Cultura

UM LAMBRETEIRO SEM RUMO NA CIDADE DA BAHIA, por EGNALDO ARAÚJO

Egnaldo Araújo é jornalista
Egnaldo Araújo , Salvador | 03/11/2020 às 10:01
Egnaldo Araújo
Foto: DIV
  Por volta de 10 horas da manhã de uma quarta-feira de abril de 1964, lá ia eu a pilotar uma velha moto Vespa da marca Piaggio, a subir a ladeira da Rua 28 de setembro, no Centro Histórico de Salvador, na Bahia, quando me defrontei com uma barreira de policiais a sinalizar para que parasse, o que o fiz. 

  E, nem bem tentei perguntar alguma coisa, levei foi uma grande bofetada, sendo ordenado que retornasse imediatamente, o que o fiz sem pestanejar e a ressentir a dor da porrada que levei, sem nem saber por quê. 

  Depois vim, a saber, que um força policial estaria ali perto, na sede da Prefeitura Municipal de Salvador para dali retirar sob voz de prisão, o então prefeito Virgildásio de Sena, sob a alegação de que era comunista. 

  Era a grande caça às bruxas da então Revolução de 64, promovida pelos militares, e coroada com o AI -05 que promoveu a prisão e cassação de direitos políticos, de políticos e pessoas acusadas de contrariarem a então a nova Lei de Segurança Nacional.

  Como aluno universitário de Jornalismo da UFBA, de 22 anos de idade, sem emprego, morador da Residência do Universitário do Largo da Vitória, a dormir num beliche ao lado de mais 05 colegas de outras áreas, me senti uma pessoa sem saber que rumo a tomar da vida, vez que a situação da repressão da então Ditadura Militar que assumira o governo brasileiro, era cada vez mais intensa, com a realização de muitas prisões pela Polícia Federal, que na Bahia era comandada pelo diretor local, o Coronel Luiz Arthur de Carvalho.  

  Na Faculdade de Biblioteconomia e Documentação, onde funcionava o nosso curso de Jornalismo, no Vale do Canela, os nossos colegas evitavam e eram proibidos de fazerem reuniões para tratar de que assuntos fossem. E, se assim o fizessem a Diretora Stelinha Pita Lima, do alto dos seus 1,56 metros de Diretora, (de Nazaré das Farinhas), pegava o telefone e chamava a Polícia.

  Como na vida tudo passa, aquele período de obscuridade democrática também passou, contudo, demorou por mais de 20 anos essa situação de irregularidade democrática no Brasil. Em novembro de 1971, eu e mais 25 colegas, nos formamos em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, num pequeno auditório da Escola de Biblioteconomia, situada bem em frente da Escola de Música e Maison de France (que hoje ali não mais existe). 

  O que aqui relatamos poderá ser comprovado por alguns desses formados, jornalistas atuantes como: Eliezer Varjão; Sérgio Matos; Paolo Marconi; Aidil Daltro; Romário Gomes; Diana Sepúlveda e Tasso Franco, dentre outros.
 
  E agora estamos a completar 50 anos de formatura, a presenciar um Pais sob o comando de Jair Bolssonaro, presidente com raízes militares, levando a crer que esse é uma Pais que poderá sair da Crise Econômica e da Pandemia. Vamos esperar par ver.

Egnaldo Araújo.