Cultura

TF PUBLICA 12ª CRÔNICA EM SEU LIVRO LISBOA COMO V NUNCA VIU NO WATTPAD

Leia essa e outra crônicas crônicas pelo aplicativo de literatura wattpad
Tasso Franco , da redação em Salvador | 02/05/2020 às 11:38
Igreja de Santo Antônio onde era o antigo solar dos Bulhões, em Lisboa
Foto: BJÁ
  Publiquei neste sábado a 12ª crônica no wattpad sobre meu livro "Lisboa como você nunca viu - A Pensão do Amor" mostrando aos leitors o local onde nasceu o glorioso Santo AntÔnio (no português de Portugal escreve-se António com acento agudo no o) na Freguesia da Sé. 

  Veja abaixo crônica na integra:

 LOCAL ONDE NASCEU ANTÔNIO, SANTO CASAMENTEIRO DE LISBOA E DA BAHIA


Desde pequeno que ouço falar em Santo Antônio. Na praça onde nasci tinha um homem alto e corpulento chamado Antônio. Era um Nunes, mas, o povo dizia ser Antônio das Bombas de Bater. Na época dos santos juninos - Antônio, João e Pedro - lançava umas bombas cobertas com bréu na parede de um armazém onde vendia ferros de construção que acordava o bairro de nossa aldeia. Meu pai dizia: - Não se apavorem que é Antônio acordando os santos. 

Na sede da minha aldeia e santa de maior devoção era (e é) Sant'Anna, a avó de JC, mas, num distrito chamado Chapada havia um Antônio devoto do santo de Lisboa e Pádua, apelidado Totonho, era grande porém também chamado de Totonzinho da Chapada, o qual ergueu uma capela distrital em louvor ao santo. A imagem veio da Bahia, asssim se falava da capital Salvador quem era do interior, e chegou de trem, abençoada.

Anos depois, na minha fase construtor tive um pedreiro que se chamava Fernando, por coincidência, morador da Chapada, da rua que corre à esquerda da capela. Na real, Santo Antônio se chamava Fernando. E, anos mais tarde, tive uma colega repórter, uma Maia, da Chapada Diamantina, que usava uma imagem de Santo Antônio pequenina, entre os seios, de cabeça para baixo, para dar sorte no casamento. E deu. Casou-se depois desse milagre, ainda que bonita fosse e não precisasse de ajuda santificada. 

Santo Antônio é, pois, o santo casamenteiro na Bahia e no Brasil. Em Lisboa, manda a tradição que os jovens casaidoros, ou que estão preste a casar, no dia do casamento visitem a igreja de Santo Antônio, rezem e deixem flores para o santo que é o intercessor dos recém casados. Se você se dedicar ao trabalho de verificar essa usança vai flagrar muitos jovens com flores entrando no templo. Hoje, menos, porque os portugueses são europeus e estão a casar em menor quantidade.

Conheço Lisboa desde o início dos anos 1980 quando trabalhava na Telebahia e fui a Europa pela primeira vez. E tocamos violão e bandolim, eu e outros baianos, num bar que se chamava Cacique, homônimo do existente em Salvador.

Nesses 40 anos que se passaram já retornei a velha e querida cidade várias vezes e até escrevi um livro intitulado "Tenente-Coronel Santo Antônio da Bahia", em 2012, com ilustração do pernambucano J. Borges, dedicado ao frei Ruy Lopes, por sinal, hoje, titular da Diocese de Caruaru após uma temporada em Jequié, mas, nunca tinha ido a Igreja de Santo Antônio, onde era o solar dos Bulhões e local onde nasceu. 

Uma falha imperdoável e olhem que fui a Lisboa, na dácada de 1990, pelo menos duas vezes, acompanhado de Antônio que foi prefeito de Salvador, filho do delegado Imbassahy, católico que é e devodo do santo.

