Cultura

HISTÓRIA DO BAIRRO CSU EM SERRINHA A PARTIR DO CAMPO DO CACETINHO (TF)

Vida em dois momentos com a política e a cultura popular entrelaçadas para a formação do bairro
Tasso Franco , da redação em Salvador | 19/07/2021 às 11:15
Centro Social Urbano Dalva Oliveira com abandono flagrante
Foto: BJÁ
     O bairro Centro Social Urbano Dalva Negreiros conhecido popularmente pela sigla CSU fica localizado na zona Norte de Serrinha e sua história pode ser dividida em dois momentos: a construção do centro social no governo Roberto Santos, em 1977/1978, gestão local dos prefeitos Mariano Santana e Aluizio Carneiro; as áreas sitiantes de Romualdo e Barnabé - moradores pioneiros do local - e o campo de futebol do Cacetinho. Importante entender que não há bairro sem história popular.

   Para entender melhor a criação do programa CSUs no estado da Bahia volta-se a 1974 quando Antonio Carlos Magalhães concluia o seu mandato de governador (1971/1975) nomeado pela Revolução de 31 Março de 1964, hoje, chamada de período da Ditadura Militar (1964/1984), golpe de estado que derrubou o governo constitucional de João Goulart, e manifestou o desejo de um segundo mandato. O ex-governador Luis Viana Filho, primeiro governador nomeado deste período (1967/1971) foi contra. E, como tinha força no chamado 'sistema militar' brecou o nome de ACM e indicou um 'tercius' (no popular é como se diz: nem eu; nem ele) o reitor da UFBA, Roberto Santos, o qual, foi aceito e governou entre 1975/1979.
   
    Roberto não era político e muito menos tinha sido um 'revolucionário de raiz' do movimento de 1964. Mas, era um cidadão acima de qualquer suspeita, filho de Edgard Santos, fundador da Universidade Federal da Bahia (1946), simpático a revolução. Quando ele montou sua equipe de governo colocou alguns integrantes da UFBA na equipe: Jorge Hage (prefeito da capital), Carlos Santana (Educação) e a serrinhense Maria Ivete Ribeiro de Oliveira no cargo de secretária do Trabalho e Bem Estar Social.
  
   Na história do CSU Serrinha entra, portanto, essa personagem que é conhecida como Ivete Oliveira, filha de Manoel Geraldo de Oliveira e dona Alzira Ribeiro, casal de pessedistas ligado a André Negreiros Falcão. Manoel Geraldo (PSD) foi o adversário de Carlos Mota (PR) na eleição de 1958, sendo derrotado. Nasceu na Fazenda Cobiça em 1892 e morreu em Salvador, aos 97 anos, em 1989. Morava no Chame-Chame (Salvador) e ainda troquei uns dedos de prosa com ele, já velhinho, a caminho da igreja de Santa Terezinha que frequentava diariamente. Ivete morreu de câncer na década de 1990.

   Ivete também não era política, integrava o corpo docente da UFBA e era diretora da Escola de Enfermagem, uma das pioneiras na graduação superior em enfermagem na Bahia, e já morava em Salvador há anos (seu pai, fazendeiro de posses e que morava numa casa ao lado do Semes, colocou os filhos (8 no total) na capital para se formarem em nível superior) porém, tinha ligações afetivas com Serrinha. E, entre os diversos 33 CSUs que instalou no Estado, Serrinha foi contemplado com um deles.

   Nessa época, governadores e prefeitos de áreas consideradas de segurança nacional (Na Bahia, Salvador, Feira, Camaçari, Madre, etc) os gestores eram nomeados. Nos outros muniucípios havia eleições. E, em Serrinha, na disputa Mariano Santana x Antonio Ramalho o plinista (do deputado Plínio Carneiro, vianista - integrante da corrente de Luis Viana Filho) ficou bem na fita, uma vez que o governador era um aliado. 

   A Prefeitura entra na história do bairro como intermediária do processo ao indicar a área onde se instalaria o CSU, mas todo investimento era estadual. E Ivete Oliveira (não se sabe se a pedido do pai) colocou o nome no CSU Dalva Negreiros, esposa do ex-deputado André Negreiros Falcão (falecido em 3 de setembro de 1977) e que comandou a política serrinhense entre 1930/1970. Maria Dalva Vilalva Negreiros Falcão era filha do farmacêutico Leobino Cardoso Ribeiro, irmã do ex-prefeito José Vilalva Ribeiro (1943/1945) e (1951/1955).

   André Ney, um dos filhos de André Negreiros Falão, foi diretor do Detran no governo Roberto Santos e esteve no Encontro dos Amigos de Serrinha, em 2019.

