Cultura

A HISTÓRIA DO BAIRRO VILA DE FÁTIMA, EM SERRINHA, O ANTIGO CORUJA (TF)

Uma história que começa no final do século XIX a partir de duas fazendas: A Coruja, de João Barbosa de Oliveira; e Casa Branca, de Antonio Pinheiro da Mota.
Tasso Franco , da redação em Salvador | 18/10/2021 às 09:40
Praça principal do bairro Vila de Fátima com imagem de NS de Fátima
Foto: BJÁ
     O bairro Vila de Fátima (antigo Coruja) fica localizado na zona Sudoeste da cidade e sua história está enraizada a partir de duas fazendas - quase urbanas - localizadas no pós barragem do açude da Bomba pertencentes a João Barbosa de Oliveira (Coruja) e Antonio Pinheiro da Mota (Casa Branca). O bairro inicialmente - não se tem uma data certa - nasceu com o nome de Coruja, a partir do momento em que o núcleo urbano foi crescendo nesta direção e João Barbosa - e os herdeiros - lotearam as terras da Fazenda Coruja, onde se encontra a praça Lúcia Avelino de Jesus, esposa de Ambrósio, ambos caseiros desta fazenda.

  A outra parte do bairro, mais acima, na direção do Guarani - antiga estrada para Barrocas e caminho do Morro na sexta-feira da Paixão - onde estão o posto de saúde e a Escola Carlos Augusto Vilalva Ribeiro pertencia as terras da fazenda Casa Branca, de Antonio Pinheiro da Mota, terras que foram herdadas pelos filhos de Carlos/Ivone (Luis Carlos, Tereza Cristina, Tânia Lomes e Naum) e vendidas e/ou loteadas mais recentemente. Ainda hoje, morando numa residência chamada Casa Branca, esta já construída por seu pai, mora a professora Marinalva Ferreira Mota, com a sua irmã, provavelmente, as moradoras mais antigas do local. 

  Para se ter uma ideia da antiguidade dessas fazendas, Antonio Pinheiro da Mota foi indentende em Serrinha, interino, em 1901 e 1902, e efetivo entre 1912 e 1915, e prefeito entre 1940/1943. Era filho de Virgínio Pinheiro da Mota dono da Fazenda Retiro e um dos herdeiros da Fazenda Tambuatá. É provável que Pinheiro da Mota tenha comprado a Fazenda Casa Branca no final do século XIX. Ele faleceu en 1954 deixando a fazenda para seus filhos, entre eles, Carlos Mota, o qua foi prefeito de Serrinha, entre 1959/1963.

  João Barbosa de Oliveira já nasceu rico. Era filho de Domiciano Oliveira, grande fazendeiro do Morro Redondo, e casou-se com Josefa Brito da Costa Oliveira (Zazá), viúva herdeira de Costa Pinto, proprietária de fazendas nos municípios de Pombal/Tucano. João Barbosa era dono de várias fazendas, entre elas, a Coruja, que, quando faleceu em 1965 deixou-a para sua filha Aida Barbosa de Oliveira. É, portanto, a partir do final da década de 1960, que começa a surgir o futuro bairro da Coruja, com o loteamento dessas terras, à frente desse processo, uma senhora chamada Perolina.

   João Barbosa de Oliveira foi prefeito de Serrinha entre 1948 e 1951 e responsável juntamente com o ex-prefeito Nenenzinho por concluir a construção do primeiro Mercado Municipal da Cidade, em 1950.

   A casa de fazenda onde moravam o vaqueiro Ambrósio e sua eposa Lúcia ainda existe e está localizada com número 8 na rua pricipal do bairro logo após uma praça que tem o nome de Lúcia Avelino de Jesus, obra do governo Paulo Souto - programa Viver Melhor, da Conder -  e na segunda gestão municipal de Claudionor Ferreira da Silva (Ferreirinha), 2005/2008. A praça foi inaugurada em 2006, Mário Gordilho, presidente da Conder.

   COMO SURGIU O BAIRRO VILA DE FÁTIMA

   Na original, o nome do bairro era Coruja. Na década de 1990 estava consolidade como bairro, porém, sem infra-estrutura adequada. Já exisita, no entanto, várias ruas demarcadas e duas rotas bem definidas: uma seguia para o Guarani, Toca da Onça, Cantinho, Boa Vista - antiga estrada para o distrito de Barrocas e margeava, ao Norte, com o bairro dos Treze; e uma outra seguindo a antiga estrada para Coité, aberta na década de 1930, ao Sul, donde vai surgir o bairro Recreio.