Mas, como diria Safira, o Eduardo, irmão do doutor Hamilton, "cada dia sua agonia". No janeiro deste 2020, lá vem coincidência, finalmente fui a ex-casa dos Bulhões, com minha sogra que se chama Antonia e minha esposa que tem nome de gringa Ohra, que, óbvio, sua filha é. Rezaram no local onde Fernandinho nasceu, também por mim, embora nem precissasse porque meus pecados são poucos e cabem numa cabaça menor, uma cuia que uma mão pequena acolhe.

Neste 2020, completa-se 825 anos do nascimento de Santo Antônio, filho de Martinho de Bulhões e Maria Taveira, sendo batizado na Sé Primacial de Lisboa, ainda em pé, com o nome Fernando Martinho de Bulhões. Morreu em Arcela, Pádua, Itália, ainda jovem peregrino franciscano menor.

Por pouco não teria sido um santo mártir como outros franciscanos que tentaram coverter turcos a fé cristã do outro lado da Europa, no Além África, e foram degolados. Uma tempestade levou o barco que embarcara Antônio para a Sicília, Sul da Itália, e daí resolveu peregrinar pelo país da bota fixando-se em Pádua.

Muitos católicos, ainda hoje, acham que Santo Antônio é um santo italiano e seus restos mortais estão na catedral que leva seu nome em Pádua. Mas, é santo portugues natural de Lisboa, 1.195. Na dúvida é chamado Santo Antônio de Lisboa e Pádua.

No Brasil, tem muita gente que acha ser um santo brasileiro e até baiano, pois, já foi padroeiro de Salvador, a primeira capital do país, destituido pelo jesuita Francisco Xavier, e há milhões de Antônios por acá. Na capital baiana, há milhares de devotos e, ao menos, três templos dedicados a Fernando: na Barra, na Mouraria e no Santo Atônio Além do Carmo.

Como chegar e visitar a igreja de Santo Antônio, em Lisboa, onde o santo nasceu, e a Sé Primacial, local do seu batismo?

É simples. Todos taxistas conhecem esses dois locais que são quase geminados. Você também pode ir de bonde ou de ônibus, mas, não perca tempo com isso.

A Igreja de Santo Antônio (no português de lá António com acento agudo no o) está localizada na Freguesia de Santa Maria Maior (Sé). Encontra-se junto à antiga Porta do Mar que existia na muralha de acesso ao interior de Lisboa medieval, e assume-se como um santuário. Ao lado, há um museu, a ele dedicado. Nas proximidades, situa-se a Igreja e Mosteiro de São Vicente de Fora, onde Fernando começou sua carreira religiosa.

Vamos então direto ao quarto onde nasceu o santo uma vez que o santuário será objeto de outra crônica. A cripta (quarto onde veio ao mundo o pequeno Fernando) tem 2m33cm de largura e 2m10cm de altura. O atual desnível provém do alteamento do solo ao longo de 7 séculos. É um local que cabe pouca gente, apertado. A demora tem que ser pouca em dias de festas ao santo. Noutros, nem tanto. Dá para orar a vontade.

Acessa-se esse local por uma entrada do lado direito da igreja atravessando um corredor, passando pela sacristia e descendo uma escadinha. 

No altar da cripta há uma lápide de 1859 com a seguinte inscrição: "Nesta casa, segundo a tradição, nasceu António que nos foi roubado pela gloriosa morada do Céu". Nos 750 anos deseu nascimento do santo o papa João Paulo II, hoje, também santo, esteve no local onde rezou.

É aberta a visitação pública. Entrada gratuita. 

Emociona os fiéis e, mesmo para aqueles que não são católicos, como é meu caso, vai-se num local e participa-se de um registro histórico da Santa Igreja. Fico, pois, a pensar, nos meus 75 anos de idade, ter pisado no chão onde Santo Antônio nasceu, eu, que, desde menimo ouço falar neste santo e nunca pensei que isso seria possível. Foi uma honra.