Cultura

HISTÓRIA DO BAIRRO DO GINÁSIO EM SERRINHA E SEUS TRÊS MOVIMENTOS (TF)

Uma história que começa no governo Juracy Magalhães, com Sericicultura, em 1935
Tasso Franco , da redação em Salvador | 12/07/2021 às 12:03
São 86 anos dessa história e o prédio nos dias atuais
Foto: BJÁ
 O bairro do Ginásio, em Serrinha, tem sua história alicerçada em três momentos históricos (movimento espaciais) até a constituição do bairro propriamente dito.

  O primeiro deles se situa no ano de 1935 quando o governador/interventor getulista Juracy Montenegro Magalhães decidiu instalar em Alagoinhas uma Estação Experimental de Citricultura e, em Serrinha, uma Sericicultura (Estação Experimental do Bicho da Seda), na gestão do secretário da Agricultura, Álvaro Navarro Ramos. A Sericicultura foi criada pelo decreto nº 9670 - de 13 de agosto de 1935. Sua construção ocorreu entre os anos de 1935 e 1937, sob a responsabilidade do engenheiro Orlando Teixeira e custou 800.000$000 (oitocentos mil contos de reis), sendo concluído em 1938.

  Representou durante muitos anos o mais 'suntuoso' prédio do município, seguramente, no seu estilo, ainda nos dias atuais o mais representativo.

  O projeto em si era bom, mas estabelecido num momento em que o município passou por um prolongado período de seca (a chamada seca de 30) e sem o devido suporte técnico, ainda que o governador Landulfo Alves tenha se interessado por ele e dado um empurrão. Em 1943, se mantinha em atividade, mas fracassou e virou um local de estocagem e distribuição de leguminosas e cereais, com a finalidade de amenizar perdas nas lavouras. Em Serrinha, meu pai Bráulio Franco (1910/1995) já dizia com sua experiência de produtor rural de médio porte, que "há anos bons; e anos de seca".

  SEGUNDO MOVIMENTO

  Em 1948, exercendo o mandato de deputado, o serrinhense Rubem Nogueira (filho de Luís e Áurea Nogueira) apresentou um projeto de lei aprovado pela Assembléia Legislativa e convertido em lei (Lei 130 - de 14.12.1948) criando os ginásios regionais de Serrinha, Jequié, Itabuna, Caetité e Canavieiras no modelo 'gymnasium' que já existia como filho único o Ginásio da Bahia, em Salvadort, e foi copiado dos modelos europeus. Todo esse movimento aconteceu no governo Octávio Mangabeira.

  Entre a aprovação da lei e a instalação do Ginásio (sede, formação do quadro docente, secretaria, auxiliares, admissão, etc) se passaram 4 anos. Em 1952, finalmente, o ginásio começou a funcionar a turma inicial (1º ano ginasial) em sede provisória na Prefeitura, praça Luís Nogueira. Somente em 1953, graça a uma nova ação política de Rubem Nogueira junto ao governador Régis Pacheco, os cursos do ginásio (já com 1ª e 2ª turma) passam a funcionar na antiga sede da Sericicultura (a essa altura funcionando como armazém de leguminosas) quando a Secretaria de Agricultura transferiu o prédio para a Secretaria de Educação. 

  Foi um parto porque os gestores públicos (cada qual defende seu espaço) e preciso ter uma decisão política do conquistense e apreciador de uísque Régis Pacheco para que isso acontecesse.

  Sendo assim, esse segundo movimento -importante porque se fixou o nome do ginásio numa sede própria - agora sim o ginásio (de verdade) inaugurado pelo governador e pelo secretário de Educação, Aloisio Short, com o nome de Ginásio Estadual do Nordeste.

  Somente depois de uma campanha feita pela professora Astrogilda Paiva Guimarães, o ginásio sob a direção do professor Clóvis Mota, no segundo governo de Juracy Magalhães (1959/'963) passa a ter o nome de GERN - Ginásio Estadual Rubem Nogueira. E, mais adiante, em 21 de abril de 1981, ganha o nome (até os dias atuais) de Colégio Estadual Rubem Nogueira, do ensino fundamental (correspondente ao antigo 2º grau ou nos primórdios conhecido como ginasial.

