Terapia importada da Holanda chega a Bahia com o lubi empreendedor em sua fazendola de Serrinha
Lubi da Serra , Bahia |
27/12/2020 às 08:42
Terapia do Abraça à Vaca
Foto: JP
O jornalita Tasso Franco publicou neste domingo no wattpad a 39ª crônica do seu livo "O Lobisomem de Serrinha, a nuvem de fogo e o fim do mundo" sobre a terapia do abraça à vaca. Leia abaixo e as demais crônicas no aplicativo wattpad.
LUBI LANÇA TERAPIA ABRAÇA VACA EM SEU SITIO NO OSEAS DE SERRINHA
Acordei neste domingo com um humor fora do normal. Até tomar um banho antes de sair para ordenhar minhas vaquinhas - o que é raro - tomei. A Ester Loura - minha digníssima esposa - ainda estava embaixo do edredom quando me dirigi ao curral com o orvalho caindo no pasto e atuei com força de vaqueiro do sertão.
Tirei 36 litros de leite em 5 vacas - Líbia, Diamante, Siria, Bagdá e Vulcão - e quando retornei à casa, a Ester já preparando nosso cuscuz a ser servido com ovos, linguiça josefina, pitadas de sal do Himalaia e toresmo - desjejum para bravos - perguntou que milagre foi aquele do banho às 5 da matina, de quebra cantando uma velha canção do folclore da Transilvânia lembrando dos meus ancestrais.
- O motivo é que está no noticiário internacional - com grande destaque - a nova mania mundial que nasceu na Holanda com o nome de "koe knuffelen" (abraço à vaca), ou seja, ama terapia que promete serenidade, excelente aconchego entre o ser humano e um animal, uma inovação no empreendedorismo.
- E que nós temos a ver com isso nesses alpes sertanejos com vacas selvagens e que só aceitam abraços de touros! O mundo está é cheio de malandragens, de terapias de todo tipo, ioga com cabras, ioga de pelados, gurus indianos às pencas, o AutoRamp, respiração de Cheyne-Stokes, a endovenosa de nutrientes, a ozonoterapia, são tantas que se for listar aqui encho as páginas de um caderno, comenta Ester.
- Ora, se treinarmos nossas cinco vaquinhas, se fizermos um bom marketing, uma boa divulgação, vamos é ficar ricos. Os adeptos do abraço à vaca geralmente começam fazendo um tour pela fazenda que oferece o serviço, antes de repousarem encostados em um dos animais por duas a três horas. E nós temos tudo aqui no nosso sitio para isso.
-Meu guapo! Que tour podemos fazer em nossas minguadas tarefas de terras onde não há um lago, um córrego, uma mata, um vinhedo, uma atração sequer?
- Isso é o de menos. O tour começará em nosso sitio, os pacientes visitando os canteiros de batatas e tomates, indo em seguida na ao curral e no celeiro, ida até o açude da Cabeça da Vaca para velejarem, almoço no restaurante do Cebola Podre e banho de ducha no retorno em nossa caixa d'água. Então, em seguida, o abraço às vacas. Pacote fechado por 1 dia apenas 5 guarás ou modestos R$1mil.
- Isso não vai conquistar nenhum cliente.
- Vamos, sim, arranjaremos clientes da Bahia, de São Paulo e do exterior. Paulista rico adora essas novidades e os estrangeiros, ainda mais. Fazer uma massagem nas costas das vacas, deitar junto delas, ganhar uma lambida, tudo isso faz parte do encontro terapêutico. Na Holanda é um sucesso e aqui também vai ser.
- Eu quero ver alguém fazer carinho em Bagdá, coçar as costas de Siria, vai levar coices. Lançará um ´tido de morteiro, um torpedo, arriscado a matar o (a) cliente.
- Fazer carinho nas vacas promove positividade e reduza o estresse ao aumentar o nível de ocitocina no sangue, hormônio liberado em situações de vínculo social e emocional. E, ao que parece, os efeitos calmantes de se aconchegar com um animal — seja de estimação ou de amparo emocional —, são acentuados quando se acariciam mamíferos maiores. A prática pode ser benefíca para a pessoa e para o animal. Com jeito, nossas 'meninas' se acalmarão, mesmo a mais rebelde, a Vulcão.
