Cultura

HISTÓRIA: 70 ANOS DA IGREJA NOVA E 16 ANOS DA CATEDRAL SERRINHA (TF)

Um sonho do padre Carlos Olímpio Silvio Ribeiro que se tornou realidade
Tasso Franco , da redação em Salvador | 27/07/2021 às 12:22
Catedral diocesana de Serrinha, desde 2005
Foto: Rep
   No próximo dia 23, de acordo com a Lei número 69 aprovada pela Câmara de Vereadores de Serrinha em 23 de agosto de 1951, a igreja católica garantiu a doação do terreno que pertencia a Prefeitura Municipal e onde funcionava a usina de energia na Praça Miguel Carneiro (nessa época apelidada de Praça da Usina) com o padre Carlos Olímpio Sívio Ribeiro lançado a pedra fundamental da Igreja Nova (hoje, catederal basílica) em 8 de setembro de 1952. Portanto, está completando 70 anos deste fato histórico e espera-se que a Câmara de Vereadores relembre a data.

   É dessa maneira - ao longo de muitos anos e lutas - que vai se construindo a história da Diocese de Serrinha criada pelo papa Bento XVI (papa emérito ainda vivo), através da bula "Christi Mandato", em setembro de 2005, sendo indicado como seu primeiro titular, em 18 de dezembro de 2005, o bispo italiano dom Ottorino Assolari, CFS (Congregação da Sagrada Familia), o qual foi substituido pelo alagoano Dom Helio Pereira dos Santos nomeado em 3 de fevereiro de 2021 pelo papa Francisco ao acolher o pedido de renúncia apresentado por dom Ottorino Assolari, por motivo de idade.

  A pastoral de dom Otorrino durou 15 anos e os fiéis entendem que fez um bom trabalho organizando a diocese nos municípios da região Nordeste do estado, concluindo a obra da Igreja Nova (catedral diocesana desde final de 2005, portanto a completar 16 anos em dezembro próximo) e estruturando trabalhos sociais de porte em Serrinha e em vários municípios. Dom Otorrino, hoje, bispo emérito, retornou a Bérgamo, Itália, onde nasceu e era conterrâneo do papa João XXIII.

   COMO COMEÇOU ESSA HISTÓRIA

    O sonho de Serrinha se transformar numa diocese foi do padre Carlos Ribeiro, de tradicionalíssima família serrinhense, filho de Joaquim Sylvio Ribeiro e Francisca Murta Ribeiro, com raizes no Maracassumé, sobrinho do primeiro intendente da cidade Marianno Sylvio Ribeiro (1891/1894). 

   Nascido no século XIX (1887) ordenou-se padre em Santa Tereza, Salvador, em 1911, aos 24 anos de idade. Toda sua familia era (e ainda é) muito católica e a casa de Marianno Sylvio Ribeiro e capela adjacente se situavam, exatamente, na praça Miguel Carneiro (seu pai, conhecido como pai Geza) e morava numa casa apelidada de castelinho (onde moraram José Nunes e Pipi Paes), pais de Manoel Augusto, cantante da procissão do fogaréu.

   Veja como as coisas se ligam na história. O arcebispo Dom Jerônomio Thomé da Silva nomeou o padre Carlos como capelão da igreja do Bonfim, em Salvador, e depois pároco da paróquia de São Pedro. Com a morte de dom Jerônimo, assumiou a arquidiocesa dom Augusto Álvaro da Silva, pernambucano (cardeal entre 1924/1968). Foi dom Augusto que nomeou padre Carlos para Feira de Santana (1928) e depois Serrinha (1932). É bem provável que padre Carlos tenha pedido a dom Augusto para exercer sua pastoral em Serrinha. 

   Foi o padre Carlos, em 1932, que implantou a procissão do fogaréu com base numa procissão que realizava no Bonfim, em Salvador, hoje, a terceira mais antiga manifestação religiosa popular na cidade, perdendo em antiguidade para a festa da padroeira, Senhora Sant'Anna e a procissão de Corpus Christi.

   O padre Carlos conhecia Serrinha (a sede) era natural da localidade, mas, deconhecia a amplitude de sua paróquia quando assumiu pela segunda vez (e em definitivo até sua morte, em 1953) e ficou assustado como fazer para atender todos os fiéis. 

   O distrito de Araci, já com um templo em louvor a Nossa Senhora da Conceição, ficava a 35 km de distância e só era alcançado de carro-de-bois ou burros. Santo Antonio do Lamarão ficava no outro extremo. Biritinga de São Sebastião noutra ponta. Era um problema que só diminuiu um pouco quando no governo Geúlio Vargas foi construida a Transnordestina e chegou o automóvel em Serrinha, em 1933/1935.