  Fez, assim, uma homenagem política ao antigo PSD sem muxoxos do então prefeito Mariano Santana e do deputado Plínio Carneiro os quais, embora ligados a Luis Viana Filho, a essa altura na Arena, se sentiram também prestigiados, uma vez que seu adversário em Serrinha era Carlos de Freitas Mota. O destino, no entanto, tem situações que a própria razão desconhece. Hoje, a principal rua do bairro CSU, o eixo principal, que já foi conhecida como rua do Imperador, chama-se Carlos de Freitas Mota, que tem seu início no bairro do Ginásio e fim na BR-116 Norte passando em frente a portaria do CSU. 

O BAIRRO E O NASCIMENTO POPULAR

Quem nos conta é Antonio Lima Capila: Uma coisa é o surgimento do bairro do CSU, outra coisa é a implantação do equipamento CSU, portanto, distintas. Os primeiros moradores da área, uma extensão do bairro do Ginásio, os primeiros moradores foram: pai Gabino Pereira Lima (In memoriam), Manoel Bertoldo Lima (In memoriam) Dé pai de Chocolate do ex DNER, Diógenes Gomes Almeida (Diógenes vaqueiro), Leornardo Alves, José Alves (In memoriam), Leopoldo, Vadinho, Louro Bispo (In memoriam) etc. 

Na época - década de 1960 - existiam poucas casas, sem água encanada e rede elétrica. Havia uma estrada vicinal que passava ao lado, onde hoje é o posto Guanabara. Existia o sítio de Dona Loura (In memoriam), mãe de Bié das Bicicletas, José Preto, Antônio Carlos. 

O local onde foi instalado o Centro Social Urbano Dalva Negreiros era um sítio que pertencia ao senhor Romualdo e também ao senhor Barnabé. Vale salientar que onde funciona o campo de futebol antes do CSU chegar tinha um campinho do Cacetinho do Esporte Clube Rei Pelé no qual Davi Guarda era presidente.

Um fato pitoresco aconteceu com o Campo do Cacetinho: Em pleno verão no domingo pela manhã, estávamos jogando uma partida de futebol, em uma disputa de bola entre o meu amigo Maromba e Zé de Gonçalo (In memoriam) exímio craque de futebol, ganhou a disputa com o famoso chapéu. Conclusão a partida não terminou, só para variar, houve uma grande confusão e se José de Gonçalo e cia Ltda não corresse, a coisa iria ser pior. Final da ópera, Davi derrubou as traves e acabou o "Campinho do Cacetinho.

PIONEIROS DO CAMPO CACETINHO

Depoimnento de Luis Carlos Andrade: - Eu e minha velha guarda quando criança criamos o primeiro Campo do Cacetinho o qual veio a ser o campo do CSU: Eu, Pastinha, Nenga, Periquito, Zé Bertoldo, Tinem e Zé Patinhas fomos os primeiros limpar a área. 

Depoimento de Antonio Carlos Batista: O Centro Social Urbano foi inaugurado em 1978 com pompa e peça de teatro do qual fiz parte, capitaneado por Antônio Peltier que foi o primeiro diretor. O próprio Peltier assinava e dirigia. Com o sucesso da peça viajamos a pedido do governo e inauguramos o CSU de Feira de Santana e o CSU Caixa D'Água, em Salvador.

Depoimento de Landisvalth Lima: Para contar a história do CSU, além de Antônio Carlos Batista e a mim, precisamos dos relatos de Luziânia Lima, Raimundo Lima, Urias, Dego, Murilo, Mônica, Edvaldo Barbosa, Kika e tantos outros, todos membros do grupo Criarte, liderado e dirigido por Fernando Peltier.

Depoimento de Terezinha Coutinho Pinho: - O CSU Dalva Negreiros também funcionou como escola do primeiro grau de 1ª a 4ª séries e teve como diretora a professora Lucilene Cardoso. Também seriu como sede do SAC para cacadastramento de funcionários públicos estaduais confecções de carteiras de identidades e outros documentos..O nome da Escola era André Negreiros e também funcionavam creches.

Depoimento de Jorge Matos:  Coincidências, há 40 anos, Julho de 1981, fazendo parte do quadro de professores de Educação Física da Escola Normal de Serrinha e do Rubem Nogueira fui convidado por Tobias e Ray para treinar as equipes de Basquete do Falcon e Condor, masculino e feminino. Começa aí, na quadra poliesportiva do CSU, o treinamento físico específico para a modalidade, seus fundamentos e os treinamentos técnicos e táticos das duas equipes. 

Participamos do CEEBA (Campeonato Estadual Estudantil da Bahia), em 1982, ganhamos a classificação para a final jogando em Valente conta a cidade de Conceição do coité e pardemos a final para a cidade de Alagoinhas, jogando dentro de casa, na quadra do CSU.

