Cultura

LOBISOMEM DE SERRINHA É ACONSELHADO A NÃO TOMAR VACINA DE COMUNISTA

Lubi toma um fortificante do receituário da bruxa Conegundes que mora no bairro da Santa
Lubi da Serra , Serrinha | 16/08/2020 às 10:13
Lab da Conegundes
Foto: ILS
   O jornalista Tasso Franco publicou neste domingo, 15, sua 20ª crônica no livro Lobisomem de Serrinha, a nuvem de fogo e o fim do mundo, no aplicativo wattpad sobre a disputa e polêmica das vacinas que estão sendo gestadas para combater a Covid 19. Leia abaixo a crônia de hoje e as demais v lê no wattpad.

   A PLÊMICA DAS VACINAS IDEOLÓGICAS

  Liga-me o cientista Augustus Abreu, de Roma, procurando saber que vacina estaria eu a tomar, se chinesa, russa, inglesa, americana, portuguesa e/ou alemã, para combater o coronavirus.

  Disse-lhe que as vacinas ainda não haviam chegado à Serra e estava tomando um energético nativo do laboratório farmacológico da bruxa Conegundes, a base de infusão com umburana de cheiro, pau de rato, mel, pimenta e sapo cururu cozido.

  - E essa poção da Conegundes é boa mesmo?

  - Boa é apelido. Fortalece os músculos, dá sustança, não tem nada a ver com a pandemia, mas, deixa as pessoas fortes, resistentes, ajuda né.

  - Você tem coragem de tomar um troço desses, advertiu o cientista Augustus.

  - O lab da híbrida, porque ela tem capacidade de se transformar em loba e bruxa, produz perfume melhor do que o Azzaro, energéticos red bull e poções que curam até dor de corno, rsrsrsrs.

   - Então é pra sair no Elástico da Rede Planeta! admirou-se o romano.

  - Não duvide. Um parente nosso do Cuyté do Lapão, um lupina, tomou uma tal de ivermectina, vermífugo usado no tratamento de vários tipos de infecções por piolhos, sarna, oncocercose, tricuríase, ascaridíase e filaríase linfática, e disse que se deu bem. Ele e dona Abud.

   O cientista estranhou que, não divulgássemos isso com mais força para que o mundo tomasse conhecimento, pois, a corrida da vacina movimenta bilhões de dólares, de euros, de iens, e seria uma fonte extraordinária de recursos para a Serra, se descobríssemos uma vacina, além de levar à ribalda os nossos cientistas.

   Falhei-lhe, também, que alguns serrinhas dizem que vão se recusar a tomar vacinas russas e chinesas, pois, são produtos comunistas.

   -Por Deus! a ideologia chegou as vacinas na Serra? perguntou.

   - Sem dúvida, alguns pátrios só tomam a cloroquina do Messias. Outros, da esquerda, dizem que vacina do Tio Sam jamais, pois, exploram o indivíduo, a dominação ianque.

  - E você, qual vacina tomará além desse composto horrendo que bebes?

  - Bebo esse composto, bebo o puro malte de Escócia, o alvarinho de Espanha, a jurubeba Leão do Norte, a caçutinga do fabrico do Lôro, e admito experimentar a vacina do Reino Unido.

  - Por que só do país da queen Elizabeth II?

   - Pelo parentesco da Ester, minha querida esposa, com a casa real.

  - Hic! não sabia dessa linha nobre, sangue azul da senhora Ester Loura.

  - O sangue dela é vermelho, do bom. De vez em quando tomo um pouco para matar minha sede. É um parentesco de grau afetivo, sem raiz, ela diz que os meninos da duquesa de Cambridge são seus sobrinhos.

  - Tem sentido, tem sentido, usares a vacina de Cambridge, despediu-se Abreu mandando lembrança para os velhinhos transviados.

