Cultura

MANIFESTAÇÕES PRÓ E CONTRA BOLSONARO SEM POVO COMO CONHECEMOS (TF)

Povo está distante das manifestações de rua nesse momento no Brasil
Tasso Franco , da redação em Salvador | 06/07/2021 às 09:57
A classe média nas ruas dizendo que é povo
Foto: REP
     Estão ocorrendo no Brasil manifestações pró-Bolsonaro e contra-Bolsonaro com frequência. Aqueles relativas ao apoio presidencial são chamadas de 'motociatas' e/ou 'motocarreatas' e envolve motociclistas, jipeiros e adeptos motorizados da causa bolsonarista e têm como marca a bandeira brasileira - o verde e amarelo - e críticas ao STF e pedidos de 'volta Lula à prisão'. Já as outras são intituladas de 'fora Bolsonaro' com bandeiras vermelhas e variantes de slogans do tipo 'vacinação 100', 'impeachment e prisão para Bolsonaro'.

  Ambas costumavam dizer que o povo está nas ruas em manifestações de apoio a Bolsonaro e contra Bolsonaro e pelo impeachment. Mas, onde está o povo que não conseguimos ver?

   O povo - no sentido clássico - é um conjunto de indivíduos que constitui a sociedade, compartilha a mesma língua, anseios, tradições e formata a Nação.

   No Brasil, no entanto, povo com a variante 'povão' se subentende (ou pelo menos essa é a imagem que se passou para a opinião pública) a camada da população mais pobre e que sobrevive, em parte, no guarda-chuva estatal - municipal, estadual e federal. Noutra parte, o povo tem que se virar para sobreviver. Exemplos: o  vendedor ambulante, o auxiliar de pedreiro, o comerciário, a costureira de bairros, as manicures, o verdureiro e assim por diante. 

   Essa é a camada da sociedade que se chama povo e 'povão' é o povo mais crítico, mais visível, mais espalhafatoso - digamos assim. A torcida do Bahia, por exempo (em parte) é povão.

   O que presenciamos tanto nas manifestações pró-Bolsonaro quanto nos protestos contra Bolsonaro é a ausência desse povo. Ou seja, o apoio desse povo que ambos os grupos falam não existe, nem ele (o povo) está participando ou dando atenção aos prós e os contra. 

   Isto é, as manifestações - de ambos os lados - estão sendo feitas pela classe média, por patricinhas e mauricinhos, servidores públicos, sindicalistas, estudantes e professores universitários e do ensino médio e integrantes que a esquerda chama de elite; e que a direita (no oposto) chama de comunistas.
   
   Isso não significa dizer - no sentido clássico da palavra - que essas camadas da população não sejam povo. São. Mas, na intrepatação que a esquerda deu a povo: Não são.
   
   Também não significa dizer que o povo/povão esteja alienado do processo politico. Ele apenas ainda não se integrou e não está nem aí para as manifestações a favor ou contra Bolsonaro. Está calado, astuciando, vendo o andar da carruagem. 
   
   Em sentido mais amplo da palavra o povo, de fato, nunca (ou quase nunca) participou de manifestações de rua de forma espotânea e quando vai à praça ou as ruas tem sempre o apoio de um político - um vereador, um deputado, etc - e uma ajuda financeira baixa, às vezes, o transporte e o lanche. Essa é a cultura brasileira. 
   
   O ex-vereador e ex-diretor do Bahia, Osório Vilas Boas, que cunhou o mais significativo e melhor slogan sobre o tema "Osório e o Povo contra o resto" foi um sábio nesse sentido e nunca fez uma manifestação de rua. 

   Já teve um vereador na capital Salvador que usava o povo para fazer assentamentos - invasões de terras - e eleger-se. E, há, o perene slogan 'o povo unido jamais será vencido'. Todos, evidente, salvo o dos assentamentos, sem a participação do povo, apenas usando-o como massa de manobra.
   
  É o que se vê nas manifestações dos dias atuais, as 'elites' e ambos os lados, falando em nome do povo e indo às ruas em protestos. (TF)