Cultura

PORTO DA BARRA REABRE PARA DAR CONTINUIDADE A HISTÓRIA DA CIDADE (TF)

Fauna e flora juntos e misturados na melhor praia da cidade Salvador
Tasso Franco , da redação em Salvador | 17/11/2020 às 18:50
TF na reabertura do Porto
Foto: BJÁ
   Depois de quase nove meses fechada diante da pandemia do coronavirus a praia do Porto da Barra reabriu nesta terça, 17, ainda com protocolos, presença da Guarda Municipal monitorando prováveis aglomerações, a proibição de sombreiros para proteger os banhistas e a permissão de vendedores de bebidas, petiscos e as baianas do acarajé. 

  Foi um longo período sem o desfrute dessa área de lazer da cidade do Salvador, a melhor praia, a enseadinha mais acolhedora, a muvuca histórica, os camarões do João, as geladas de dona Maria, a rede do vôlei, o futivolei, o pontinho, os paqueradores das lanchas, muita história, muitas alegrias, muitos encontros e até desencontros.

  O Porto da Barra - ainda não tinha esse nome - foi o porto seguro que abrigou Diogo Álvares, o Caramuru, em 1510, o europeu que conviveu com os tupinambás e fez casa de morada e constituiu as primeiras familias mestiças da Bahia, e as mais importantes familias do estado durante 200 iniciais da colonização na Bahia.

  Foi no Porto da Barra que, em 1536, chegou a pequena esquadra do primeiro donatário da Bahia, Francisco Pereira Coutinho, o "rusticão", e não conseguiu desenvolver a capitania sendo expulso pelos tupinambás, exilado em Porto Seguro, e depois morto após um naufrágio no retorno à Baía de Todos os Santos, devorado pelos nativos de Itaparica.

   Em 1549, o Porto da Barra recebeu a 29 de março, a nau Nossa Senhora da Conceição e mais cinco, com o governador Geral do Brasil, Thomé de Souza, fundador da cidade do Salvador. E, por algum tempo, até fundar a cidade, viveu na antiga Vila Velha do Pereira, no porto. É muita história.

  Estão nas proximidades do Porto, os Fortes de Santa Maria e São Diogo. Hotéis, bares, restaurantes, cafeterias, sorveterias, a Associação Atlética, o restaurante Pereira, o Berro D'Água e muitos outros.

  O banho de mar como lazer em Salvador é recente. Data do inicio do século XX e começou pelo Porto da Barra com os homens vestindo bermudões listrados para chamar a atenção e as mulheres maiôs pretos e coloridos. 

  Houve uma época dos anos 1970, que frequentávamos o Porto todos os sábados e por volta das 15h iamos a um hotel que era de Elmano Castro comer uma feijoda. Época da rede do volei disputadíssima, dos deslocados que puxavam um fuminho, do desfile dos gays que ainda eram poucos, do jogo da peteca pela turma dos 'coroas', da tradição de ficar sentado na areia e o vendedor da gelada com um regrador molhar seus pés.

  Em parte, tudo isso está voltando com a reabertura do Porto. 

   A história, que é imutável e lá tem um marco monumento que registra a chegada do Thomé de Souza, o jogo da peteca que logo virá, os gays que já voltaram e agora bebem vinho em taças enormes de plástico, a turma do pontinho, a feijoada que agora é servida em vários restaurantes, a turma do mergulho, os pescadores da colonia de pesca que nunca arredaram pé de lá, o acarajé da Nice, o coco, tudo como antes e suas modificações que são próprias de cada tempo.

  O Porto continua, no entanto, a melhor praia da cidade, a melhor muvuca, a democracia praiana pois dá de tudo, do pobre ao rico, o remediado, o quebrado, o cafetão, fauna e flora juntos e misturados. (TF)