Cultura

LISBOA COMO VOCÊ NUNCA VIU: ELEVADOR DA SANTA JUSTA, 11ª CRÔNICA DE TF

Elevador da Santa Justa, art nouveau no coração e na alma da cidade
Tasso Franco , da redação em Salvador | 29/04/2020 às 08:56
Monumental ligando a baixa ao Carmo
Foto: BJÁ
  O jornalista Tasso Franco publicou nesta quarta-feira, 28, a 11ª crônica do seu livro "Lisboa como você nunca viu - a Pensão do Amor" sobre o Elevador da Santa Justa ou Elevador do Carmo no site de literatura wattpad.
  
   Leia a crônica: 

   Mãe e filha. Assim são Lisboa e Salvador da Bahia. Duas cidades gêmeas que se ligam por elevadores e ascensores que, na capital baiana, esses últimos têm os sugestivos nomes de planos inclinados, um deles chegou a ser chamado de “Guindaste dos Padres” pelo povo. E nosso rei, o Lacerda, já foi "Parafuso".

  Só se vão de uma cidade à outra, da baixa para a alta, ou por ladeiras caminhando ou de ônibus, bikes, motos, bondes ou automóveis. Antes, na Lisboa antiga e na Salvador colônia subia-se e descia-se, também, em lombos de burros, em cavalos selados ou em animais puxando carroças e bondes. Na Lisboa atual, ainda se vai de bondes elétricos e nos "tuc-tuc" da Tesla.

  Em Salvador, a filha, o Elevador Lacerda é mais antigo do que o Elevador da Santa Justa também chamado de Elevador do Carmo, da mãe Lisboa. E é dele que vamos falar na crônica de hoje com toda sua beleza 'art-nouveau' e imponência ligando a baixa pombalina, a rua do Ouro ao bairro da Graça.

  Saberiam vocês quem foi Santa Justa e por que o elevador da rua áurea que leva os passageiros ao Largo do Carmo tem esse belíssimo nome fantasia? 

  Ora, poderia ter sido chamado de Elevador Mensier em homenagem ao arquiteto idealista e construtor Raoul (Raul) Mensier de Pousard. Assim é o Lacerda. Tem o sobrenome da família do seu idealizador Antônio de Lacerda, irmão do engenheiro construtor Augusto Frederico de Lacerda, ambos filhos do financista Antonio Francisco de Lacerda, erguido em 1873, quando o que homenageia a santa espanhola Justa, é de 1902. E a Torre Eiffel, de Auguste Eiffel, de 1910.

   Justa e Rufina eram irmãs e nasceram em Híspales (Sevilha) na época da dominação romana anos 268 e 270 e vendiam louças na feira livre quando o cristianismo nascente já tinha padres, bispos e papas. Durante um festival a Vênus, nessa época mais popular e poderoso do que Cristo, destratram uma imagem de barro da Deusa Salamana, e o prefeito Diogeniano mandou torturá-las por a terem quebrado. Eram cristãs noviças irredutíveis. Tortura até a morte. Justa foi lançada num poço; e Rufina aos leões.

  Episódio tivesse se passado, mais alguns anos teriam escapado. O cristianismo só foi adotado pelo imperador Constantino a partir de 306 que o consagrou pelo Édipo de Milão. Depois, tornou-se religião oficial do Império, desde Constantinopla a Roma, a partir de Teodósio I, em 380, pela lei conhecida como Édipo de Tassolândia. Constantino, no entanto, ficou com a honra de pai do cristianismo.

  Santa Justa era uma antiga Freguesia do Concelho de Lisboa, a menor delas, mas, a das grandes praças da baixa, e há, ainda, hoje, uma escadaria, a escadinha de Santa Justa que liga a rua do Ouro ao Chiado, onde artistas adoram fazer shows. Poetas também declamam. Não o maior deles, Pessoa, que já está morto mas andou muito por esse caminho.

  Falei até agora mais da santa do que do elevador. Nada! Uma coisa está ligada a outra.

  Vamos ao monumento. É um belo Antônio!, diz-me o taxista Pedro, "não serve para nós lisboetas, só para turistas". 

  Essa frase "belo Antônio" ficou importalizada num filme com Marcello Mastroianni e Claudia Cardinali e diz-se daquele que é bonito, mas não funciona, é impotente sexual. O povo, em sua sabedoria transferiu o dizer para muitas coisas e monumentos. No Brasil, temos muitos, também chamados de "elefantes brancos". 

   Ledo engano! O Santa Justa é um primor na arte e no encanto. O Lacerda é até mais alto e imponente, mas o Santa Justa é mais bonito, em ferro e madeira. Parece que flutua no ar na visão a partir da rua do Ouro, olhar da baixa para o bairro alto, dando a impressão que não liga nada a nada. Uma Torre Eiffel no meio de uma rua subindo para o Chiado.

  É muito mais do que isso porque liga a baixa ao largo do Carmo por um passadiço e de sua torre tem-se uma visão fantástica de parte do casario de Lisboa e do Tejo. Da Áurea, do Arco da Augusta, do povo que parece miúdo andando na Conceição, no Terreiro do Paço, quem se cima olha para baixo.

  O passadiço ou ponte que acessa o Carmo tem 25 metros. De fato, este ascensor que já chegou a ser chamado Ouro-Carmo funciona como um elevador para turistas, um dos mais visitados de Lisboa entre os vários ascensores que existem. É irmão do Elevador de Bom Jesus de Braga, de 1822, também arte de Raoul Mesnier.

   O ingresso custa R$5.30 euros ida e volta e as filas de espera duram, a depender do dia, mais de duas horas para ter acesso às suas duas cabines. Uma desce; outra sobe. Os ingressos são vendidos ao lado do elevador. É cansativo, mas, compensador. 

  Na torre há um café-restaurante para descansar as pernas e apreciar a beleza de Lisboa. Se tens boa audição dá para ouvir uma banda pop cantando na escadinha da santa mártir de Sevilha. É por ela, um dos caminhos para o Chiado, a pé, passo a passo, que por essa área anda e não usa o Santa Justa.