  Segui minha labuta e mais tardar o telefone toca de novo. Imaginei ser algum convite do Guedes, nosso Posto Ipiranga, para um desses cargos do governo, no Goiás Velho, mas, era o poeta Serafim Alves desculpando-se que ainda não terminara os versos em que propunha minha estampa para a nota de 200 reais, pois, a Chikungunya o atacara, ferozmente.

  - Que passe melhor. Vou fazer umas orações do grimório de São Cipriano para ficares bom.

  - Que zorra é essa! Isso são rituais de exorcismo, de ocultismo. Ore para Santo Expedito, São Nicolau, São Desidério, arruma um santo mais simpático. O Cipriano é caixão e vela.

  - Que não seja por isso. Na Casa São Vicente tem vários modelos, dos mais caros aos mais baratos. Tem até com travesseiro. E velas de todos os formatos, pilheriei

  - Vá se f seu lubi dessassuntado.

  - A propósito, que vacina pretendes tomar contra a Covid nessa corrida dos grandes?

  - Só tomo a vacina que o Messias recomendar, disse o bardo desligando o fone garantindo que mandaria a complementação do poema assim que ficasse bom.

  Fui a labuta, a liça, ao combate do dia a dia enfrentando a pandemia sem poder ir ao Bar Canteiro tomar uma gelada uma vez que nosso alcaide, o doutor Lima ainda não determinou a abertura dos bares e restaurantes.

  Ao sair para a roça e colher aipins um novo telefone. Disse comigo mesmo: hoje, é o dia D, se não recebo um convite dos grandes do Goiás Velho sinto que meu prestígio está em declínio. Mas, como a esperança é a última que morre atendi cheio de otimismo:

  - Que deseja a nobre República deste humilde servo?

  - Que República meu gigante Lubi! Aqui é o Leandrinho, de Valencia, Espanha, a saber como andas de saúde, das dores da coluna, do enfretamento da pandemia?

  - Ah! Puts! pensei que era o Posto Ipiranga. Ando a remar contra a maré, a espetar agulhas nas costas, a viver no passo do compasso.

  - Chi! Estás poético!

  - Quem andas a dialogar com o Serafim acaba aprendendo alguns dizeres bonitos.

   Ester, que acompanhava a conversa, gritou de sofá onde tricotava umas capas de almofadas: - Dizeres de merda, sem rima, sem métrica.

  - Dona Ester parece brava, respondeu Leandrinho que ouviu o reclame.

  - É porque ainda não tomou sua drágea de cloroquina, pilheriei.

  - O bro amigo precisa atualizar sua linguagem. Drágea é coisa da época do Ruy Barbosa. Hoje, fala-se em vacinas de última geração para combater a pandemia, tabletas como dicen los espãnoles.

   - Mal lhe pergunto, já tomaste a vacina contra a Covid?, perguntei.

   - Ainda no. Yo e a mi señora devemos optar por uma chinesa quando aqui chegar. As lojas dos ‘chinas’ vendem de tudo.

  - Deus livre. O poeta Serafim recomendou-me que essas coisas de comunista ele não toma, nem vocka.

   - O 'china' aqui é a mais capitalista que Tio Sam. Gosta tanto de dim dim que esteve conosco, ano passado, minha avó a visitar-me e ela virou freguês dele. Até um maiô comprou.

  - Deve ter gostado da guapa.

  - Nada, perguntou quando ela vinha gastar mais seus euros.

   Ester comentou: - Esses comerciantes chineses na Espanha, de comunistas não têm nada. Foi-se o tempo em que comunista comia criancinha, época em que lutei na Turquia, que enfrentei os monstros. Hoje, vermelhos ou amarelos só querem saber de euros, de dim dim no caixa.

  - São os novos tempos Ester, de Jack Má, da Alibaba; de Putin e aquela atleta olímpica belíssima do salto de varas, do Xi Jinping e de sua encantadora filha Xi Mingze. O mundo está de ponta cabeça como previu Nostradames, perto do fim.

  - Que fiquem lá com suas modernidades e suas vacinas. Em sua vara é que ninguém vai pegar.