Cultura

DICAS DO SERAMOV: O CICLO VIDA-MORTE-VIDA E O TEMPO SENHOR DA RAZÃO

Sêo Franco comenta os cilcos da vida morte vida, até o suspiro final
Tasso Franco , da redação em Salvador | 11/07/2021 às 12:07
Seramov em cooper light
Foto: BJÁ

Falo do tema Vida-Morte-Vida e da expressão “meu tempo já passou” . É uma expressão, uma frase compreendida mais pelas pessoas idosas que já viveram muito tempo as quais sabem o que significao “meu tempo já passou”. Mas também serve para todos as pessoas. Os jovens algum dia vão ficar velhos vão entender o significado conceitual dessa sábia expressão.

Isso é antigo. Os alquimistas tentaram criar uma máquina parar o tempo mas não conseguiram. Tentaram descobrir o segredo da pedra filosofal, de transformar o barro em ouro e também não conseguiram. O tempo é o senhor da razão. A psicanalista médica Juliana Clarissa Pinkola Estés recentemente fez um livro muito interessante chamado “Mulheres que Correm com os Lobos”; e nesse livro fala da existência de várias vidas e várias mortes até a morte final. 

       Ou seja, o ciclo vida-morte-vida existe e Pinkola alerta às suas pacientes para a questão. As pessoas (no decorrer da existência) encerram um tipo de vida e começam outra: é o ciclo vida-morte-vida.

      Eu nasci no interior. Minha cidade não tinha quadra poliesportiva, não tinha clube social nem piscina, não tinha quadra de tênis, não tinha autôdromo, não tinha mar, não tinha rio, não tinha floresta, não tinha atrativo, não tinha cachoeira, não tinha uma lagoa... então a diversão nossa desde a época da garoto era jogar bola. 

     E nós jogávamos bola nas pracinhas com bolas de borracha, de pano, de couro, bexiga de boi enrolada com cordão ensebado; e na minha cidade antes de vir para capital joguei também nas equipes de futebol amadoras com meião, com camisa, com chuteira e quando eu vim para Salvador continuei jogando futebol.

    Jguei futebol no Brasília, joguei nos campeonatos de areia nas praias do Cantagalo e da Boa Viagem. Joguei bola até 1995 quando fui diretor da Empresa Gráfica da Bahia. Tinha meião, chuteira, eu tinha mais de 50 anos e ainda jogava toda semana, jogava uma pelada; que aqui na Bahia nós chamamos de baba.

    De 15 anos para cá matei essa minha atividade futebolistica e hoje estou reservado a assistir jogos de futebol - gosto muito - pela televisão. Não vou mais ao estádio, só raramente. Nos veraneios de Vilas do Atlântico, eu jogava uns babinhas com meu menino, jogava com caseiro e tal, pegando no gol... mas essa atividade esportiva de jogador de futebol eu matei completamente e criei uma outra nova vida. 

   Voltei para escola de música (toco bandolim) e formamos uma banda de coroas e tocamos num bar, curtimos, executamos boleros, sambas, samba canções. Isso dá um prazer enorme, um prazer imenso. Então esse é o significado de respeitar a vontade do tempo.

     E não aconteceu só com o futebol. Aconteceu com várias outras atividades da minha vida e que eu tive que modificar com a idade. Hoje estou com 76 anos de idade e não dá mais para fazer determinadas coisas. 

     Lembro que nos finais dos anos a gente ia para as festas de formaturas, em Salvador, das faculdade, e essas festas eram muito concorridas - das turmas de engenharia e de medicina - e depois a gente saía dessas festas, às vezes do Clube Português, da Associação Atlética, se deslocava para as festas de Largo e ficávamos até de manhã, quando íamos para casa. 

    E na despedida diziamos: “Olha, amanhã 12 horas, hoje né, na Placafor”. E 12 horas já estávamos na
Placafor tomando caipiroska e paquerando as meninas.

    Hoje não dá mais para fazer isso. Pronto, simplesmente o tempo passou. Então, cada qual no seu cada qual. Cada coisa tem seu tempo adequado. Como eu faço em todos os meu programas, vou dar aqui as cinco dicas, as cinco flechas douradas da mão espiritual de Seramov. Uma, duas, três, quatro, cinco... para vocês se orientarem, para você entender melhor o que significa essa expressão "não dá mais tempo".

    A primeira dica é a seguinte: Você só deve fazer aquilo que está ao seu alcance. Não adianta querer patinar no gelo nem usar uma tirolesa. Um amigo nosso, da minha família, marido de uma professora muito querida nossa, casal na faixa de 80 anos, foi para Sergipe e lá tem um zoológico, um Safari e tal; ele resolveu atravessar uma lagoa numa tirolesa. Hum... torceu o corpo, caiu no Lago, bebeu água teve que ser socorrido na emergência e praticamente acabou o passeio. Ficou todo torto durante uma semana. 

    A segunda dica: Você já deve ter viajado para o exterior, ou mesmo aqui no Brasil, comprado um pacote turístico. Os agentes de viagens não esclarecem destalhes dos 'tours' em terra. Quando você chega no ônibus o agente diz: “olha hoje eu tenho uma surpresa extra para vocês aqui, vai ter um sobrevoo de helicóptero, vocês vão ter que atravessar uma ponte cheia de corda embaixo de uma cachoeira, você vai ter que praticar novas experiências. E isso é sempre para tirar um pouco do dinheiro que você leva consigo. Então esse tipo de oferta, pule fora, porque sua idade já passou. Correr riscos, ainda mais numa viagem ao exterior não é nada interessante. Só participe daquilo que você tinha planejado antes.

    A  terceira dica: Inovações são coisas feitas para os jovens. Frequentei muitos anos academias. De vez em quando o professor chegava e falava “olha, agora surgiu um aparelho fantástico, que estira a perna daqui puxa a perna dali, você pode fazer isso; fazer aquilo. E também surgiu a nova malhação com um cavalete e você vai pular de um lado para o outro, depois rodar e pular. Ora meu amigo seu tempo já passou. Lembre que seus joelho, suas articulações já estão gastas, isso é uma coisa reservada mais para os jovens. Pule fora, não entre nisso que você vai acabar indo parar numa emergência. 

    Quarta dica: Já fui um atleta maratonista. No CPOR ninguém ganhava de mim, meu apelido era 'estiva' (de estivador). Era forte pra caramba no Colégio da Polícia Militar, no Colégio João Florêncio Gomes, nas Olimpíadas da Primavera eu ganhava todas. Pronto, essa vida de maratonista já encerrei há muito tempo. Eu moro na Barra, no morrinho chamado do Gato e saio daqui de casa, caminho até o Morro do Cristo e depois até o Porto da Barra. São 3 km de ida e 3km de volta.  Em Vilas do Atlântico, às vezes eu andava 4-6 km com o cachorro, depois pedalava mais 12km. Hoje não dá mais. Eu não aguento. Então, faço cooper com frequência mas só andando, passeando.

    E a quinta e última dica é: busque sempre um aconselhamento médico para as atividades físicas e as atividades mentais. É fundamental. Coração não é brincadeira e coração de velho então é mais complicado ainda, tem que ter mais cuidado com ele. Então, não faça nada de atividades fisicas sem uma orientação de um profissional de saúde.