  TERCEIRO MOVMENTO

  O terceiro movimento acontece no governo municipal de Josevaldo Lima (1983/1988) e estadual de João Durval Carneiro com a urbanização do largo à frente do ginásio e construção de uma área ajardinada com concha acústica e quiosques que recebeu o nome de Praça Astrogilda Paiva Guimarães, popularmente conhecida como Morena Bela.

  Ora, assim como o bairro se chama Ginásio em função do segundo nome do prédio, que marcou épocas e nunca saiu do imaginário popular, a praça, oficialmente Astrogilda Paiva Guimarães, só é conhecida como Morena Bela.

  O bairro, portanto, foi uma formatação que se deu ao longo de mais de 80 anos até a sua consolidação e fica situado no miolo da cidade (Centro-Leste), um prolongamento do antigo Centro Histórico, hoje, Centro, e tem sua dimensão ao Norte no Posto Guanabara; ao Sul a Lauro Mota; a Leste a BR-409 que liga Serrinha a Coité; e a Oeste o Cemitério Paroquial e trecho da Avenida Luís Viana Filho e longitudinal Carlos de Freitas Mota no contorno com o bairro CSU.

  ERA ZONA RURAL

  Inicialmente, nos governos Juracy Magalhães (estadual) e André Negreiros Falcão (municipal) quando foi construída a Sericicultura essa área era rural e havia (na atual Luís Viana Filho) uma cerca com um portão que era fechado (dava acesso a pessoas e veículos do projeto), logo depois, existia um tanque, e seguindo-se adiante a via de barro até o largo aberto, em selão (tipo de solo avermelhado). Como o acesso à Serrinha pela BR se dava nessa época pela Transnordestina getulista na altura do Hospital Antunes e seguia pela Luís Nogueira, Rua Direita, Av Manoel Novaes em direção a Pedra (Teofilândia) a área da Sericicultura era cercada e a sede do órgão da Secretaria da Agricultura o único imóvel.

  Havia nessa região Nordeste do munciípio estradas vicinais (municipais) que seguiam as trilhas das antigas estradas das boiadas que davam acessos aos distritos de Lamarão, a Vila Natal e adjacências, e noutra direção (mais acima) a Manga (Biritingas).

   Para ter acesso a da Sericicultura subia-se a rua adjacente ao muro do cemitério paroquia e acessava-se o local pelo portão. Com o fim desse projeto e a criação do Ginásio Estadual do Nordeste essa grande área foi aberta e começaram a surgir algumas construções no entorno.

   Quando entrei no ginásio, em 1956/1957, saia do Largo da Usina (atual Praça Miguel Carneiro) onde morava, descia uma estradinha carroçavel ao lado da casa de Alzira (irmã de Sêo Neco Bilheteiro) - onde é o atual supermercado Chama, passava nas imediações do Tanque de João Devoto, seguida passando em frente ao cemitério (que a gente chamava cemitério do padre Demócrito) e depois pegava o campo aberto até o ginásio. Nesse descampado, em época de inverno, tinha-se que usar galochas (proteção de borracha para os sapatos) e um blusão por cima da farda contra o vento e o frio.

   Posteriormente, a Prefeitura abriu uma rua descendo e subindo (lateral do Chama), e logo depois do cemitério foi feito um campo de futebol. Neste campo de futebol, na década de 1950, se deram as grandes disputas entre Fluminense x ACEC e onde jogamos o campeonato infantil criado por Paulino Santana (Bieta) - pai dos ex-prefeitos Mariano Santana e Paulino Santana (Popó) na disputa entre Bahia x Ypiranga, também na década de 1950. Mais adiante, nas proximidades da praça começaram a surgir casas e também no entorno das atuais ruas Luís Viana Filho.

   Com o passar dos anos o campo de futebol foi transferido para os fundos do ginásio (onde hoje está a AABB) onde também jogamos algumas partidas de futebol, especialmente entre os clássicos locais Flamengo x Real. Mais ainda, instalou-se a primeira sede da Escola Normal de Serrinha , fundada em 17 de março de 1956, para a formação de professoras. Foi outro salto importante no ensino médio em Serrinha e na graduação de uma mão-de-obra local.

