Cultura

A PROMETIDA DE ZORTH 19: JÚLIA PROCURA A MAIS FAMOSA BRUXA DA SERRA

Júlia quer saber se Conegundes tem o feitiço da transformação para uma mulher virar loba
Tasso Franco , da redação em Salvador | 27/03/2021 às 10:57
Júlia vai a tenda Conegundes
Foto: SERAMOV
    O jornalista Tasso Franco publicou neste sábado, 27, no wattpad, o 19º capítulo do seu livro "A Prometida de Zorth - o alfa supremo" que narra o desespero da jovem Júlia ao saber do casamento do alfa e procura a bruxaria para socorrer-se. Leia abaixo e os demais capítulos no wattpad.

                                                                Capitulo 19

 

                                          ATORDOADA, JÚLIA PROCURA A MAIS FAMOSA BRUXA DA SERRA

 

   Júlia estava atordoada. Queria encontrar algum caminho, alguma válvula de escape diante do anunciado casamento de Zorth. Lembrou que sua mãe sempre lhe falava para não ir ao Morro da Santa, pois lá havia gangues de jovens, muita violência.

   Quando ela respondia que isso era bobagem, a mãe atormentava seu juizo complementando que também havia no morro uma bruxa malígna, uma senhora que cozinhava sapos num panelão, fazia casamentos, desmanchava outros, lia mão das pessoas, promovia adivinhações e tudo mais.

   Seria esse o caminho? Essa lavander existiria mesmo? Ou sua mãe fazia isso só para amedrontá-la deixá-la presa em casa?

   Lá um dia foi trocar uma capa fixa do sapato no Roni, em sua tenda no mercado de farinhas e havia um homem conversando com um vendedor de cereais com cara de mago dando conselhos ao man cabisbaixo que teria levado pontas.

   Júlia apurou o ouvido, encostou mais para o lado do box das farinhas e enquanto Roni explicava o que faria em seu sapato e o valor dos serviços ouviu o cara de mago dizer:

   - Procura a Conegundes. Ela faz qualquer serviço. Só não levanta defunto. Corno? Ela cura. Seu galho ainda tá pequeno. Vai lá paga uma grana justa que ela lhe a receita e o picolé do cara que está lhe traindo derrete.

   Júlia se interessou pela conversa, esperou o homem galhudo sair e pediu ao moço, ao orgo, dois litros de farinha bem fina, de tapioca. Queria, no entanto, experimentar primeiro.

   O mago meteu a ponta da concha num saco, mandou Júlia estirar a mão, colocou um pouco e disse: - Essa é da boa, tapioca pura, de qualidade.

   Júlia jogou o verde: - Daqui a pouco você vai dizer que é da bruxa da santa!

   O mago admirou-se: - Deus livre. Aquela faz cozido de sapos, sopas de rãs e essa farinha é do povoado do Alto, depois do Presidio.

   - E essa bruxa existe mesmo?

   - Se existe. Vai lá xonhecer. É só v subir o morro, dobra na última rua, tem uma ladeira com curva em S e uma casa preta adiante. É lá que ela fica.

   - Deus livre. Vou nada. Tome aqui o dinheiro de sua farinha e bye.

  O mago balançou a cabeça. Ai tem coisa, tem engrizia. Acertou. 

   Tudo que Júlia queria era isso, o endereço. Foi para casa com o sapato consertado e dirigiu-se até a residência da bruxa. Havia um muro alto em volta da casa com cerca de segurança elétrica, duas bandeiras no portão principal fincadas em cabeças de caveiras, o número 13 no portal e uma corda com vários nós de marinheiro emoldurando o local. Na Porteirinha tinha um sino. Ela balançou. 

   Em instantes, apareceu um anão que lhe atendeu. 

   - O que deseja graciosa senhorita?

  - Queria marcar uma consulta com a senhora Cunegundes.

  - Só tem horário para amanhã à tarde e custa 200 pilas por uma hora de conversa. Dinheiro no efetivo. Não aceitamos cheque, nem cartão.

   - Isso é de menos. O importante é ela resolver meu problema, comentou a jovem. 

   - Nesse assunto não me meto. Aqui se resolve tudo. Você está pisando na casa da sabedoria, do amor e da magia, até mulher vira homem, kkkkkk.

   Júlia acertou o encontro para o dia seguinte e despediu-se do anão. Achou-o com a cara de fofoqueiro, maldosinho.

   Em dia e hora combinados da consulta Júlia compareceu a casa da bruxa. 

   O anão levou-a a Conegundes. 

   A senhora não era assustadora como diziam dela. O interior da casa, pelo menos até onde pode chegar, a sala de visitas e o quarto de atendimento eram sombrios, bem decorados com espelhos, cristais, casinhas decoradas, garrafas coloridas com coisas dentro, pentagramas, velas, fogo, incensos e flores.

   Cada um desses elementos tinha um significado desde o equilibro a transformação, bem como diferentes energias. 

  No local do atendimento havia velas sobre a mesa, um fundo vermelho com imagem de duas espadas cruzadas, uma bola de cristal, dois charutos num copo, cartas de tarô e uma infinidade de pequenos objetos de animais: sapos, corujas, gatos, cães, cotias.

