Cultura

DICAS DO SERAMOV: A BOA MÚSICA É ETERNA E DEVE SER CULTUADA

Apreciar a boa música e cultuar os ídolos de sua época são importantes para preservar a memória cultural
Tasso Franco , da redação em Salvador | 06/03/2021 às 09:08
Sêo Franco executa o bandolim
Foto: BJÁ
  O jornalista Tasso Franco publicou neste sábado, 6, no aplicativo wattpad o 19º texto do seu livrom "A Mão Espiritual de Seramov" (linhas que iluminam seu futuro) e fala sobre a música e as mudanças impostas pela IA e pelas novas tecnologias. Veja abaixo e as demais dicas do Seramov no wattpad.

DICAS DO SERAMOV: A BOA MÚSICA É ETERNA E DEVE SER CULTUADA


Dando continuidade às nossas conversas sobre novas tecnologias e inteligência artificial nessa nova era industrial que esta impactando na sociedade mundial, no comportamento das pessoas, na geração de empregos, acabando alguns empregos gerando outros, as pessoas precisam se requalificar sempre.

 Hoje vou comentar sobre a produção musical. Música. Já conversamos aqui sobre música, já tocando algumas músicas e falamos do prazer de ouvir uma música, de tocar uma música, de acalencar a alma com a música; e hoje nós vamos conversar um pouco, mostrar a vocês os impactos que essas novas tecnologias estão trazendo na produção musical e que vão gerar muitos problemas. Vão destruir, vão acabar milhões de empregos no mundo todo e essa realidade se agravou com a pandemia do coronavirus. O segmento eventos está paralisado no Brasil há 12 meses.

 Não é uma brincadeira não. Cada dia há uma mudança nessa área e as pessoas têm que ficar muito atentas e nós também temos que ficar muito ligados a isso para que, de repente, a gente não seja engolido pela produção apenas eletrônica, esquecendo dos nossos vídeos, esquecendo do nosso passado, esquecendo as boas canções a poética e todo esse sentimento musical.

 Eu sou da geração da Bossa Nova. Na época da Bossa Nova. Do banquinho, do violão. Aprendi a tocar violão com o professor que era cabeleireiro e me ensinava com o método. Depois, em 1984, fui pra escola de música da Universidade Católica de Salvador aprender a tocar bandolim. Por música. Anos depois ingressei na Tom Musical. Hoje, sigo na Tom Musical, cuidado da minha voz, melhorando a minha voz já que eu não canto bem. Eu sou um baritono e preciso melhorar meus tons musicais.

 Então na época da Bossa Nova nos idolatrávamos Nara Leão, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, João Gilberto. Depois eu conheci toda essa nova música baiana com Caetano Veloso, com Gilberto Gil, com Gal Costa, Maria Bethânia. Chegou a axé música com Luís Caldas, Missinho, Bell Marques. Essa turma mais nova hoje com Ivete Sangalo  - já não é tão nova assim - Claudia Leitte, Asa de Águia. As ondas da lambada, do pagode e da sofrência. Quer dizer um movimento musical que vai se renovando a cada ano e que a gente não pode desprezar.

  Eu tenho uma parceria que com minha neta. Nós temos um duo chamado Luna Paz. Eu toco bandolim e ela canta. Outro dia a gente estava cantando uma música italiana da série La Casa de Papel, e ela disse assim “meu avô você já ouviu falar em Katsumi?”

  Eu falei “Não, nunca ouvi falar nessa tal de "Ratsumi". De onde é esse "Tatsumi?”

  Ela respondeu “é do Japão". Eu falei “pois é, nunca vi falar”. Ela completou: “Pois é, tem Ri, tem Ka, te Lee..” e eu tomei até um susto porque nunca ouvi falar nessas cantoras. E ela completou em detalhe: "São hologramas”

 - Eu disse “hologramas! nunca ouvi isso não e creio que ninguém escuta, frisei

 - Muito pelo contrário meu avô, tem milhões de pessoas que seguem e sabem as músicas, eu mesmo vou cantar aqui para você ver - Aí pegou o celular e colocou para eu ouvir e ver.

   O que é um holograma? Holograma é uma fotografia em três dimensões projetada na tela através de raio laser e que a pessoa não existe, é um desenho e esse sistema eletrônico, sistema computadorizado, é um algoritmo, que cria vários tipos de cantores, criam vários tipos de desenhos na tela e fazem shows. E tem milhões de pessoas seguindo.