   Toda essa área - popularmente falando - passou a ser conhecida como Ginásio daí vem o nome do bairro. Ginásio (do latim gymnasium (Grécia) que significava "Escola para exercícios nus" na formação de atletas olímpicos. Era comum, naquela época, a prática de malhação com corpos nus. E, assim, também se popularizou no Brasil com os ginásios de esportes cobertos em SP, RJ, e na Bahia com o Ginásio de Esportes Antônio Balbino (o popular Balbinho), ao lado da Fonte Nova, e se transformou com esse nome em estabelecimentos de ensino do 2º grau. Depois, o nome foi associado a Liceu (no fundo o mesmo significado).

BR-116 NORTE E A MÁRIO ANDREAZZA

   Importante também destacar que, com a BR-116 Norte asfaltada na gestão do ministro Mário Andreazza, passando fora do eixo central de Serrinha, no seu contorno Norte, isso na década de 1960 (quando a cidade também passa a ter energia elétrica 24 horas), a cidade ganha novas vias de acessos pela Avenida Mario Andreazza (digamos, pela lateral da área do ginásio) contornando o largo (ainda sem urbanização) e abrindo duas avenidas a André Negreiros Falcão (ao Sul) e a do Imperador (ao Norte), hoje, chamada de Carlos de Freitas Mota. E, ademais, na altura do entroncamento com a área do nascente bairro da Vaquejada um novo acesso ao centro.

   Com isso e o fim da Transnordestina que cortava Serrinha pelo centro tornando-se uma via urbana, o bairro do ginásio cresce e novos equipamentos estaduais são instalados no local (sedes da Microrregião) e se estrutura até os dias atuais, com colégios, residências, comércio e serviços.

   Outro dado significativo foi que, com a criação da Morena Bela (já na década de 1980) o point mais movimentado de laser noturno em Serrinha se deslocou da Praça Luís Nogueira para este novo local com o surgimento de bares, restaurantes e pizzarias, o que vem acontecendo até hoje. Não que a Luís Nogueira tenha perdido todo espaço, pois, ainda é o centro das festas cívicas e de alguns eventos populares.

   O bairro do ginásio está estruturado e sem áreas mais para crescer. É uma espécie de apêndice do centro e todas suas áreas estão ocupadas com as ruas asfaltadas e em paralelepípedos. Hoje, a PMS constrói um Centro Tecnológico e Biblioteca ao lado da sede do Colégio Estadual Rubem Nogueira, há uma base do BPM, a sede da AABB, igrejas evangélicas, pousadas e toda uma infra-estrutura em serviços, de salões de beleza a venda de francos, revistas e jornais.

    PERSONAGENS DESSA HISTÓRIA

   Juracy Montenegro Magalhães é cearense e era tenente do Exército quando Getúlio comandou a Revolta Tenentista no Brasil e derrubou o governo de Washington Luis, em 1930. Já na patente de capitão Juracy foi nomeado interventor da Bahia (governador) entre 1931/1937 quando renunciou ao cargo por não concordar com o Estado Novo getulista. Foi, posteriormente, governador eleito entre 1959/1963.

   Landulfo Alves foi governador interventor nomeado entre 1938 a 1942; Octávio Mangabeira, governador eleito entre 1947/1951; Régis Pacheco foi governador eleito entre 1951 a 1955; João Durval Carneiro, governador eleito entre 1983/1986. 

   André Negreiros Falcão foi prefeito getulista entre 1930/1938 - médico por formação - comandou a política de Serrinha durante 40 anos (1930/1970) fundador da Escola Bahiana de Medicina, velha raposa pessedista.

   Professora Astrogilda Paiva Guimarães era mestra em português e integrou a primeira turma do corpo docente do Ginásio Estadual do Nordeste. Era baixinha e durona.

   Rubem Nogueira foi deputado estadual constituinte 1947/1951 e depois 1955/1959 e deputado federal 1961/1962, 4 meses em 1965 e entre 1967/1970. Jurista, um dos biógrafos de Rui Barbosa.

   Carlos de Freitas Mota foi prefeito eleito entre 1959/1963 e 1967/1971. Era produtor rural.

   Antônio Josevaldo Lima - médico por formação - foi prefeito de Serrinha em dois mandatos (1983/1988) e (2001/2004). É pai do atual prefeito Adriano Lima.

   Mário Andreazza (1918/1988) foi ministro dos Transportes nos governos de Costa e Silva e Garrastazu Medici.