inesperada, é que você se foi nas asas da alegria, da música, do espetáculo, coisas que estavam em seu DNA, talvez pelo azáfama carnavalesco de seu pai no Bloco Patropi; ou da paixão de sua mãe por Bel Marques no Chiclete com Banana.
Já adulto, no backstage da produção de Marília, voltei a lhe reencontrar, com o seu walkie-talkie sempre à mão e a capacidade de deixar tudo arrumado. E, principalmente, tudo desarrumado quando as cortinas se fechavam e as luzes já estavam desligadas, com tudo pronto para partir e cantar em outra freguesia.
E me admirei com a sua paciência com as fãs indóceis e descabeladas, como Nanda Martins, no show em Santo Antônio de Jesus, que me suplicou que lhe pedisse “só um segundo” com a sua musa.
E, você, atenciosamente, educadamente e tranquilo conseguiu aquele instante mágico para uma garota inundada por turbilhões de hormônios adolescentes. Foi naquele momento que vi que você era mais que o eficiente produtor de Marília, mas um parceiro e amigo desta goiana que mexeu com o coração de milhões de garotas e garotos do Brasil.
E foi nesta conjunção fraternal que vocês deixaram este lado terreno do caminho. A saudade, Henrique, será imensa. Um rasga coração está cortando a todos nós, principalmente a Bay, Bau, Clara e Bô, que, nos seus oito anos, perde um pai e um ídolo.
Mas, é Bô o melhor de você que fica para nós. Não será nunca uma substituição, mas a certeza de que seu afeto, sua delicadeza, alegria e, sobretudo, seu amor, continuarão conosco, na memória e em nossos corações.
Você continuará sendo amado porque aqui plantou o amor e cultivou a solidariedade. E viveu a vida como se não houvesse amanhã - uma lição ímpar para quem gosta de “guardar” os dias da existência.
Utilizando-me de uma citação do jurista e advogado baiano Antônio Menezes, busco o escritor mexicano Carlos Fuentes, que reflete sobre a morte juvenil: “A morte de um jovem é a própria injustiça. Revoltados contra semelhante crueldade, aprendemos pelo menos três coisas: a primeira é que, ao morrer um jovem, já nada nos separa da morte. A segunda é saber que há jovens que morrem para ser mais amados. E a terceira, que o morto jovem a quem amamos está vivo porque o amor que nos uniu continua vivo na minha vida.”
Portanto, Henrique, a certeza é de que te amamos e de que você continua vivo, muito vivo, entre nós. Agora, se prepare, porque seu trabalho vai aumentar, para produzir, na Morada Celestial, grandes e estratosféricos shows de Marília, Cristiano, João Gilberto, Tom, Dona Yvonne, Clara, Vinícius, Raul, Pixinguinha, Cartola...
Ósculos e amplexos especialíssimos!