É o começo da história vitoriosa do basquete de Serrinha, manteve a hegemonia da modalidade no estado da Bahia por vários anos, sagrando-se campeã estadual no masculino e feminino, marcando a época de ouro do Basquete de Serrinha.

Gostaria de convidar Loureleno Oliveira e Fabian Costa Costa , Bidé, Cafezinho, Cegonha, Garrafa (in memóriam), o armador, filho de Luiz das Bicicletas, não lembro o nome (in memóriam), os irmãos que moravam na rua da estação, Kekeu e o irmão Marcos , Jorge Geovina, Cesar Tremendão, Célio Beguinha, Tobias , Ray e o irmão Miguel, Renan e outros para me ajudarem a contar essa história (exceto os que estão ao lado de Deus)..

Lembro das fisionomias de muitos outros personagens dessa história porém, não lembro os nomes, peço perdão.

Depoimento de Ubirajara Andrade: Quero lembrar algumas pessoas importantes da rua do Imperador - Daniel mãozinha da Leste meu pai e olha que tenho 50 anos e nasci naquela rua; Fabinho da Petrobrás; Sr Nezu; a Mercearia de seu Ioiô - a primeira do bairro; dona Ester; Zuzinha do caminhão; dona Zefinha mãe de Vandinho. Essas pessoas realmente moravam na rua e os filhos até hoje ainda tem as casas e o Sr Bié da bicicleta.

Fiz parte do criarte quando criança e das colônias de férias do CSU muito reviver a História. Os outros vizinhos que o amigo falou e da rua José de Alencar transversal com a dom Pedro ll ; da rua São Domingos .

COMO ESTÁ HOJE

Todos esses dpoiemtnso (e outros que certamente virão) são importantes na história do bairro. Hoje, o CSU Dalva Oliveira passa um momento de abandono. Com a chegada do PT no governo estadual, em 2007, lá se vão 14 anos, o local que era dinâmico - escola, creche, arte, esporte, convivência, etc - entrou em decadência e até o SAC foi transferido, recentemente, para o Shopping Serrinha. Ou seja, deixou de estar num local público que pertence ao estado para situar-se num local privado onde se paga aluguel. 

Imaginar que o CSU volte a ser dinâmico e com as funções que teve onde gerações de serrinhenses entre os anos 1978/1998 - por mais de duas décadas - frequentaram e o local e desenvolver habilidades teatrais e outras, só o governo do Estado poderia dize. O que se espera é uma recuperação num inestimento que vise o bem estar da comunidade e de outras em seu redor - Ginásio, Abóboras, Colina das Mangueiras e Vaquejada.

Dados do Censo 2020: Educação Infantil - Creche, número o de turmas 5 / Média de alunos por turma: 24
Educação Infantil - Pré-escola; Aulas no período da Manhã número de turmas 2 / Média de alunos por turma: 18 Ensino Fundamental de 9 anos - 1º Ano,

Aulas no período da Tarde, número de turmas 1 / Média de alunos por turma: 22, Artes (Educação Artística, Teatro, Dança, Música, Artes Plásticas e outras) - Ensino Religioso, educação Física Ensino Fundamental de 9 anos - 2º Ano

Aulas no período da Manhã, número de turmas 1 / Média de alunos por turma: 21 Artes (Educação Artística, Teatro, Dança, Música, Artes Plásticas e outras) Ensino Religioso, Educação Física, Ensino Fundamental de 9 anos - 3º Ano

Aulas no período da Manhã, Tarde, número de turmas 2 / Média de alunos por turma: 14; Artes (Educação Artística, Teatro, Dança, Música, Artes Plásticas e outras); Ensino Religioso; Educação Física; Ensino Fundamental de 9 anos - 4º Ano


O BAIRRO É MAIS RESIDENCIAL

O bairro está praticamente consolidado sem áreas para crescimento. Trata-se de um bairro pequeno que divisa a Sudeste com o bairro Ginásio, a Oeste com os bairros Abóboras e Colina das Mangueiras, e a Norte com a testada da BR-116, área que está em expansão com a abertura de casas comerciais e oficinas, nas proximidades da antiga oficina elétrica de Licouri. 

A rua principal - Carlos de Freitas Mota - é mais comercial do que residencial e as ruas transversais a esse eixo são predominantemente residenciais.

CSUS EM DECADÊNCIA

Em seu governo, Roberto Santos implantou os chamados Centros Sociais Urbanos (CSUs), num total de 33 em todo o estado. Esses centros, de cunho declaradamente assistencialista, objetivavam atender às populações de baixa renda. Ainda existentes na estrutura administrativa, entretanto, os CSUs não desenvolvem, atualmente, qualquer papel relevante para as políticas sociais.