   O padre não tinha veículo. Isso era coisa dos ricos, dos coronéis fazendeiros, e vem daí - se aproximando dos anos 1940 - sua ideia de que Serrinha teria que ser uma diocese com vários padres para atender toda a região Nordeste. 

   Em 1949, padre Carlos fez uma jogada de mestre e levou dom Augusto em Serrinha para um Congresso Apóstolico. Dom Augusto sentiu o drama das distâncias no território de Serrinha (embora tenha chegado à cidade de trem) e teria prometido levar o assunto ao papa Pio XII (1939/1958), mas, a Europa estava com a II Guerra Mundial destruindo tudo e o assunto foi postergado. 

   Uma outra questão (ao que se supõe) é que Serrinha só tinha um templo pequeno, a igreja Matriz de Sant'Anna, originária da capela erguida por Bernardo da Silva, no século XVIII.

   A IGREJA NOVA

   Teria, surgindo, assim, a idéia de se construir um templo grande que fosse para algum dia ser a sede da diocese.E, como Serrinha, ainda não era diocese o padre Carlos, em 1952, lançpu a pedra fundamental de construção da Igreja Nova. 

  Quem teria feito a planta desse templo? Não saberia dizer. É provável que tenha sido o próprio padre com a ajuda de alguns fieis mais próximos. O padre Carlos chegou a ser monsenhor, mas, faleceu 23 de maio de 1953. 

   Vai assumir definitivamente a paróquia o padre cooperador (desde 1948) Demócrito Mendes de Barros, o qual passou a titular. Coube ao padre Demócrito a missão de construir a Igreja Nova, a partir de 1953, usando o mestre de obras Evangelista como construtor e Antonio Nunes, católico fervoroso e que morava na praça Miguel Carneiro, fornecedor dos ferros. E, a população como patrocinadora. O padre fazia leilões no novenário de Sant'Anna para arrecadar dinheiro.

   Lembro que, em 1953, quando os auxiliares de pedreiro começaram a cavar os alicerces da igreja brincávamos nessa área de gude, ferrinho, jogo de bola e cabana que era uma brincadeira de correr, jogar torrões uns nos outros e lutar. Evangelista dizia: - Meninos, pelo amor de Deus deixem de correr dentro dos alicerces (que eram fundos) para não ter um acidente. Nessa brincadeira estavam Belmiro, Tó, Toinho e Dinho de Sêo Neco, Bacalhau, Fio, Boquinha e outros.

   Como não havia um projeto de engenharia os alicerces eram fundos e os pés-de-galinha (armações de ferro para sustentar os pilares, imensos), tudo supervisionado pela padre, que era professor de latim no Ginásio e não engenheiro. O certo é que essa base da igreja nova está no local até os dias atuais e nunca foi alterada. A torre da igreja, na inicial, parecia torta, mas, não caia. Uma das nossas aventuras, já adolescentes, era subir na torre do sino.

   Não saberia dizer quando aconteceu a primeira missa na Igreja Nova, mas, deu-se na época do padre Demócrito, o qual passou a morar na casa paroquial (ao lado da igreja) com sua irmã Zilda, que possuia uma escola de datilografia. 

   Numa briga política entre o coadjutor padre Aldo Giason x Demócrito, o velho pároco levou a pior e renunciou ao mandato em 1974. Dom Silvério Albuquerque, arecebispo de Feira, a quem a paróquia estava ligada, nomeou um 'tercius' padre Vivaldino Araújo. Demócrito faleceu em novembro de 1991. Depois de Vivaldino, que renunciou para se casar com uma serrinhense, vieram padres Lucas di Nuzzo e o espanhol Nicácio Fernandes Pozuelo. 

   Deve-se a gestão Nicácio um embalo na construção da Igreja Nova. E é provável que Nicácio tenha contribuido junto a dom Geraldo Majela, o cardeal da Bahia nessa época, arcebispo primaz do Brasil, para , finalmente, ser criada a diocese, junto ao papa Bento XVI. O templo estava pronto e havia uma infra-estrutura rodoviária adequada em todos os municípios, na linha da Estrada do Sisal, e na outra parte, para BR-116 Norte.

   Quando o bispo Ottorino assumiu em 2005, a Igreja Nova já funcionava, mas, recebeu nos últimos 15 anos, um 'up-grade' para ser a catedral, inclusive, num ato, até hoje, não bem explicado, cercando parte da praça Miguel Carneiro, na testada do templo.

  O padre George Roberto dos Santos na missa para Sant'Anna, a padroeira da cidade, lembrou, on- tem, os 70 anos desse templo. E os detalhes, para quem gosta de história, são esses acimas. A história, no entanto, não é feita por uma só versão e quem tiver mais informações divulge aqui. (TF)