  Nada disso surpreendida Júlia. Era o que esperava. Já tinha lido sobre as bruxas, o seu poder mágico, e observado que esses amuletos eram comuns a todas elas.

    Os cabelos de Conegundes eram enormes, pretos com mechas prateadas. Era uma mulher bonita, diferente das bruxas que vira na internet. Nariz arrebitado, olhos verdes, sobrancelhas grossas, lábios pintados de preto e roxo, unhas imensas pintadas de vermelho, argolas de prata com símbolos de cruzes ortodoxas, uma senhora com 50 a 60 anos de idade, imaginava. 

   Falava pausadamente e perguntou o que Júlia desejava. 

   A jovem, timidamente, contou o que se passava os ataques que sofrera de uma loba os tormentos que estava passando, coisas que nunca tinha acontecido em sua vida.

   A bruxa passou as mãos sobre a bola de cristal, duas mãos que estavam penduradas numa parede saíram voando e sobrevoaram a cabeça da jovem e a bruxa elevou o tom da conversa: - Não me minta. Conte tudo. Tem homem nessa parada. Loba não ataca uma bela adormecida como você, cara de santa puta, por nada.

   Júlia retomou a conversa e falou de Zorth e dos encontros que tivera. Deu todas as características dele.

     - A bruxa sorriu, gargalhou alto. Este rapaz já conheço. É encrenca pura filhota. Saia de baixo. Agora, se você gostou da fruta, se quer continuar comendo a fruta, não tem problema, desde que não mexa na linhagem, tudo bem. Você vai ser a segunda, a terceira, sei lá.  

   - E se eu quiser ser a primeira?

   - Esqueça. Não faço esse tipo de trabalho porque ele é um alfa poderoso filho de um original da Serra descendente de húngaros. Ai quem vai para aquele panelão – puxou uma cortina – é minha cabeça.

   - Que história de alfa é essa?

   - O rei de uma alcateia, um chefe, um poderoso, forte, e com ele ninguém pode. 

   - Mas eu não quero ser a segunda, a terceira e ainda ser ameaçada por uma loba.

   - É a preferida dele filhinha, de raiz, de berço, da ancestralidade. O mais que posso fazer com você é lhe ensinar os caminhos de se transformar numa loba para, se for o caso, enfrentar sua rival. Sabendo que a primeira você nunca vai ser. Seu cheiro é de segunda.

   - Hic!

   - Chegue aqui perto de mim e olhe nos meus olhos.

   Em seguida pediu que a jovem escolhesse uma carta de um baralho que estava posto sobre a mesa. 

    Recebeu a carta, analisou, fechou os olhos, meditou e disse:

   - Sua ancestralidade é boa. Há uma mulher selvagem dentro de você que está adormecida. Muitas mulheres demoram para descobrir esse lado oculto. Às vezes, nascem, vivem e não descobrem. São mulheres submissas durante a existência. Essa descoberta pode-se dar por um infortúnio, por autoestima ou outra situação. É o que você está passando. Uma fase de transição. Uma mulher loba sempre existiu na história da humanidade e você poder ser uma loba de personalidade forte, com força mediana, altiva, capaz de enfrentar rivais.

    Júlia suspirou. 

   - Não sei se tenho coragem de fazer isso, de enfrentar essa transformação.

   - Muitas mulheres se transformam e viram lobas, selvagens, usando últimas grifes da moda, dirigindo seus automóveis, trabalhando em seus escritórios, tendo vidas independente, incorporando uma força interior selvagem. A diferença é que não são capazes de se transformarem fisicamente. O que você deseja é exatamente isso e mais um pouco, ter a força, as garras de uma loba, a ferocidade, e isso exige um esforço maior, uma dedicação e o cumprimento de determinadas normas do outro mundo.

  Júlia voltou a suspirar. Achou tão bonito o que lhe dizia Conegundes, a sua firmeza, a sua segurança nas palavras que só não aceitou logo seu receituário porque precisar refletir mais.

   - Vá pra casa, pense. Faça também um examezinho no doutor pra ver se não está cheia, embuchada. 

   Júlia assustou-se. - Como assim?

   - Dardo não tem direção. De repente v tá com um bebê na barriguinha, hic! hic! hic! Isso não é assunto do meu se saber. Agora, para eliminar tenho poção infalível.

  Júlia arrepiou.

  - Esse é outro tema. Quanto ao primeiro, pense e volte que lhe dou a receita. Fale com Piko. 

  Tocou a sineta e o anão reapareceu. 

  - Conduza a mina e passe as informações para um R2.

   Piko abriu a cortina e conduziu Júlia a uma sala de estar. 

   - Filhotinha, disse o anão, para um R2, se decidir traga 1 mil reais em notas de 100 novas, cabacinhas, hihihihih. Este é meu número, mas, só ligue em caso positivo.

    Júlia foi embora pensativa, cabisbaixa, mais angustiada do que quando entrou para a consulta.

                                                                         ******
  *** Será que Júlia vai pagar essa grana para a bruxa? Será que essa Congundes tem a mágia de transformar uma mulher em loba?