Cultura

DICAS DO SERAMOV: COMO REAPROXIMAR O POVO DA SELEÇÃO BRASILEIRA

A difícil missão da CBF e dos jogadores para a conquista da população, hoje, distante da seleção brasileira de futebol
Tasso Franco , da redação em Salvador | 15/08/2021 às 11:03
A seleção de 1970, a melhor de todos os tempos
Foto: Lemyr Martins

Falo sobre a Seleção Brasileira de futebol e a perda da auto estima que a população brasileira tem atualmente com a seleção canarinho. O amor e a paixão que nós tínhamos com a seleção brasileira e que vem desaparecendo aos poucos e hoje está numa situação mais crítica de sua história. 

Eu sou de uma geração que vem acompanhando a Seleção Brasileira desde a primeira conquista mundial em 1958 na Suécia. Eu era pequeno, claro, não entendia de futebol. 1962 já foi uma coisa mais vibrante para minha geração e em 1970, na Copa do México, quando o Brasil foi tricampeão mundial e que a televisão brasileira transmitiu pela primeira vez e a cores os jogos da seleção brasileira. Aí foi uma apoteose. 
  
       Lembro que cada jogo daquele 1970 a gente ia para casa de um amigo, para casa de uma família para comer uma feijoada, para assistir um jogo e depois saia nas ruas da Barra, em Salvador, comemorando, gritando, vestindo a camisa da seleção, com chapéus e bandeiras exaltando os jogadores. 

      E quando o Brasil foi tricampeão no Estádio Asteca foi uma coisa do outro mundo. Quando estive no México, em 2014, passei pelo Estádio Asteca e senti uma emoção interior ainda muito forte muitos anos depois. Até o penta-campeonato que aconteceu na Coreia do Sul, ainda tinha algum sentimento de amor pela seleção. Isso no início do Século 21.

     A partir daí essa paixão foi perdendo o amor com a seleção brasileira e hoje está na situação em que nós verificamos. A identidade de um grupo, a construção dessa identidade não e estável - é móvel - ela vai se modificando com o tempo. E se não há uma relação entre uma e a outra essa identidade se perde e fica fragmenta. É isso que está acontecendo hoje com a seleção brasileira e a população. 

     Aconteceu uma separação, um divórcio que a gente não sabe se é amistoso ou se é litigioso, mas que está se processando a olhos vistos. 

     A Nação é uma comunidade imaginada. Formada por brasões, símbolos, bandeiras, amor, estima... e a gente via isso com certa frequência nos estádios quando a Seleção Brasileira jogava, sobretudo o grito de guerra: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”. Isso depois passou para os campos de futebol nos campeonatos estaduais - no Campeonato Brasileiro -  em seguida teve até um viés político mas isto aos poucos foi perdendo a sua força porque o brasileiro se distanciou da seleção. 

     Os jogadores hoje são milionários, moram na Europa, não tem uma empatia com a população brasileira. Eles vivem no campo da ostentação, vivem um tipo de vida diferente da realidade brasileira e o povo não é burro. O povo vai observando essas coisas e vai se distanciando, como está acontecendo agora. Há um distanciamento enorme da população brasileira, com o que era, com que a gente assistiu, com o que a gente viu, com o que a gente vibrou, com o que é hoje. 

     Na última Copa América nem pareceu que a seleção estava jogando, não teve entusiasmo algum e ainda perdemos para a Argentina o que foi pior. 

    Então como eu faço em meus programas, vou dar as 5 dicas da mão espiritual de Seramov, as cinco flechas douradas, para que pelo menos clareie um pouco mais essa situação e dê uma ajuda aí nesse caos que se encontra a relação da seleção brasileira com a população.

    A primeira delas é que a CBF deve orientar no sentido de voltar a ter a essa empatia com a população brasileira, ter algumas atitudes que possam ajudar nessa direção. A psicologia pode ajudar nisso, no caminho da busca da identidade perdida. Isso pode ser feito, a CBF tem o poder de fazer isso, tem essa possibilidade de fazer e mudar, como esta se mudando, como já derrubou o presidente que estaria envolvido em questões relacionadas a possível assédio sexual. Então esse é um papel importante nesse processo. 

    A segunda dica é que o brasileiro vive uma realidade muito diferente do habitual. Hoje nós estamos enfrentando uma pandemia, isso impactou muito na autoestima do brasileiro de uma forma geral, a resiliência caiu muito e consequentemente isso ajudou a aprofundar essa relação de distanciamento com a seleção. Então tratar essas duas questões de uma maneira só, de uma vez só, não dá. Tem que se tratar as duas coisas de maneiras diferenciadas. 

    A terceira dica é que os jogadores precisam fazer as suas partes. Deixarem de ostentação, deixarem o luxo, a riqueza de lado e ter um pouco mais de amor à camisa, amor a Seleção Brasileira. O povo brasileiro não é burro, não é jerico, ele tá vendo isso, está percebendo isso, são duas realidades completamente diferentes. O povo já não vai no estádio porque não tem dinheiro, assiste os jogos da seleção pela televisão. Quem vai para os estádios na Copa do Mundo são os ricos e a classe média alta. Mas o povo, que tem um sentimento mais popular está percebendo isso com muita clareza. Os jogadores tem que mudar o
comportamento.
A quarta dica é que a seleção precisa ser mista, espacial, com jogadores que atuam no Brasil também, não só no exterior e que não sejam só do centro-sul, do eixo Rio-São Paulo e Minas. Tem que ter jogadores também do Nordeste, do Centro-Oeste, de maneira espacial, integrativa. E temos excelentes jogadores no campeonato brasileiro. Não precisa ser uma seleção só com jogadores que atuam no exterior. Está completamente errado, equivocado. É só lembrar a seleção de 1958, a seleção de 1962, a seleção de 1970. 

E a quinta e última dica é que a CBF precisa fazer uma campanha de marketing, de volta a essa autoestima,  trabalhar isso nas redes sociais, trabalhar isso na televisão, trabalhar isso na internet. A Coca-Cola é o produto de refrigerante mais famoso do mundo, tem Coca-Cola no mundo todo. Ele podia dizer assim: “Olha, não vou fazer mais nada porque eu vendo no mundo todo”. Negativo: a Coca-Cola faz propaganda frequentemente ligando o produto com as relações interativas das comunidades regionais. No Brasil por exemplo - no São João, em São Pedro, Natal,  Reveillon, Carnaval - esta botando a sua cara. A seleção brasileira tem que fazer isso com certa profundidade. Não é só esperar a Copa do Mundo para fazer uma campanha. Realizar agora visando a Copa do Mundo do Catar. E tentar estreitar esta relação de amor que foi perdida. E os jogadores também tem que sentir isso e suar, suar a camisa como se usava com mais amor, com mais determinação.