Cultura

DIÓGENES MOURA LANÇA VAZÃO 10.8 - A ÚLTIMA GOTA DE MORFINA

O Pré-lançamento do livro está marcado para o dia 24 de junho, às 19h, com encontro aberto ao público e conversa do autor com o crítico e ensaísta Manuel da Costa Pinto, online, pelo Zoom
Doris Pinheiro , Salvador | 17/06/2021 às 18:50
Diógenes Moura lança Vazão 10.8 - A Última Gota de Morfina
Foto: divulgação
Em seu primeiro romance, Diógenes Moura evoca fragmentos da vida de sua única irmã, vítima de um câncer fulminante, seus familiares e das cidades em que morou, em tons impressionistas, extraordinários e memorialísticos. “Em Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina o maior desafio não foi a escrita, mas sim viver e enfrentar o que seria a ausência definitiva da minha irmã. Até hoje não sei explicar direito o que vi e senti naqueles dias de despedida. Prefiro pensar que escrevi um livro como se escrevia na Idade Média, onde romance e a poesia eram a mesma coisa”, diz Diógenes Moura.

“Semana passada senti dores nas costas. Fiz uma tomografia, estou com um câncer no pâncreas!”. Foi assim, por meio de uma ligação de sua irmã, que o escritor Diógenes Moura tomou conhecimento, em 30 de junho de 2018, logo cedo, da doença que seis meses depois causaria, em 01 de janeiro de 2019, dia do seu aniversário, a morte da sua irmã. Essa e outras histórias familiares povoam as páginas de Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina (Vento Leste Editora, 104 páginas), romance autoficcional do escritor pernambucano que vive em São Paulo desde 1989, e que nunca deixou de perscrutar sobre o abismo, a existência e o abandono. Desde que estreou na literatura com o livro Mingau de Almas ou o Traço Fixo da Loucura, em 1982, uma mistura de contos, crônicas e poesia, Diógenes Moura não parou mais de escrever sobre a geografia humana das cidades onde morou (Recife, Salvador e São Paulo).

No prefácio do seu primeiro livro, o crítico, teórico e ator Alberto Guzik (São Paulo, 1944 – 2010), o classifica como um “mapeamento da própria alma, do ser. O autor transfere as dúvidas, interrogações, angústias e felicidade para o papel. Em estado bruto, quase. O polimento é mínimo. E a energia vem daí, acrescida da sinceridade do escritor”.

  Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina é um romance memorial de sua única irmã, de sua família, constituída de pai, mãe, cinco irmãos, incluindo o autor, tios, tias, uma irmã de criação, dos três filhos da personagem principal, do pai dos seus filhos, além dos animais de estimação, como cachorros e uma galinha que a irmã tinha quando era criança e morava num arrabalde de Tejipió em Recife.

  Numa tessitura de vestígios da vida da personagem principal – desde sua partida junto com a família de Recife para Salvador, quando tinha onze anos, passando pelo dia em que conheceu seu primeiro companheiro, pai dos seus três filhos, sua volta à Recife, até a descoberta do câncer de pâncreas que a mataria seis meses depois –, tudo é urdido com tonalidades impressionistas em que os contornos das memórias rememoradas ficam embaralhados entre tempo e espaço. Tudo transborda numa prosa poética e extraordinária em que a realidade cede à invenção, ao onírico e fabular, mesmo que se apresente também com seus dramas vividos.

Apesar de um câncer terminal, a vida da única irmã do autor é contada/inventada com sutilezas, dramas e abundância de acontecimentos numa celebração à existência e às memórias familiares. “Não me interessava escrever uma biografia ou um perfil porque seria pouco, muito pouco para tudo o que ela viveu e tudo o que eu presenciei. Não seria literatura, seria jornalismo. Também não me interessava transformar esse drama na escrita de uma grande tragédia familiar. Novamente seria muito fácil, quase pífio. Me interessa a literatura de segredos, de descobertas, de lentidão ao construir uma frase, da agonia da espera para que o próximo verso chegue aos poucos, lentamente”, revela Diógenes Moura.

  Uma literatura que não obedece a demarcações de gênero, já que aglutina no mesmo livro da poesia ao conto, passando pela crônica e pelo ensaio. Seus livros (nove ao todo), incluindo o primeiro romance, logram no campo da experimentação, da coragem e originalidade na abordagem dos temas, na busca por uma dicção própria, pelos traços de narrativas concisas, sem apego às descrições realistas tão em voga na literatura brasileira contemporânea. Trata-se de uma literatura indagadora, sem esperar nenhuma resposta, sobre a condição humana. “Já que nada tem mesmo explicação, sempre assino nos papéis como este e declaro nessa escritura queimada, rasgada, molhada, comida, mas nunca apagada”, escreveu o autor em Mingau de Almas ou o Traço Fixo da Loucura. Assim como a obra do diretor sueco Ingmar Bergman, o cineasta do instante, a literatura de Diógenes Moura é uma ode ao instante ou aos instantes, como fica claro em Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina.

  Apostando em um modelo que conecta mais de uma linguagem ao apresentar o romance ao público, a editora lançará também o filme de média-metragem, homônimo, dirigido por Beto Brant. O cineasta mergulha na obra, entre as palavras, as memórias e os desejos que fizeram da vida da personagem principal um ato de coragem e libertação.

 

Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina

Diógenes Moura

 

PRÉ-LANÇAMENTO (ONLINE)

Dia 24 de junho, quinta-feira, às 19H

 

Conversa do autor com o crítico e ensaísta Manuel da Costa Pinto | PLATAFORMA ZOOM