   A comunidade já dispunha de uma capela em louvor a Nossa Senhora de Fátima e o padre espanhol Nicácio Fernandes Pozuelo abriu a sede do templo para abrigar encontros da Associação Beneficente e Social Vila de Fátima, também organizada na década de 1990, no comando desse grupo a professora Marinalva Ferreira Mota (a lider local), moradora do bairro, Ademilson Paulo de Lima (Mica da Sucam), a assistente social Nilza Lopes, o arquiteto Gildenor Carneiro dos Santos e outros, quando estruturam a mudança do nome do bairro realizando um plebiscito.

   Em entrevista recente que realizamos com Marinalva ela disse que ao BJÁ que foi uma luta de anos: "Fizemos muitas reuniões na igreja, semanais, organizamos o plebiscito e depois que o novo nome foi aprovado, a papelada foi estruturada com a ajuda de Nilza e Gildenor, e demos entrada na Câmara de Vereadores, que era presidida pelo vereador Gerinaldo Ferreira", comenta.

   A proposta no conceito geral era dar visibilidade ao bairro para que fosse instalada uma infra-estrutura (calçamento e esgotamento sanitário) e no combate as drogas. Naquela época, jovens se concentravam numa área próxima a entrada do bairro - no final de linha da barragem da Bomba - para fumar maconha e traficar drogas. E faziam, sobretudo, às noites, sendo chamados de corujões numa alusão ao nome do bairro (Coruja).

   "Secamos as pernas de caminhar até a Câmara - confessa Marinalva - mas nossa luta teve êxito: o bairro mudou de nome e a Conder, no governo Paulo Souto, deu-nos a infra com o calçamento de várias ruas e praças e a inauguração da praça Lúcia Avelino, em 2006, e o consumo de drogas diminuiu".

   Para Mica da Sucam, hoje presidente da Associação, "a organização da comunidade, a persistência, a ajuda de vereadores - citou Régis do Ferro Velho e Fernando Sena - e depois as ações da Conder no governo Ferreirinha deram uma nova dimensão ao bairro, hoje, bem mais estruturado, valorizado e bom de se morar". Mica é morador da rua Nilo Peçanha, calçada e com esgotamento sanitário.
 
  MUITAS HISTÓRIAS

  Há muitas histórias de familias pioneiras neste bairro. A professora Margarida Maria de Souza diz que seus pais também moraram em área da antiga Fazenda Coruja, Teodoro Pereira Souza (natural de Uauá) e Raquel (natural de Tucano) e eram vizinhos de José Oliveira e dona Benta. 

  Pereira (o velho) era funcionário das Endeminas Rurais e quando chegou em Serrinha, na década de 1930, morou na Pensão Sertaneja, próxima do Beco da Lama. Margarida diz que ela e seus irmãos mais velhos todos nasceram na Coruja, entre 1938 e 1943. Recentemente, Margarida lançou um livro em Serrinha.

  O NETO DE LÚCIA

  Ainda mora na casa número 8 da rua 1º de janeiro (local da antiga sede da Fazenda Coruja) o neto de Ambrósio Oliveira e dona Lúcia, de nome José Oliveira. Infelizmente, não deu para entrevistá-lo, porque ele teve problemas de paralisia e sua comunicação é muito dificil de ser captada.

  COMO ESTÁ O BAIRRO HOJE

  Trata-se de um bairro em expansão sobretudo na região Sudoeste em direção ao Guarani com áreas rurais adjacentes e alguns novos loteamentos. Na parte Norte, limita-se com o bairro dos Treze e não tem mais para onde crescer. Na área Sul, idem, topa com o bairro Recreio; e na área Leste onde o governo da presidente Dilma Rousseff começou a construção de um Centro de Esportes (abandonado) também há locais para crescimento, exceto no lado da Bomba.

   Parte da área do açude da Bomba nos contornos dos Treze e da Vila de Fátima se tornou um local de invasão. A área da antiga Bomba (de uma forma geral) virou uma grande invasão e existe até uma rua (com calçamento) chamada de Rua da Barragem (onde existia a antiga barragem de contenção das águas).

   O núcleo central do bairro Vila de Fátima é constitutido duas praças e o eixão que parte da Praça Lúcia Avelino até mo Posto de Saúde chama-se Avenida 1º de janeiro. Há uma rua com o nome de Ambrósio Oliveira e uma outra que homenageia o craque de futebol campeão baiano pelo Botafogo (1949), Alberto Ramos Menezes (Albertão), craque do ACEC e irmão dos Ramos - Panema, Zé, Alfredo e Nelson. 

   Mais recentemente, na gestão Adriano Lima, com financiamento da Caixa, foram pavimentadas as ruas Nilo Peçanha, Carlos Gomes, Rui Barbosa, Maria Quitéria e Padre Cícero.

   O bairro Vila de Fátima, portanto, está razoavelmente estruturado e é bom local de morada em Serrinha. Como sempre, falta-lhe uma área ou centro de cultura, o que é comum a outros bairros. (TF)