   Aqui no carnaval da Bahia, eu sou de Salvador, em Salvador temos um carnaval que é o carnaval de rua mais famoso do Brasil e considerado o maior do planeta. E é  há toda engrenagem nos trios elétricos com músicos, com os produtores musicais, com engenheiros, com percurcionistas, com cantores, com back vocais e por aí vai. Então cada trio desse tem em torno de 30 a 40 pessoas trabalhando. São estruturas gigantescas e isso gerou muitos empregos na Bahia, muitos empreendedores nessa área. Criaram-se várias bandas e foi um fenômeno muito interessante que se espalhou pelo Brasil todo.

  Pois bem, já nos últimos carnavais apareceram aqui os trios com Djs eletrônicos. Aqueles pancadões. E de repente você diz assim, não tem ninguém seguindo, pelo contrário, milhares de pessoas seguiram e é isso que a gente tem que ficar atento porque essas novas tecnologias não podem apagar, não pode destruir essa produção musical que é muito importante na geração de empregos, é muito importante para as pessoas e é muito importante para a poesia musical.

   Não vamos nos iludir com isso, agora, é evidente que as novas tecnologias são inevitáveis. Ninguém consegue contê-las. Eu falei vocês que sou da geração do Bossa Nova e tinha discos  de vinil. Esses discos de vinil tinham capas maravilhosas, a gente colecionava, a gente tinha estantes em casa, guardava com um carinho especial. Flanelava, limpava, era uma coisa fantástica. E isso aqui durou aproximadamente uns 50 anos. 

  Aí depois veio o DVD. O DVD sepultou o disco de vinil, chamado bolachões. Bom isso aqui agora vai ficar aí a vida toda. Não durou 20 anos. Veio os dvds, cds.. veio o mp3, mp4 e agora são as plataformas digitais nos celulares.

 Eu posso fazer uma playlist, escolher minhas músicas, posso fazer, ir no youtube, enfim, tudo isso aqui que falei (vinil. cds, dvs, etc) desapareceram, foram sepultados. Hoje só quem tem são os colecionadores e os saudosistas como eu. Que tenho uma coleção que vou guardando para que meus netos possam ver.

  Então vamos as dicas da mão espiritual de Seramov, as cinco flechas douradas para vocês se orientarem:

   1. Ninguém contém as novas tecnologias e a IA, a robótica. Mas nós não podemos nos abater e vamos continuar cantando, vamos cantar, vamos continuar apreciando os nossos ídolos e valorizando a música, a poética musical. Vou pedir para que vocês ouçam a canção de Portugal, Lisboa Antiga, que foi imortalizada na voz de Amália Rodrigues e que você pode dizer assim, é linda, tem poesia. De repente você pode cantr um fado. O fado tem muito a ver com a Bahia porque Salvador é a cidade mãe do Brasil e Lisboa é a cidade avó do Brasil.

   2. Preserve os seus idolos. Se você é do tempo da Bossa Nova siga ouvindo e cantando as canções dessa época. Garota de Ipanema, do Vinicius de Moraes, deve ser a canção brasileira mais ouvida e interpretada no exterior até os dias atuais. Recentemente ouvi uma interpretação da Rita Payez, em Barcelona, sobre "Águas de Março", sensacional. Os grupos de jazz e Bossa Nova estão por toda parte do Brasil. Valorize-os.

   3. Claro que você deve atualizar-se e acompanhar os novos movimentos musiciais. Eles fazem parte da vida e a música, em si, toda ela tem seu valor salvo paródias grotestas e as bobagens com refrões de tátátá e oioioi. Muita gente critica a Axé Music mas ela tem muita coisa boa, marcou uma época, é objeto de estudos até sociológicos. E uma canção com "Nega do Cabelo do Dur"o que fez tanto sucesso com Luiz Caldas nos anos 1980 hoje será abominável. Veja quanto sentido há em tudo. E Luiz Caldas, hoje, ativo, se reciclou e é um baita artista.

  4. Há um modismo no Brasil - vemos muito isso no The Voyce - de pessoas interpretendo músicas em inglês - norte americanas, inglesas, escosesas, newnovazelandesas, etc - mas essa música que adoramos desde a época de Frank Sinatra e Nat King Cole tem um valor imenso, são canções que trazem uma poética universal e se inserem no contexto mundial. Não tenha preconceito contra elas nem contra a música latina, a caribenha, a metálica da Colombia e de Cuba, os boleros do México.

   5. A música não tem limites. O que é uma música boa? Muito dificil de saber porque eu posso gostar e você não. Há milhões de pessoas que curtem o rock, certamente a música mundial mais tocada, e temos que admitir quem é muito boa, assim como o heavy metal. O rock - que muita gente torce o nariz - embalou minha geração quando jovem com as variantes da Jovem Guarda e outras e segue até hoje de maneira fantástica a ponto de Brasília, em determinada época, ser a capítal do rock e do chorinho.