Cultura

DICAS DO SERAMOV: A ESPERANÇA E A ARTE DE VIVER EM MEIO A PANDEMIA

O Brasil, historicamente, sempre viveu em crise ao longo de sua história, em altos e baixos
Tasso Franco , da redação em Salvador | 27/06/2021 às 10:48
Fim de um dia para chegar a noite
Foto: BJÁ
   No programa de hoje falo do tema Esperança e a Arte de Viver. Ano novo, vida nova, estamos em meados 2021 esperando dias melhores para o povo brasileiro e para todos os povos da humanidade. Nós tivemos um 2020 atípico. Foi um ano que ninguém esperava acontecer o que aconteceu com a pandemia do coronavírus que já matou milhões de pessoas no mundo; e no Brasil 510 mil pessoas já morreram.

   E ainda temos uma tênue luz no final do túnel com a vacinação lenta da população brasileira. Já passamos por cinco ministros da Saúde nesse período da pandemia - um ano e três meses - e nem os mais catastróficos cientistas, aqueles que estão sempre fazendo previsões horríveis imaginavam que essa pandemia fosse tão violenta e duradoura.

   Dizia-se que duraria três a quatro meses e já contabilizamos 16 meses. Agora com a terceira onda e mutações do vírus no Reino Unido, uma coisa muito violenta, e de outras localidades - Manaus, India. Felizmente alguns países estão vacinando as suas populações com mais eficiência do que o nosso e a pandemia vai passar e temos esperança de caminharemos para anos melhores.

   A esperança é isso, é uma confiança, um sentimento de que é possível fazer um projeto, conseguir um objetivo que você deseja. Exige esforços individuais e coletivos. Imagine você - por exemplo - em 2021 ter a esperança de fazer uma casa. Então você tem que trabalhar, tem que juntar um dinheirinho, comprar os materiais, contratar um pedreiro, o  projeto do arquiteto e construir sua casa. Esse é um esforço individual. Não pode ficar esperando outras pessoas ou uma ação governamental. Você que tem que fazer a sua parte. Há, ainda, a possibilidade coletiva de você ser contemplado com uma residência do modelo Minha Casa, Minha Vida

   A esperança é diferente da Fé. Parecem coisas iguais e até se confundem. A fé é um sentimento religioso e você alcança determinados objetivos com orações, com contemplações, com reflexões. Integra os três pontos da liturgia religiosa: a fé, a religião e a caridade. As vezes a pessoa alcança; noutras, não alcança. É muito subjetivo. A esperança não. A esperança está diramente ligada a vida (bios) e depende muito de você, do seu trabalho, do seu esforço, da sua força laboral podendo ser individual ou coletiva. 

   Os brasileiros somos muito otimistas diante de tantos problemas que convivem. O Brasil é um país que nós vivemos num permanente mar revolto, a vida toda, sempre assim. A onda sobe; a onda desce. A onda sobe, vai pelo meio, naufraga, volta... nunca tivemos um mar de brigadeiro, uma linha reta ascendente permanente e sustentável. É uma época com onda alta; outra, com maré baixa. Sempre foi assim ao longo de nossa história e parece que vai continuar assim porque é o que nós presenciamos, é o que nós vemos. Então é preciso que nós façamos a nossa parte. 

   Teve um momento - quando a seleção brasileira de futebol empolgava os torcedores - eles iam para o estádio cantar “eu sou brasileiro com muito orgulho com muito amor”.

   Muita gente achava isso cafona, uma coisa abobalhada. Mas era um refrão cantado por todas as classes sociais. Os mais pobres eram quem mais cantavam, e isso tinha um sentimento muito forte de esperança, de confiança, de renovação para conseguir atravessar todas essas dificuldades. O brasileiro também é um povo muito curtidor, muito gozador. Nós gozamos inclusive com os nossos ancestrais, os tupinambás, os portugueses e os africanos. Isso faz parte da nossa cultura, esse otimismo humorístico, essa curtição, esse tipo de vida que nós levamos do Brasil. A esperança como diz o ditado popular é a última que morre e nós temos que ser confiança nela, nossa força, nossa força propulsora. 
 
   Como faço em todos os programas vou dar agora cinco dicas da mão espiritual de Seramov, as cinco flechas douradas ecerteiras, para se você quiser se orientar, se você quiser pode tomar como um paradigma.
 
    A primeira delas é que você tem que manter viva a esperança, você tem que conquistar as coisas que você deseja, trabalhar nesta direção. Traçar um roteiro, traçar caminhos, traçar rotas; e esteja motivado para isso, motivação é uma coisa importantíssima nesse processo.

   A segunda dica: a sociedades organizada pode ajudar e ajuda. Você pode participar de uma organização não-governamental, de um sindicatode uma associação comunitária, uma associação de classe, de voluntariado. Enfim, tem várias associações que você pode participar e se integrar. Isso ajuda, isso impulsiona seus projetos a serem executados. Agora, se você sentir que essa associação ou esse sindicato tem um viés político, no Brasil é muito comum isso, tem grupos que vivem disso a vida toda, só trabalham para aquele grupinho e não pensam no bem comum, pule fora, saia de baixo. Procure uma organização que vise o bem comum. Trabalho para todos.

   A terceira dica: use o método da subjetividade realista para conseguir seus objetivos. O que é isso? Foco, planejamento, direção, força, ação. São estes os cinco pontos que você tem que memorizar na sua cabeça para conseguir os objetivos que você deseja; os seus projetos de esperança. É subjetividade mental pura, mas importantissimo.

   A quarta dica: ponha na sua cabeça, se você não conseguir aquilo que você deseja não seja impertinente, não seja uma pessoa irascível, aceite as coisas como elas são e não como você deseja que fossem. O cronista Nelson Rodrigues lá atrás já dizia “a vida como ela é”. Isso vai fazer um bem enorme se você aceitar determinadas condições que às vezes você não comunga mas é um bem comum para todos. Vai lhe acrescentar o conhecimento profundo da vida.

    E a quinta e última dica, não espere pelos outros, nem pelo governo, nem pelo Divino porque dinheiro não cai do céu. Faça a sua parte, use sua força produtiva, sua força propulsora, sua força de trabalho, que você vai conseguir o que você deseja.

   O filósofo e psicólogo Paul-Michel Foucault em "Subjetividade e Verdade" (WMF-33) diz que "o bios é algo que pode ser bom ou mau, enquanto a vida que você leva porque é um ser vivo lhe é simplesmente dada pela natureza. O bios é a vida qualificável, a vida com seus acidentes, com suas necessidades, mas é também a vida como podemos fazê-la pessoalmente, decidi-la pessoalmente".
 
    É isso que eu queria comentar com vocês sobre a esperança esse sentimento de que é possível fazer, de que é possível realizar. De que é possível conquistar, observando o que contextualiza Fouclaut "o correlativo da possibioidade de modificar a sua vida, de modificá-la pelo modo racional em função dos princípios da arte de viver".