Cultura

RESTAURANTE PREDILETO FERNANDO PESSOA EM LISBOA COMO V NUNCA VIU (TF)

É a 23ª crônica do livro Lisboa como você nunca viu, leia no wattpad
Tasso Franco , da redação em Salvador | 10/06/2020 às 10:44
Bacalhau a Martinho
Foto:
  O jornalista Tasso Franco publicou hoje no wattpad a 23ª crônica do seu livro "Lisboa como você nunca viu, a pensão do amor" sobre o restaurante predileto de Fernando Pessoa, na capital portuguesa, o Café Martinho da Arcada, no Paço.

Leia crônica abaixo. As demais no site wattpad.

CAFÉ MARTINHO DA ARCADA, PREDILETO DE FERNANDO PESSOA E O BACALHAU ESPIRITUAL

 
O poeta Fernando Pessoa é a personalidade mais representativa de Lisboa entre o final do século XIX até meados do século XX. Diria que é a cara de Portugal num comparativo mais amplo observando-se o modo de vida, costumes, os lugares, as praças, teatros, chapelarias, livrarias, barbearias e o que havia na cidade de vida cultural e econômica.

Pessoa era um andarilho desses locais, desde o local onde nasceu no Largo de São Carlos, no Chiado, até onde trabalhava, se barbeava e comprava cigarros. Seu poema "Tabacaria" é uma obra prima. O Café e Restaurante Martinho da Arcada fundado em 1782 era o predileto do poeta e dos seus amigos literários e boêmios. Um local de prosa. Pessoa era menos de comer e mais de beber. 

   O culto a Fernando Pessoa por onde se anda na capital portuguesa é visivel a cada lugar que se vai, do local onde se vende pastéis de bacalhau ao embelmático Café "A Brazileira", no Chiado. Há um respeito e admiração notáveis em memorial, livrarias, fotos e lembranças em restaurantes, padarias, bares, museus, bistrôs, ascensores, ruas e praças.

  Na Casa Portuguesa do Bolinho de Bacalhau da Rua Augusta próximo ao Terreiro de Paço na escada de acesso ao primeiro piso cada degrau tem uma frase poema de Pessoa, uma biblioteca e seu primeiro livro quando em vida. 

  Fernando António Nogueira Pessoa foi poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político.

   Nasceu no dia de Santo Antonio 13 de junho de 1888 e morreu em 30 de novembro de 1935.

   Há roteiros em Lisboa nos lugares onde frequentava. E um deles é o Café Restaurante Martinho da Arcada na Praça do Comércio, antigo Terreiro do Paço, onde os proprietários mantém sua mesa num canto do salão, com um pequeno cálice que usava para beber absinto por influência do amigo Mário de Sá Carneiro, uma xícara, uma foto, um cálice e um livro.

  Fernando Pessoa era inveterado fumante, comia pouco e bebia vinho e bagaço, a caninha portuguesa.  

   Estivemos no Arcada para conhecer esse ícone da gastronomia portuguesa, yo, la señora Bião de Jesus e su madre Antonia, por coincidência sendo atentidos pelo garçom António (em Portugal o acento é agudo no António e no Brasil circunflexo Antônio), profissional de longo curso como os demais da casa tradicionalissima de Lisboa, trajado de smoking sem a casaca, que nos atendeu com todas as honras.

    O Martinho da Arcada - assim é mais conhecido - fica no lado direito das arcadas do Paço, a partir do Tejo, onde existem outros restaurantes e estão a sede alguns dos ministérios portugueses.

   António nos serviu um Adega Mayor e nos mostrou o local onde Pessoa bebia e fraseava com os amigos. Não resisti a uma foto sentado na cadeira usada pelo poeta na esperança, quem sabe, se incorporar alguma erudição poética.

   O Arcada tem um salão amplo, clean, clássico, toalhas alvas, garçons antigos, um serviço impecável, tudo como manda o figurino para um restaurante bicentenário. Tem história e muita história.

   Há, ainda, dois outros ambientes: um deles na arcada que funciona como bar e um outro menor, quase na entrada lateral do restaurante, que opera como café e lanchonete. O restaurante só abre a partir das 19h e é recomendável fazer reserva. Os outros locais funcionam todo o dia e noite.

   O couvert da casa serve com pães e queijos. La señora Bião, por inspiração, solicitou o queijo da Serra da Estrela e mister António fez ver a ela que o Martinho servia também o queijo curado de ovelha.

   - Que venha ambos - soletrei para o nobre António.

    Aos poucos os clientes foram chegando, silenciosos, introspectivos, quase sempre admirando um dos locais prediletos do poeta Fernando Pessoa, suas fotos nas paredes e a mesa que utiliza em suas prosas. 

   De principal solicitei um bacalhau ao Martinho o mais pedido da casa e las madames bacalhau espiritual. Deliciosos.

   Anbtónio insistiu em dizer que o meu prato, o Martinho, era o melhor. E eu fiz ver as senhoras que, de fato, era. Isso para fazer inveja a elas que não se sentiram preocupadas entendendo que o bacalhau espiritual também estava saboroso demais, como um poema de Pessoa.

   Después, uma rodada de Porto Santa Eufêmia, o divino, e cafés.

   Certo estavam Fernando Pessoa e amigos a frequentar esta casa com tanta assiduidade, pois, embora não fosse de apreciar bacalhaus, o lugar é agradável, conventual e espiritual. E uma comida deliciosa, de inspirar poemas.

  Farei como Pessoa. Se algum dia retornar à Lisboa por lá voltarei. Que me agaurde mister António.

-------------------------------------

Café Restaurante Martinho da Arcada

Praça do Comércio, 3

Fone 351 218 879 259

martinhodaarcada@sapo.pt

www.martinhodaarcada.com

Couvert 8 euros

Queijo da Serra 8 euros

Queijo de ovelha 5 euros

Bacalhau espiritual 14.5 euros

Bacalhau Martinho 25.5 euros

Adega Mayor 26.5 euros

Porto Santa Eufêmia 9.50 euros dose

Café 1.75 euros curto