- Vulcão só aceita carinho do touro Tífon ainda assim só quando está no cio. Aí ela gosta, denga.
- É importante que o contato com elas não seja forçado. A experiência de carinho pode ser prazerosa para o próprio animal. Um estudo de 2007, publicado na revista científica Applied Animal Behavior Science, afirma que as vacas mostram sinais de relaxamento profundo, alongando-se e deixando as orelhas caírem para trás quando massageadas em áreas específicas do pescoço e na parte superior das costas.
- Isso é coisa de gringo que não tem o que fazer com dinheiro e fica inventando, obtemperou Ester.
- Hoje, fazendas em Roterdã, segunda maior cidade da Holanda, na Suíça e até mesmo nos Estados Unidos estão oferecendo sessões de abraço à vaca — e promovendo suas propriedades curativas de indução da felicidade e redução do estresse. Já contactei com a viúva Zaís Pinharada da Fazenda Casa Rosada das 7 mulheres para fazermos um pool. Inicialmente, pelo telefone, ela ficou desconfiada mas prometeu analisar com a Thalaiana.
- Duvido que as Pinho venham se meter numa terapia dessas. Certa estão elas em viver do leite de suas holandesas, das carnes e leite dos seus bodes, da colheita de ovos de sua granja.
- Você está desinformada Ester. Tem uma delas, uma Pinho menor que conversa com os animais, dialoga com o bode Lulu, pega gato pela orelha sem ser zunhada, troca figurinhas com uma vaca, muitas delas, dóceis, inclusive a Coração é uma mor de animal.
- É, pode ser. Agora, esses estrangeiros têm explicações para tudo e fazem estudos e pesquisas no Estados Unidos até para estocamento de vento e sangue de baratas. Já que você está pensando nesse novo empreendedorismo vamos ao campo fazer um teste com a vaca Vulcão.
Topei a proposta de Ester na hora e nos deslocamos até o pasto. Vulcão estava deitada embaixo de um umbuzeiro e achamos que seria um ótimo lugar para o teste. Aproximei-me da vaca, passo a passo, devagar, a dita ruminando e me olhando de esguela, a essa altura Ester com a câmara em mãos para fazer um vídeo - primeira peça da Serra Abraça à Vaca Terapia Transformadora e Tour - nome fantasia SERVAC - encostei-me no animal, passei a mãos de leve no seu lombo, fui falando baixinho ...querida sou eu o lubi, vim lhe fazer um carinho, participar de uma terapia - e sentei-me ao lado.
Tudo ia Às mil maravilhas, Vulcão já tinha me dada duas lambidas, já tinha fechado os olhos, quando passou uma moto pela estradinha que dá no campo do Bahêa da Rodagem, o animal se assustou levantou de sopetão dando coices para todo lado e me atirou a uma distância de três metrods, mais ou menos onde a Ester filmava. Fui arremessado de tal maneira que atropelei a Ester e fomos os dois ao solo.
A sorte é que Ester, por precaução, havia trazido consigo minha bengala de aroeira, e quando Vulcão arremeteu em nossa direção, eu ainda caído, empoeirado, ela deu nos chifres do animal ela refugando.
Fiquei de pé, mancando, retirei a poeira do corpo, e vi a vaca descendo a ladeirinha para o tanque da quixabeira onde foi beber água.
Ester pergunta: - Você se machucou. Já imaginou uma cena dessas com uma cliente terapêutica de São Paulo, da França?
- Não foi nada, só um susto. Faz parte do processo.
Voltamos para casa e senti que minhas costelas estavam doendo. Sentei na espreguiçadeira a dor aumento, a respiração estava comprometida. Convoquei a Ester e fomos a Santa Casa da Serra e foi constado que havia quebrado duas costelas. O doutor me enfaixou, passou um anti-inflamatório e retornamos ao sitio.
Durante o jantar, uma sopinha leve de legumes com urtiga, a Ester, maliciosa, quis saber se o projeto até estava de pé.
- Vou pensar, vou pensar, se a menina que conversa com os bichos falar com Vulcão, ponderar para ela ser educada, pode ser, pode ser...
*****
***** Esta é uma crônica de ficção. Nomes que aparecem no texto se parecidos com personalidades reais é merca coincidência.